sábado, 16 de abril de 2016

ODE À AMIZADE...
Em "Tropical Malady" (Tailândia, direção de Apichat-Pong Veera-Sethakul) a cantora do cabaré homenageia o guarda florestal - atendendo ao pedido de um deles. A cantora destaca a presença dele na comunidade, como ser-no-mundo. O sorriso largo frente ao amigo que irá cantar com ela (e que pediu), em sua homenagem. Uma ode a amizade entre homens, e aí, só nessa cena, tendo a mulher como media(dor)a. Tudo tem um fim, inclusive a amizade, com algo atroz que lhe corta a cabeça.
a cantora o homenageia, a pedido do amigo... e ele sabe que o amigo fará mais... é pura alegria essa amizade. Pra mim, esse filme é uma homenagem à amizade entre dois homens...

ele se encontram pela cidade, se conhecem, marcam encontro... ali está nascendo a amizade.

No barzinho a cantora dedica uma canção ao guarda florestal... linda cena, inesquecível... aquele botequim, as duas dançarinas como esses programas brasileiros bregas de TV... Linda cena... O amigo vai até a ela homenageá-la colocando-lhe um colar de flores. Deve ser algo da cultura de lá.


O amigo extasiado frente a homenagem que ela faz ao guarda, e provavelmente o faz a pedido dele... Deve ser algo de lá... O amigo pede à cantora esse favor. Ele sobe e canta....

Agradecendo a cantora por atende ao seu pedido, e anunciar ali a presença do guarda florestal.


Uma linda voz...

Os dois cantam...


a abertura do filme...

[Hiran Pinel, em citando, referendar].

[Cada vez que eu assisto esse filme, novas descobertas, novas análises. Isso é obra de arte]
Em junho de 1939 o Sião ou Siam, mudou de nome para Tailândia. De fato, já era comum ao povo dizer "Muag Thai" que significa "Terra dos Livres"...




O PAGAMENTO IMPOSSÍVEL DO EXPERIENCIAR: COGNIÇÃO ENCARNADA [OU AFETIVA OU EMOCIONADA OU DESEJADA] IN "E SUA MÃE TAMBÉM" 
"E sua mãe também..." (México, 2001, de Alfonso Cuarón) narra dois amigos abastados, Júlio e Tenoch, jovens adolescentes, que se sentem desamparados, pois as namoradas foram viajar. Na procura de algo do que fazer, vão a uma festa de casamento e lá conhecem uma linda mulher chamada Luisa, espanhola, casada com o primo de Tenoch, Jano. Eles inventam que estão indo a uma praia paradisíaca chamada Boca do Céu, só pra seduzi-la. Luisa, que descobriu que o marido a traiu (ele mesmo confessou), resolve ir. A partir daí torna-se um filme de estrada (rodie movie), pelo interior (alma) do México, com populações pobres. Assim, a vida dos três juntos acontecem mediante esse contexto cotidiano do povo mais humilde, além das questões de violência do México (devido ao tráfico) e as políticas neoliberais do pais, e o modo como o diretor faz isso, é de uma beleza inigualável (eu exagerando kkk). Durante a viagem eles transam com ela, fazem revelação e desvelam uma espécia de bromance, ciúmes um do outro, e Luisa captura isso. Eles encontram a tal praia, com o mesmo nome - coincidência, pois a origem foi uma mentira. Passam a viver ali, na boca do céu, na paz... Mas eles não estão em paz, e o povo que os recebe muito bem, também desvela as injustiças dos empresários em fazer dali um resort. Numa noite, os três fazem uma festa - eles dançam juntos e se sensualizam. Um conta que já "comeu" a namorada do outro, e outro que fez a mesma coisa com a mãe psicóloga do outro (os psicólogos são adoravelmente liberais kkk racinha kkk) Eles se misturam, um na procura do outro. Os três vão pra cama, e Luisa, no momento chave do filme, aproxima os dois rapazes que se beijam e fazem sexo entre si. No dia seguinte, eles fazem vômitos pelo vivido, negando aquilo tudo de luxúria. Vão embora, e Luisa resolve ficar... Frases lindas... Eles não se vêem por um ano. Num dia, por coincidência, tal qual a praia encontrada, os dois se aproximam em um bar, e vão tomar café. Tenoch conta que Luisa morreu um mês depois, pois estava com câncer, e ela sabia disso - nós, os espectadores já sabíamos. Tecnoch quer pagar o café, eles não vão se ver mais, nunca mais. Um passou numa universidade, e o outro, em outra. Júlio diz que ele mesmo paga o café. Tenoch vai embora, e Júlio espera ele passar pela vidraça. Olha pro amigo e abaixa cabeça, visivelmente apaixonado por ele, mesmo os dois tendo outras namoradas atualmente. Júlio levanta a mão e diz ao garçom: "- A conta, por favor".... kkk Júlio não sabe, mas tem coisa na vida que está na ordem do impagável, seu destino agora é repassar essa aprendizagem para outros amigos, ampliando a experiência de sentido, a alma do aprender e do ensinar.... Só assim, Júlio quitará a dívida, e o dinheiro nada vale nesse processo vivencial. Não é algo neoliberal ou da ordem do capitalismo, mas do vivido, da cognição encarnada/ afetiva.

[Hiran Pinel, autor; em citando, obedecer as normas].

conhecem Luisa.

crises nas estradas, nos motéis e a descoberta de um bromance

transando a três

Luisa facilita aos dois o conhecimento encarnado.

tentando pagar algo que está na ordem do impagável - o experienciar... "Me dê a conta", ele diz. No Brasil seria: "A conta, por favor".




MICRO PRÁTICAS DE RESISTÊNCIA FRENTE AO CAOS: O mundo está em caos, um avião está pra cair e matar todos e todas, tal qual uma nação em desgraça política, mas Pedro Almodóvar narra a possibilidade de uma prática de micro resistência, de lutas, de enfrentamentos dos mais sutis aos mais explícitos. Em meio a essa tragédia, os três aeromoços desvairados daquele avião, se propõem a implantar um clima de morrer em paz, sorrindo, alegres - ter uma vida, mesmo diante da morte que os espreitam. Eles resolvem fazer um show dublando uma música de sucesso, com caras e bocas. Em fim, chutam o balde, provocam as auto revelações das vidas privadas, seus esvaziamentos e a paz interior obtida etc. Isso em "Os Amantes Passageiros" (2003). 

[Hiran Pinel, em citando, cumprir as normas bibliográficas]
AMOR E INVASÃO DO SEU PAÍS POR UM OUTRO...
No filme "A Insustentável Leveza do Ser" (1988, de Philip Kaufman) encontramos muito da atualidade vivida, hoje, agora: Acontece a invasão russa contra a Checoslováquia, e no país há esse clima de tensão política que paira sobre a capital, Praga. Entretanto, dois amantes se preocupam apenas com eles, mas eles sentem que o mosaico social e histórico, prestes a contaminar suas micro existências está ali, na cara deles, se dispõe estouras-lhes os miolos. Mas eles amam apesar de toda opressão e injustiça, amam contra a corrente. Acaba sendo esse amor, e o modo dele ser vivido, algo consequencial à guerra, contaminado por ela, um grito de resistência, uma espécie de enfrentamento - mas como descanso na loucura. Mas uma hora é preciso partir para a ação amorosa pelo país, pelo seu povo, que também carece de amar assim, e que sabem que o melhor do amor, o mais grandioso e prazeroso, é na paz. O livro é melhor, mas o filme é lindo. Lindo pra um filme, é tudo de bom e do bem.

[Hiran Pinel, em citando obedecer normas bibliográficas]
TIPOS DE POLÍTICAS DE ESTADO E PROCESSO DE SUBJETIVIDADE...
Uma mãe não tem condições de cuidar do seu filho e o entrega a uma escola internato que treina meninos abandonados e rejeitados a serem artistas populares na China. O menino Douzi tem um dedo a mais na mão e não é aceito pelo instrutor da escola, a mãe corta com facão o referido dedo, e joga o garoto na porta da escola, lá ele conhece Shitou.
O filme narra a vida desses de dois meninos que chegam a ser maiores estrelas do país, começando em 1924, passando pela participação de China entre os Senhores da Guerra, ocupação japonesa, vitória comunista, revolução cultural em 1975, seu fim em 1977 e o impacto desses momento históricos na produção da subjetividade.
La dentro, junto com Shitou, ele é treinado a ser ator e cantor com finalidade de um dia ser estrela da Ópera de Pequim, isso em um único papel, o feminino, de concubina, por sua aparência física de mulher. Recordando: mulheres não participavam da Ópera. Na ópera, seu papel de amante exige um rei, e esse será seu parceiro o menino rústico Shitou, machão, rústico. A peça na época já era um clássicos das óperas, e há muito não é representada de modo adequado, pois faltavam artistas de gabarito. A peça se chama "Adeus Minha Concubina", que tem o mesmo título do filme de 1993, direção de Chen Kaige, produção chinesa.
Eles ficam famosos na China com essa única ópera, riquíssimos e populares, mais do que os políticos, e isso incomodava. Eles desvelam aos espectadores o modo como os diversos tipos políticos de Estados interferem e intervêm na produção da subjetividade - na vida privada, no cotidiano, ser forte, ser frágil, ser homem, ser mulher etc. Isso traz consequências, por isso tem ainda o vício, quase nacional, de ópio, bem como a dureza da desintoxicação - é um inferno. Tem mais: aos modos de ser alcaguete e "dedo-duro", delações, era época disso. Delatar era a regra imposta pelo Estado - todos delatavam todos e todas, ricos e pobres - criava-se um clima paranoico. Tratava-se de um clima subjetivo (e objetivo) de delação intensa no governo de Mao Tsé Tung. Os dois atores, de fatos, eram burgueses, alienados, por isso delatar era obrigação (estamos no comunismo, recordam?), o filho deles os delata, pois a estética artística dos pais adotivos (atores) era burguesa. Shitou delata a prostituta Juxian, já que prostituir é coisa da burguesia. Todos são expostos publicamente em praça, como num jogo de interesses do Estado mandar recado ao povo: "se famosos são delatados, quem são vocês para não o serem?" kkk
Ao final, misturado no personagem, Douzi se apaixona pelo rei, e tudo isso lhe pira o cabeçote kkk. Naquele novo painel político da "Camarilha dos Quatro" e em um novo governo que se instaurava, a concubina (Douzi), no seu papel de passiva, com seu drama de existir rejeitada e trocada por uma "simples" prostituta, não aguenta mais, e faz o que na ópera lhe indicou sempre.
O rei (Shitou) a tudo assiste passivo, em desespero e angústia. Mas viver como sabemos, não é lá essas coisas e ao final, ele pode ter aprendido isso.

o treino de ser mulher, ser ator/ atriz de uma única ópera na Ópera de Pequim... 

um homem rústico, futuro rei na ópera

no auge, na glória dos dois. O estrelato.

a prostituta interpõe entre os dois com uma ética estética inigualáveis...

terça-feira, 12 de abril de 2016

FÃ CLUBE...
PERFIL
Name: Chutavuth Pattarakampol
Thai: จุฑาวุฒิ ภัทรกำพล
Apelido no Ocidente: มาร์ช (March)
Nascimento: March 21, 1993
Nascido: Bangkok, Thailand
Altura: 1,76cm
Estuda: Chulalongkorn University: Faculty of Economics
Outro trabalho: Host of Play Channel
Twitter: @marchutavuth
FILMES
The Swimmers (2014) - Perth
Seven Something (2012) (cameo) - Himself
Home: Love, Happiness, Remembrance (2012) - Ne
TELEVISÃO
Hormones The Series, 1a (2014) e 2a temporadas (2015); como Phu
Hormones: The Confusing Teens (2013)
U Prince Series (2016)
The Taste of Love (2013)

e tem mais trabalhos na TV...






MÉTODO EXPERIENCIAL DE PESQUISA: FALANDO DE SI, JUNTO AO OUTRO, NO MUNDO
Alguns metodologistas incluem como método, o "método de pesquisa experiencial", no caso a descrição e narrativa de uma experiencia de si, junto ao outro, no mundo - um relato de prática por exemplo, mas dentro do clima experiencial, como algo que toca e clama por conhecer as subjetividades envolvidas no evento. Esse tipo de investigação tem um veio fenomenológico existencial, donde o pesquisador relata suas experiencias vividas (fala de si), que tocaram seu ser, como ser-no-mundo. Isso tudo em um estudo científico. A ferramente mais utilizada será é o auto-relato, mas pode usar fotografias, desenhos, diálogos, vídeos, poesias, até gráficos (ex: quantas pessoas atendeu, por sexo, escolaridade etc.) etc. O pesquisador descreve as coisas concretas e descreve/ narra com rigor suas impressões subjetivas acerca do SEU vivido - já que ela falará de si mesma, o si envolvida existencialmente da experiência de sentido, aquilo que ela fez em algum momento da sua vida e que a tocou, e que trazendo pro corpo da pesquisa, contribui com reflexões de sentido para sua ciência, outras e os seus potenciais ledores. Ao falar de si deve recordar que é ser sendo junto ao outro, no mundo. Deve falar do outro (colegas, professores, alunos etc.), deve citar autores que iluminam sua prática descrita e narrada. Eu prefiro que o orientando escolha um único autor, e Paulo Freire, por exemplo, ajuda muito, especialmente aquele Vocabulário de Paulo Freire... Tá ok? Um respeitoso abraço.... 

[Hiran Pinel; em gostando, pode copiar, mas cite corretamente o autor e referencia-o].
March Chutavuth Pattarakampol
Ator, 21 anos de idade, Tailândia
Maiores sucessos: "Hormones The Series", série da TV tailandesa, e a película "Os Nadadores" (filme de terror). Tem mais trabalhos dele... Trabalha muito, e muito bem, brilhando como ator, sendo inclusive premiado. Começou fazendo propaganda.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

ALMA DO NOSSO PAÍS...



Acabei de assistir ao documentário "Cauby; começaria tudo outra vez" (2015, direção de Nelson Hoineff). Resgata parte da vida criativa - privada e pública - do cantor Cauby Peixoto. Desvela Cauby cantor de rock, boleros, no cinema estadunidense, cantando Conceição, Começaria Tudo Outra Vez, Bastidores etc. Rasgado pelas fãs. 

Na pré-adolescência transou com rapazes, e que depois partiu ele para garotas, dando às vivências gays um sentido de ritual de passagem, como se ele estivesse na Grécia antiga kkk Ele não dá conta, pra si, desse tema. 

Elogiado e bem narrado pelo biógrafo. Maria Bethânia fala elogios. Outros artistas, compositores, amigos, críticos rasgam elogios à estrela.

Fiquei esperando sobre de Di Veras, seu empresário, e dizem, "algo mais", ou o que isso significa. Di Veras já morreu, era rico antes de ser empresário de sucesso e respeitado no meio, era empreiteiro também de sucesso, e que, se lhe teria feito um imenso bem profissional, o fez um grande mal financeiro - teria vendido propriedades de Cauby e a estrela não viu a cor do dinheiro. Ele diz que Di Veras foi tudo pra ele, e que sem o cara, ele não seria Cauby, Cauby kkk O apartamento aparece, retratos do artista, o narciso indispensável de quem foi um ídolo nacional, amado, rasgado. O quarto simples, arrumado pela fã que o acompanha sempre. Roupas brilhantes com paetês, miçangas etc.

A voz em off diz que Di Veras tem filhos. Para quem sabe ler, um pingo é letra kkk Não pode falar - achei isso. Cauby foi o maior ídolo naquele determinado período, logo deveria ser, pelo menos, remediado em termos $$. Ele elogia Di Veras com um sorriso largo, e traz uma peruca, que é imensa, feminina e masculina a um só tempo, assim como sol-chuva forma um arco-íris - como artista, ele é o nosso orgulho. 

Ele sendo maquiado me deu uma melancolia de alguém que foi uma grande estrela do Brasil - e que ainda guarda essa aura, esse esplendor -, a cara desse país, e ele diz que gosta de vestir como artista, pois o público merece - leia-se, muitos brilhos etc. Esse respeito ao público é lindo demais. Di Veras foi apenas uma parte de si nesse filme, mas pelo rosto do artista, sua voz e evidente solidão, ele é a alma dele mesmo, esse lindo cavalheiro de nossa honra, e se mantém intacto no filme, é a estrela total, seguindo talvez o espírito de Di Veras. 


Tocante escutá-lo: "Conceição", ao afirmar que hoje daria um milhão para ser outra vez si mesmo; "Bastidores" que Chico Buarque fez pra ele: lá fora, doidos e febris, os homens se resgam por ele; "Cauby, Cauby" de Caetano Veloso que descreve a percepção de um ídolo por outro: "Meu amor proibido, eu te vejo chegar. Música doida, carícias no ouvido: Cauby! Cauby! Cauby!". Quase ao final, ele se desvela como humano cidadão: "Eu sou apenas um artista, nada mais". Pôxa Cauby, você é uma das almas desse país, você chega e tudo vira luz, alegria, sonho, delírio e a certeza que somos finito, por isso apreciamos sua doce e cálida (pré)sença.

Ao final reconhece que "começaria tudo outra vez"... Uma estrela que parece sempre renascer com ou sem Di Veras. Mas o negócio é a solidão, num é? Mesmo as grandes estrelas sofrem desse mal dos trópicos... kkk





A LEITURA DO OUTRO, PARA MELHOR CONHECER-ME...
Curta metragem, de 14 minutos, "Antes de Palavras" direção de Diego Carvalho Sá. 


Minha sinopse 

Três personagens - dois rapazes e uma moça - estão no colégio, que me parece privado kkk Tudo bacaninha, alunos amam ler... kkk Prédio novinho... Tá bom, tem escola pública assim... Tem mesmo... Mas eu acho que é privada, o jeitão dos protagonistas, uniforme... Tudo muito branquinho... Ah... sei lá... kkk Tem uma biblioteca organizadinha demais, e com uma bibliotecária fascinante, ela não interfere no desejo de ler dos seus usuários, ela escuta e viabiliza esses desejos, devires. 
Um sujeito ledor, Célio (ator: Maurício Destri), está fixado em um livro, é um sedento para conhecer. Com a namorada Sofia (atriz:  (Marcella Arnulf), observa um colega ledor Dario (ator: Henrique Larré), novo na escola, com sorriso e olhar sacanas. 

Célio é o olhar de sentido - um para o outro chamado Dário. Quem anuncia esse outro-novo é a própria namorada dele, a Sofia - "ele é novo aqui". Os dois abraçadinhos - namoram os lindos -, o outro está só, ops... bem acompanhado por um livro. Os três estão solitários, mesmo juntos...
O corpo de Célio está curioso, como é curiosa a sua leitura do livro - curioso que é-sendo. A partir disso, ele vai à bibliotecária, e por um acaso, ele vê Dario entregando o livro que ele acabou de ler. Então, de modo impulsivo, sempre pede à bibliotecária o livro que o outro leu, sempre. Interessante, será esta curiosidade um ato em busca do "conhecer de sentido" o conteúdo do livro, com isso levá-lo até a Dario e Sofia. A leitura do livro é bastante cognição, é algo organizado para o leitor, e o conteúdo costuma (co)mover pelo afeto que provoca - é preciso ler racionalmente, e se envolver existencialmente imbricando com o texto (conteúdo, "afetocognição" indissociados. 

Mas o dado é que todos estão nesse jogo de leituras de si e do outro (e do mundo), nesse mosaico do amor quase que se direcionando ao platônico, e ao bromance. É muita informação diz Célio, e aconselha esse experienciar à Sofia.  

Há assim, como dissemos, um desejo em conhecer aquele outro, para então conhecer-se melhor, e o Célio o faz pela via dos livros - ele é o protagonista. Não aparece os títulos das obras, mas nesse sentido, deve ser literatura ficcional, não ficcional ou mesmo técnico, o fato é que o desejo de ler/ saber move os personagens todos. São dois le(dores), a namorada não o é, mas se interessa pelo que o amor dela lê, por isso sempre pergunta: O que você está lendo?
Repetindo: Trata-se assim da leitura do outro como leitura de si. O sujeito é ser-no-mundo e se desvela nos seus "modos de ser sendo junto ao outro, no mundo" (PINEL, 2004) da leitura, do conhecimento, da curiosidade. "Eu leio os livros que o outro lê, para não apenas conhecê-lo, mas também conhecer-me, e conhecer a namorada", poderia dizer. A "coisa mesma" começa pelo olhar do interesse, e como não tem coragem de colocar no concreto relacional aquela paixão desenfreada nessa (pró)cura, Célio parte para o conhecimento tranquilo e possibilitador de novas experiências... Como bons leitores, ambos são metódicos. Mas é bom recordar que se os livros dão pistas dos leitores, esses dispositivos não são o real, não são o concreto da relação interpessoal e social.
Eles se esbarram uma única vez na escadaria da escola, e nada dizem - mas os corpos falam kkk. Fazem leituras cujas trajetórias podem ser narradas como meticulosas e desejantes - a paixão em ler os une. Amor, conexão, novos conhecimentos de sentido, empatia. A razão encarnada, o amor e a amizade misturados, algo platônico, me parece, está movendo o "conhecimento de sentido". A via primeira da curiosidade é o olhar como parte do corpo todo, da alma, da mente. 

A namorada sente tudo que está acontecendo - uma amizade, um bromance, algo profundo, algo platônico -, já o namorado não, ele está muito envolvido existencialmente com o outro (livros, Dario, e a própria Célia) e envolvido com o estranho a ele, o amor por um homem. O interessante é que ela acaba fazendo a ligação entre os dois, mesmo que fique angustiada por estar perdendo tudo. Além dos livros, os dois gostam do mesmo estilo de música, ou a mesma. 

No começo desse curta maravilhoso, o namorado está preocupado com o futuro. Ao final, interrogado pela namorada acerca desse tema, ele diz que não, e meio que sustenta a relação com Célia, ele não se preocupa mais, está desejando ficar ali, com os dois, no presente - nada do futuro. Acho que ele deseja entregar-se ao presente. Ao final, ele diz para não se preocupar tanto com o futuro, mesmo que seja o fim do mundo. Ela se acalma. Célio vai à biblioteca, e nela enxerga Dario. Ele olha (esse é o seu meio de prazer), vai andando em direção ao rapaz, e lentamente o toca, o conhecimento concreto do outro é outro, diferentes das leituras. Nunca isso ocorreu entre os dois, um tocar consciente. 

Célio vai e toca Dario - recordam do olhar sacana dele, pois é, e o bote? Ele pode agora dá-lo. O fogo pode pegar, mas temos que imaginar. Aí está a beleza desse filme, a gente pode imaginar, criar, inventar. E nesse filme, me parece que a amizade profunda (platônica) é um fogo que se arde sem se ver, pois é amor.

Sabe, esta é uma obra de arte aparentemente fragmentada, mas é tudo planejado kkk E nesse contexto o final dessa película é surpreendente, pois cheio de (im)possibilidades para nós os fãs da película (tal qual os fãs dos livros), os pesquisadores como eu sou do tema "cinema, educação e inclusão" etc.

Célio e Sofia, apaixonadinhos da silva sauro kkk

NOTAS:
A moça (namorada) é o contraponto, fazendo a linha daquela que engole o vivido neoliberal, gostando das músicas do momento, por exemplo. Ela condena a música que os dois escutam, parecendo ser música alternativa.
Três excelentes atores, música minimalista (igual ao todo dessa obra de arte), direção segura, fotografia e iluminação perfeitas.
Parecido com as séries tailandesas, mesmo bom gosto e delicadeza em abordar a adolescência e seus dilemas, sofrimentos, dúvidas, passagens, solidões.
A bibliotecária, vamos dizer, a coadjuvante, tem um papel primordial: ela viabiliza os livros, sem interrogar, sem intrometer. Ela viabiliza a leitura. Nem toda bibliotecária é assim, nem toda... Nesse filme ela estará sendo idealizada? kkk
Sabe o que eu acho? Vai dar um longa, tal qual ocorreu com o curta "Hoje Não Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro.

Dario, sorriso abusado, e pode dar o bote de inventar novos modos de ser amigo platônico com bromance.

O filme já foi premiado em alguns festivais e já passou em mais de 25 países.
 O ator Sakda Kaewbuadee deixa suas marcas na calçada da fama em Tailândia... uma estrela... Eu adoro a interpretação dele em "Tropical Malady" (2004, de Apichatpong Weerasethakul). Também em Tio Boonmee (Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives).








"Malady Tropical" (2004; ou: Sud pralad) - "Mal dos Trópicos" ou "Febre Tropical" OU: "Doença Tropical". Em thai é: " สัตว์ประหลาด ", que significa "Monstro". Direção: Apichatpong Weerasethakul



MINHA SINOPSE: Keng (ator Banlop Lomnoi) é um soldado em uma aldeia tailandesa tranquila, onde os dias se desenvolvem com lentidão metódica, sua área de atuação são as florestas, comenta-se que há um animal matando o gado da região, cortando-lhes a cabeça. Não acontece muita coisa de interesse, até Keng encontrar um rapaz local chamado Tong (ator Sakda Kaewbuadee), e os dois começam um romance impregnado de amizade, um bromence, diríamos hoje. Então, em um movimento surreal, típico do diretor Apichatpong Weerasethakul, irrompem os estilhaços de um cinema altamente provoca(dor), desembocando em uma história sobre um soldado (também o ator Lomnoi) procurando por um rapaz perdido na selva e conhecer um espírito irritante (também ator Kaewbuadee) e descobrir algo de si, do/ no outro, em um mundo doente de solidão sendo uma praga epidêmica. Há assim uma linearidade, e não um fragmento como dizem alguns estudiosos e críticos dessa película cultuada por inúmeros cinéfilos. Sentimentos, carne, espírito, alma, memórias...





SOLIDÃO: O MAL DOS TRÓPICOS...
Tropical Malady (Tailândia, 2004, de Apichatpong Weerasethakul ou "Apichat Pong Verassetacul"): Dois homens jovens se conhecem - um é guarda florestal, o outro jovem trabalhador rural. Algo estranho está acontecendo na floresta: as vacas estão tendo suas cabeças cortadas. Apesar disso, os dois se encontram, e surge a empatia. Estabelecem uma profunda amizade: ficam juntos em tudo que fazem. Vão ao um bar musical onde acontece a linda cena da música - o trabalhador canta em homenagem ao guarda, mediado por uma cantora do local. Tudo acontece indicando que os dois vão se separar, está acabando as férias do policial. No meio do filme, um se despede do outro, numa estranha forma de afeto, que afeta aos espectadores - o soldado lambe os dedos do outro. O trabalhador adentra uma floresta (cabeça podem rolar), o soldado vê, fica passivo, como se isso fosse o destino deles. A noite, o guarda fica angustiado com a ausência do amigo, e sai a cata dele (do outro e de si). Na floresta, com seus temores e mistérios, acontecerá a magia da descoberta desse si no outro, (co)movido pela natureza agreste. A cabeça do amigo pode ser cortada, a amizade também. Um filme maravilhoso, é uma ode à amizade íntima de sentido, mas donde se desvela que o adeus sempre vem - pela via da morte concreta e ou simbólica - abandonos -, e essa é a doença dos trópicos, uma síndrome pandêmica chamada "solidão".

O QUE ESCREVI AGORA:
Filme lindo demais esse Malady Tropical (2004, de Apichatpong Weerasethakul). Trata-se de uma ode à amizade masculina. Um tema provocador, uma Tailândia linda, agreste (e urbana) e que nos convida a conhecê-la para sentir a nação... Um filme, repito, sobre AMIZADE, tema raro no nosso cinema Ocidental, pelo menos com tamanha profundidade. Uma direção perfeita pelo experimentalismo, por isso algumas pessoas, acostumados a um cinema hollywoodiano podem estranhar. A interpretação soberba dos dois atores, marcada pelo naturalismo existencial... Assisto o filme, e a Tailândia se amplia na minha cabeça, torna-se mais linda, moderna e pós-moderna... Obra de arte. ARTE.


1. [Hiran Pinel, autor... apaixonado por esse filme, desde seu lançamento]

2. [Textos produzidos em momento diferentes, e a percepção sempre é outra, mesmo quando eu me proponho fazer a sinopse que é sempre UMA sinopse, nada definitivo, tudo incompleto, devir]

domingo, 3 de abril de 2016

NASCE UMA ESTRELA: Cena com a estrela Pannin Charn-Manoon (ou: Pineare) da série tailandesa "Love Sick The Series" representando a protagonista Yuli, namorada de Noh, e amiga de Phum... Essa série foi baseada no mangá "Love sick: A vida caótica dos garotos de shorts azuis"... Imagens da segunda Temporada, capítulo 26... Que rosto... Que atriz... Que star...


A talentosa e belíssima atriz tailandesa na pele de Yuli. No restaurante ela vê entrar Noh (ator Captain) e Pum (ator WhiteWo)... A humilhação, a decepção... Encontrar com o ex-namorada que a abandonou, justamente estando ele com sua atual paixão. 


A cara de cinema dessa jovem e talentosa atriz vivendo Yuli namorada de Noh e que era amiga de Phum... 


Yuli se levanta e sai... Ela passa perto de Noh que estava até abraço com Phum. Observem que as pastas escolares de ambos têm o bonequinho que compraram pra comemorar o amor... O songamonga do Phum está aterrorizado, e tratou de tirar a mão do ombro de Noh kkk Mas não sou tolo, sei que é o moralismo de nossa sociedade, nossa cultura. A construção de que amar é sofrimento e de que arranjar um outro, seja traição, repetimos, é uma construção social e histórica, na cultura.



[Hpinel; imagens que eu copiei do seriado original, com legendas em espanhol.].