"PAPER"
REVISTO E AMPLIADO, EM 14 JAN 2023
Hiran
Pinel, professor-titular UFES/PPGE
*
UMA PEDAGOGIA EXISTENCIAL INDISSOCIADA À PRODUÇÃO
DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
Hiran Pinel, autor.
.
INTRODUÇÃO
Minha
ação aqui-e-agora, é esboçar um texto científico fenomenológico (FORGHIERI,
2001), um texto tipo "paper", mas um ("paper") no sentido
estrito do termo: apenas um "rascunho". Um texto que precisa
"caminhar" mais, procurar mais rigor, em perder o cuidado, por sinal,
um bom cuidado pode ser rigoroso.
O
objetivo desse "paper" é o de refletir os modos como eu
penso-sinto-atuo (e celebro o comemoro) o meu exercício em produzir na minha
prática* (e práxis) uma Pedagogia Existencial indissociada à produção de
práticas educacionais, especialmente em Educação Especial e Pedagogia
Hospitalar, pontuando algumas características** que podem servir de mediação
entre o professor e o aluno, no fazer acontecer uma experiência significativa,
pois de sentido, o processo ensino-aprendizagem escolar e não escolar.
* Minhas
práticas de: pesquisador, orientador de cientistas, professor, educador,
pedagogo, educador social, psicopedagogo, filósofo clínico, especialista em
psicomotricidade, clínico e formador de clínicos (terapeuta existencial)
**
Descrevi dezoito (18) delas
Pretendo
criar "um clima pedagógico-existencial próprio, com práticas educacionais
relacionadas a esse clima e estilo" - talvez esteja aí minha contribuição
(Hiran Pinel).
.
AUTORES
QUE ME MARCAM (E ME MARCARAM)
Eis a
lista de autores, ainda incompleta, mas que de memória recordo e cito
aqui-e-agora. Eles me ajudaram (e me ajudam) a refletir sempre acerca do meu
ser professor, educador, pesquisador, clínico etc. Não coloco termos, que um
dia pretendo desvelar na hermenêutica que farei do texto.
Paulo
Freire (ser mais, amorização e muitos outros), Leonardo Boff (cuidado),
Husserl, Jean-Paul Sartre (projeto de ser), Martin Heidegger (cuidado), Maurice
Merleau-Ponty (percepção do fenômeno), Martin Buber (relações humanas), Simone
Beauvoir (mulher, morte), Carl R. Rogers (empatia, tendência atualizante
revista), Roberth R. Carlhuff (relação de ajuda), Rollo May (ser), Eugene
Gendlin (corpo), Martins Amatuzzi (fenomenologia: pesquisa e intervenção),
Yolanda Forghieri (método fenomenológico; teoria da personalidade), Virgínia
Axiline, Evilásio A. Ramos (realização existencial na educaçã), Teresa Cristina
Saldanha Erthal (projeto de ser), Vírginia Moreira, Janusz Korczak, Pantillon,
A.S. Neil (liberdade para aprender), Celestin Freinet, Viktor E. Frankl
(sentido da vida), Edith Stein (empatia), Don Lorenzo Milani, G. Kneller,
Camus, Trần Đức Thảo (fenomenologia e marxismo), Vera Felicidade Almeida de
Campos, Jorge Ponciano Ribeiro, Gabriel Marcel, F. Nietsche, F. Perls etc.
GADOTTI,
Moacir. História das ideias pedagógicas. Capítulos: 11
(fenomenologia existencial humanista), 12 (pensamento anti-autoritário), 16
(terceira parte: o humanismo socialista). Tem Paulo Freire também,
"pensamento pedagógico brasileiro" (e tem da América Latina).
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RESULTADOS
E DISCUSSÃO
1. A
educação existencialista coloca muita potência no emocional, no afetivo, o
desejo e no sensível (sensibilidade) do aluno e do professor. Isso não
significa, entretanto, que se despreza o cognitivo (o racional), ao contrário,
mas defende que o "conhecimento" deve ser "(co)movido"
pelas atitudes fenomenológicas e existenciais; Nota: (co)movido = mover o
conhecimento embalado pela energia afetiva; (co) em parceria professor-aluno.
2.
Recomenda um currículo onde as artes e as humanidades tenham lugar importante e
de destaque - artes (há muitas), literatura e poesia. Não é apenas conhecer e
citar, mas trata-se do aluno "experienciar" a arte, um texto
ficcional, uma poesia.
3. Sugere
que as Ciências Humanas e Sociais são as (ciências) que estão mais próximas e
íntimas do ser humano (o aluno, o professor, a gestão escolar etc.), evocando
mudanças pessoais e grupais, afinal seus temas focais são o amor, a angústia, o
cuidar de si e do outro, e das coisas do mundo, esperança, depressão, inquietude,
saúde e loucura, ódio, crença e descrença etc.
4. O
estudo das Ciências Naturais (e matemática) deve levar sempre a humanidade
envolvida nesse processo, um ser humano finito, frágil, inconcluso, incompleto.
5. Todas
as disciplinas escolares (ou não escolares) devem conduzir e ou guiar, de modo
não diretivo, o estudante para que ele conheça e sinta o ser humano.
6. O
professor deve ser um guia, no mais próximo de alguém não explicitamente
diretivo, recusando exigir e impor algo ao aluno e ou aluna, devendo, isso sim,
ser sensível, atitude de empatia, de congruência, de aceitação incondicional da
pessoa etc., e sempre dispor, de modo natural, a respeitar a liberdade humana
(sua, de seus alunos, dos humanos em geral).
7. O
estudante pode criar e ou produzir (ou dar luz) ao conhecimento, reconhecendo-o
como resposta a situações existenciais.
8.
Considerar a política, a ética etc., como cuidado humano consigo e com o outro
(e coisas do mundo)k, pois os valores são temas de uma educação
existencialista, promovendo ações individuais e grupais vivenciais, que tocam o
existir do ser-no-mundo.
9.
Respeitar as diferenças na diversidade do mundo, e nunca negar o conhecimento
científico que possa fazer ao aluno aprender e crescer/ desenvolver-se,
envolvendo, por exemplo, o ato sentido de enfrentar o mundo adverso, cheio de
alegrias, mas também, cheios do seu outro lado, fios da mesma meada, as
tristezas.
10.
Valorizar a autoavaliação, preferencialmente a livre. Só a pessoa é capaz de
descrever o que lhe foi ensinado, e que ele aprendeu.
11. O ser
humano é "livre", ele existe no "tempo" - e no
"espaço", e tem o "Cuidado" na sua base existencial. Assim,
a pessoa é "ser-no-mundo" - é singular, plural, cultural, social,
histórica etc. A pessoa pode ser "autêntica" ou "inautêntica",
e ela é-sendo "aquilo que ela faz de si mesma". A pessoa é um
"ser de escolha", e "ao escolher, perde outras opções", e
ainda assim, "ela se responsabiliza pelo que escolheu, e "não
escolher é também uma escolha". A única certeza do ser humano é a sua
"liberdade", e ela (liberdade) "precede a essência" - ela é
existência. A liberdade está sempre se fazendo, sendo (a liberdade) a
responsável a "tocar" (motivar) a pessoa para ela "ser"
como "ser-no-mundo", desvelando seus jeitos ou
"modos-de-ser" nas suas caminhadas (singulares, plurais, e
plural-coletivas), nas suas travessias - etc.
12.
Pós-escrito: É claro que fiz esse texto marcado por diversas leituras sobre
"existencialismo na educação", e procurei manter o ensino de
conteúdos propostos por nossa cultura e sociedade, bem como pontuar o respeito
às diferenças na diversidade de ser. Há movimentos nessa esfera que coloca em
segundo plano o ensino de conteúdos, mas, pra nós, sim, os conteúdos precisam
ser ensinados, mas (co)movidos pela atitude e ou postura
fenomenológico-existencial e ou humanismo-existencial. Também revelei o ser
humano que caminha pelas suas próprias "vias" e pelos (próprios)
desvios, sendo dele a responsabilidade, mas, reafirmando-o como ser-no-mundo,
não apenas um "euzinho encapsulado". As vias e desvios são seus, mas
ao fazê-lo ele está no mundo, marcado por esse mesmo mundo, e a cultura,
sociedade, instituições, educação, justiça, saúde, políticas, democracia,
fascismo etc., que são "coisas" criadas e mantidas por pessoas que são
diversas nas diferenças, e esse "externo" aparente, tem impacto
também.
13. Até a
um milésimo de segundo antes de morrer a pessoa tem direito à educação escolar
e não escolar, esse é um dos princípios existenciais da pedagogia e das
práticas educacionais.
14. A
educação escolar e não escolar é uma educação inclusiva; a inclusão pode obter
benefícios da Psicologia/ Educação Existencialista quando se fala em disposição
(in terna e externa) inclusiva ou atitude inclusiva.
15. A
educação especial inclusiva pode se nortear pela educação existencialista, onde
os conteúdos podem ser (co)movidos pela filosofia, psicologia, pedagogia e
educação existencialista.
16. A
brinquedoteca hospitalar pode vivenciar uma dinâmica de ensino-aprendizagem
humanista-existencialista, compatível inclusive com o movimento de humanização
hospitalar
17.
"Atendimentos educacionais em ambientes hospitalares" podem estar
abertos a uma postura educacional existencialista, e muito pode contribuir com
temas presentes como vida e morte, no mesmo contínuo, por ex. Deveria haver uma
formação inicial e continuada da professora e de outros profissionais da
"saúde e educação" nessa perspectiva, a existencialista, ela que
também propõe de sentir-pensar-agir e celebrar as alegrias de de ensinar-aprender.
18. Se
fosse nosso desejo, as atitudes existencialistas poderiam ser
"aplicadas" (pois, vividas, introjetadas como postura e atitude) em
todos e quaisquer "programas/ práticas educacionais" escolares e não
escolares. Pode ser considerada tais vivências, das teorizações e práticas
humanista-existenciais, como textos que podem produzir um (ou mais) modo
sensível, algo da arte - da percepção fenomenal de si e do mundo. Esse
movimento pode e deve ser ligado ao ético (o rigor/ razão do cuidar) e estético
(o quão belo é cuidar). Trata-se de viver processos ensino-aprendizagens
fenomenológico-existenciais. Essas posturas são subjetividades, são
comportamentos, são políticas etc.
[Hiran
Pinel, autor]