quarta-feira, 9 de julho de 2025

 

"O QUE SIGNIFICA O TERMO "HUMANISMO-EXISTENCIAL?"

 

Greening citado por Gerald Corey (1983) no livro "Técnicas de Aconselhamento e Psicoterapia" (ed. Campus), nos descreve:

Enquanto orientação psicológica, o humanismo existencial combina aspectos do existencialismo e do humanismo [grifo nosso], de uma forma que reconhece as contribuições de ambas as abordagens [grifo nosso], tentando ao mesmo tempo evitar algumas de suas limitações [grifo nosso].

 

Assim, é mais positivo que grande parte do existencialismo, porém mais ciente da finitude e da contingência [grifo nosso], que acompanham a auto-realização [grifo nosso], do que alguns humanistas ingênuos em seu otimismo.

 

O humanismo existencial inclui o reconhecimento existencialista do caos, da absurdidade, da contingência, do desespero e do "lançamento" do ser do homem no mundo, onde ele, sozinho, é responsável por seu vir a ser [grifo nosso].

 

 
Abrange ainda o postulado humanista segundo o qual […] o ser humano apresenta um potencial imenso para transformar-se a si mesmo, como um impulso irreprimível para experimentar a plenitude, testando os limites desse potencial contra os obstáculos inerente à existência [grifo nosso]

 

(Greening, 1971; In: Corey, 1983; p. 72)

segunda-feira, 7 de julho de 2025

 

UM: PAPER 1

A pesquisa fenomenológica do "eu lírico" e "eu do autor real"

O título desse paper científico, refere-se à voz que se manifesta em um poema, expressando sentimentos, emoções e pensamentos - expressões corporais do ser-no-mundo, quando envolve o ser humano como protagonista-personagem, e não necessariamente correspondendo à identidade do autor, mas considerando esse "eu autor", o real do escritor.

Se, nós do Grufei* (Ufes.PPGE) formos usar o método fenomenológico, e sempre o associo com Forghieri (2001), os instrumentos de coleta de dados, que será ora o texto literário ou o artístico, ou poético, TEM que ter tema da Educação Especial numa perspectiva inclusivista na sua relação com a Saúde e Pedagogia Hospitalar, especialmente o sujeito dela - o da Educação Especial, e as provocações que fazemos incluindo sujeitos com quadro graves de saúde, como câncer (grave), pessoa que faz diálise (ou peritoneal ou hemodiálise) etc. Conheço poucas dessas ferramentas ou dispositivos provocadores de nossa descrição e análise fenomenológico-existencial do "ser lírico".

A fenomenologia, nesse contexto, busca compreender como essa voz lírica vivencia o mundo e como sua experiência se relaciona com a realidade, explorando as relações entre o sujeito e o objeto em sua expressão poética.
Como trabalharemos com o real do autor (do nosso instrumento de pesquisa), esse estudo tem muito com os métodos biográfico, psicanalítico existencial e progressivo-regressivo de Sartre, que pode sim acoplar-se, e ou a proposta da professora e psicóloga Yolanda Cintrão Forghieri.
Essa autora, acima citada, propõe em seu livro "Psicologia Fenomenológica" (de Forghieri), um projeto donde o pesquisador se propõe autorizar-se em um movimento de "envolvimento existencial" com a ferramenta da pesquisa (uma poesia, por exemplo), e ao mesmo tempo de um "distanciamento reflexivo" descrevendo o significado e ou sentido do vivido pelo personagem ("eu poiético") e pelo poeta ("eu do autor" ou "eu real").
Essa descrição do significado acaba apontando a "experiência vivida" tanto de um ("eu lírico"), quanto do outro (real poeta). Por sinal, a "experiência vivida", algo da subjetividade na objetividade do mundo, segundo o pedagogo Max Van Manen, é o objeto (fenômeno) de pesquisa (e prática) fenomenológica.
Como sempre comentamos, o método fenomenológico, se bem aplicado e com real motivação e desejo de ser existencialista do investigador científico, é ao mesmo tempo pesquisa e também intervenção, portando uma prática educacional. Mas, porque isso ocorre? Ora, como diz Roberth Carkhuff e Miranda e Miranda (1983) ninguém sai intacto de uma relação humana, seja pra mais, seja pra menos, e a sociedade tem papel nesse processo de ser algo positivo e negativo.
Uma relação interhumana (e intersubjetiva) pra mais (de qualidade), e no caso, advinda de um profissional ético e estudioso, e que se "envolve existencialmente com esse outro", termina por criar, produzir e ou inventar um clima, um estilo e um espírito psicológico e cultural de "educação afetiva fenomenológico-existencial do ser-no-mundo". Essa prática pedagógica pode ter no afeto uma simbólica energia (co)movedora do cognitivo e do corporal do ser-no-mundo, produzindo travessias, ainda que de curta duração, mas o suficiente para provocar, sonhar, criar projetos de ser não refletido, e mesmo projetos conscientes de vida.
Mas, essa afirmativa do método fenomenológico ser de pesquisa e ação educacional são o mesmo, nem sempre é aceita, justo para marca o espaço (no tempo) da pesquisa e da prática educacional fenomenológico-existencial. Principalmente para o cientista iniciante, ele corre o risco de não fazer nenhuma coisa, e nem outra. Entretanto, isso não impede de se aceite algo tão claro: estamos acostumados em não sermos escutados empaticamente, que quando o somos, por um outro qualificado, toda uma percepção do fenômeno ganha mais cores vivas e potentes de vida, de reflexão para evocar possibilidades de mudanças, caso esse seja o desejo do "outro-pesquisado" (sujeito da pesquisa), e ao mesmo tempo de "si-pesquisador" (o cientista).
Em outras palavras, a fenomenologia, ao analisar um poema, não se preocupa apenas com o significado literal das palavras, mas com a experiência subjetiva por trás delas, como o "eu" do poema vivencia o mundo e como essa vivência se manifesta na linguagem.

Diferenças entre o "eu lírico" e o "eu do autor":

  • Eu lírico: É a voz que fala no poema, um recurso literário que pode ou não refletir a personalidade do autor.
  • Eu do autor: É a pessoa real, o escritor, que cria o poema.
A análise fenomenológica da poesia busca compreender a experiência do "eu lírico" em relação ao mundo, explorando como a disposição anímica do sujeito se manifesta na criação poética e como essa experiência se relaciona com a linguagem e a construção do poema.
A pergunta do pesquisador fenomenológico do "eu lírico" pode ser, de modo clássico: O "que é", "como é" o significado vivido do "eu lírico" e o "eu do autor"? No caso, o cientista descreve e compreender (analisa ou interpreta) e descreve o autor, também analisando-o algo do real, disponível ao pesquisador ou investigador científico.

Exemplo em Educação Especial numa perspectiva inclusiva

Vamos esboçar uma ação nesse tipo de pesquisa sugerindo a descrição e nesse caso, o pesquisador deve colocar na pesquisa o texto inteiro, se assim for; ou trechos, trabalhando só com partes. Depois de descrever, analisar fenomenológico-existencial o personagem, e depois associar com o autor real (concreto): o texto representa o autor ou não? O que é isso? Como é? Qual o significado vivido por ambos, personagens e autor real? - dentre outras questões.
Vamos pegar um dos nossos temas na tocante "Carta da Corcunda para o Serralheiro" é um texto pungente, cheia de autocompaixão, baixa estima por si, mas com uma vontade alegre e prazerosa da sensualidade romântica e sexual. Um texto onde podemos perceber uma elegância que nos toca pela impossibilidade, pois é um desvelar sincero da personagem protagonista.
Bem, vejam que complexo essa pesquisa, o texto nos fala de uma jovem deficiente e suas agruras e desejos de ser amada sensual e sexualmente (inclusive, romanticamente). O texto é de uma autora portuguesa chamada Maria José, mas esse é um nome que o poeta (famoso) Fernando Pessoa criou para si, o único feminino, pois outros inventados por ele são masculinos.
A alma de Pessoa na pessoa feminina, carente de sexo e paixão, mas com uma vergonha imensa do corpo, um corpo "aleijado" que a sociedade tem piedade, compaixão. Ao mesmo tempo, Pessoa aponta a falta que fazia, na época, a presença feminina como escrito ficcional.
Mas, a personagem deseja ser "com+paixão".
A protagonista Maria José também pode ser inserida na nossa seara da Pedagogia Hospitalar, pois é tuberculosa, em um tempo sem tratamento e cura, com um sofrimento final intenso com vômitos de sangue, por exemplo. Para se ter uma ideia, podemos citar um autor que gostamos, que morreu assim: Vigotski, psicólogo educacional escolar.
A essência do texto poético-literário percebemos: "(...) eu tenho direito de gostar mesmo que não gostem de mim"
Em um poema que fala sobre a falha na estima de si, de um ser-no-mundo Maria José, um único heterônimo feminino de um homem, o renomado modernista Fernando Pessoa. Maria José é um ter piedade de si, mas um um mundo concreto das exclusões de humanos que ousam fugir a uma estética mas média, oficial, comum, moda.
Maria José, no tentando, tem outro "eu lírico" pautado pela assunção de um corpo que clama por sexo: clamor por sexo carnal, mas também sensualidade e romance. Ela expressar uma estima baixa por si, permeada por uma tristeza infinda, trazendo à lume sua forma lírica de ser densa, tensa e intensa.
Maria José vai além dessas vivências, ela é a própria dramaticidade dela ser (no mundo) que nos provoca a nos interrogar de diversos e "múltiplos modos existenciais": Há hoje em dia alguém como Maria José? Eu sou amado? Na minha idade e na decrepitude do corpo tenho desejos sexuais por alguém, e esse alguém me sacia ou me rejeita pela feiura que sou? Será que eu tratando bem esse alguém, protegendo-o e até pagando como um puto, esse alguém me deliciaria com sexo, puramente isso, sexo? - dentre outras perguntas.
Nem que se proponha um sexo mais leve possível, o outro não deseja... O "eu poético", entregue a desesperança, desvela uma Maria José que pode ser "meu eu", "nosso eu" - um desejo nunca saciado na juventude pela autoestima baixa de um corpo deplorável, mas que hoje percebido tê-lo sido belo, sem nenhum "defeito" (?) explícito como da "coitada" (?) da Maria José - coitado de mim.
O que o "eu poético" dessa deusa de linda carta de amor sexual nos ensina, é que todos temos o direito de amar uma pessoa, ainda que elas não nos ame, e mais ainda: amar uma pessoa que nem sabe desse nosso amor, e nem nos conhece, pois o vemos e sentimos apenas pela "janela lateral do quarto de dormir", cantava Milton Nascimento. Maria José é amor unilateral, pois nem desprezá-la o senhor António o faz, ao contrário, pois um dia a olha na janela, como Carolina na janela, parafraseando Chico Buarque.
No caso, para prosseguir precisaria de conhecer a biografia "real" (ele é um e muitos) de Fernando Pessoa. O que eu sei, de modo vulgar, é que ele era homossexual, mas dando apenas uma consulta em sites sérios, verificamos que isso não tem prova real (científica positivista), mas que sem dúvida podemos inferir, ou seja, um caminhar "indo por dentro", (in) acerca do poeta e de obra de arte literária.
O "inferir" acontece com nossas análises, que entretanto pode pontuar o "eu real do poeta" - no caso, explicitamente alguns "eus líricos" na "misturança híbrida" com o real Pessoa, e esse fato é muito chuva criadeira.
Ao, mesmo tempo, já que dados reais de "Pessoa na pessoa" (Caetano Veloso) não temos, na nossa paixão pelo escritor e poeta, podemos criar a partir desse ego real do autor, com os outros "eus líricos".
Esses "eus" (poético e real) se lidos podem nos (pró)(é)vocar a refletir sobre o existir de nossos corpos, todos eles feitos para o prazer: e porque ele não é saciado pelo outro? Por que só nós mesmos podemos saciá-lo no onamismo? O que estamos fazendo com o que fizeram com o nosso "corpo-mente-alma afecta-espírito?
A análise fenomenológica buscaria descrever e compreender como essa autopiedade e essa vida vívida de um corpo que corre sangue nas veias, um corpo-encarnado-vida: "(...) eu tenho direito de gostar mesmo que não gostem de mim".
É vivenciado pelo "eu lírico" e como ele se manifesta em sua relação com o mundo. Maria José, que é também Fernando Pessoa, como é um e outra, se desvela através da linguagem e das imagens de um corpo prenhe de desejos pelo outro, então um belo corpo, mas não assim apreendido por ela.
Maria José precisava, quem sabe, fazer escolhas a favor dela, ainda que a repressão social e cultural daquele Portugal histórico, não fosse uma flor cheirosa para os oprimidos, marginalizada, pessoas com deficiência, clamando por inclusão.
*Grufei - Grupo de Fenomenologia, Educação (Especial) e Inclusão, coordenado pelo professor titular Hiran Pinel.
.
.
Hiran Pinel, autor (2024), ampliado em 2025, e assim postado nesse blogspot, Em citando favor referendar.
Como é um paper, estou dando um tempo para incluir outros autores, e referenciá-los.

sábado, 17 de maio de 2025

 O QUE SIGNIFICA O TERMO "YAOI" NO SEU SURGIMENTO NO JAPÃO?

Yaoi é um anacrônico para história criadas e publicadas pelas fãs, narrativas se baseavam “mangás” e ou “novels” profissionais ou originais. As fãs “pegavam” um personagem, por exemplo, uma cena dele. Esse personagem é um jovem hétero com um amigo hétero, mas muito próximos, chegados... Pois, então: elas recontavam essa história tornando-a mais picante, sexualizada, erótica, sedutora sexual – os dois amigos, nesse tipo de literatura das fãs, ao estilo marginal e subversivo, se transformavam em gay, falando palavrão, muito sexo, palavras eróticas, amor...  Elas subvertiam o estabelecido, criando outros textos mais corajosos e audaciosos. As fãs queriam mesmo é representar que aqueles dois amigos (de uma série de TV, por exemplo) praticasse, sexo explícito, talvez uma pornografia. Essas que faziam isso mostravam insatisfação com a arte original, e ficavam ansiosas para ir direto ao ponto. MAS, as narrativas criadas por elas, não tinham nem começo e nem fim, talvez só um esboço do meio. Mas, a literatura ficcional delas eram sem graça, pois faltava uma linguagem clássica de um romance como início (os dois se conhecem), conflito (numa briga, os dois caem no chã e tocam os lábios) e ambos ficam furiosos acusando um ao outro, meio (brigas, pazes, e um dia um beijo – só isso) e fim (os dois ficam juntos, talvez com um leve tocar nos lábios)... Então, é por essas dificuldades narrativas que os críticos (e elas mesmas, elas sabiam o que produziam) inventaram um “acrônimo”. Yaoi é de chofre uma SIGLA (ex; UFMG, ao falar você cita cada letra), mas que ao ser lida dá uma nova palavra (UFES, ao ler você não cita letra por letra, mas uma palavra “ufes”). Só que Yaoi é um termo já em inglês ou ocidentalizado e o significado de cada letra é em japonês. Considerando a origem japonesa, verifica-se de que cada letra significaria do termo Yaoi (fala-se “iaoí” ou “iaoi”): vamos dizer que Y seria uma história sem clímax (sem um ponto alto, que atrai atenção numa narrativa clássica); A: não se resolviam os problemas dos personagens; O: nem problemas havia, era só sexo explícito; I: não havendo um final. Simplesmente as histórias não eram estruturadas, eram sem sentido, com dificuldade de estabelecer um significado dentro de uma narrativa comum com início, meio e fim, com as etapas de um herói comum ou do cotidiano. Yaoi era uma Sigla, mas que socializada tornaria um acrônimo, pois lida gera ou produz uma nova palavra: “yaoi. Ou seja, Yaoi poderia ser um sigla, mas como se lê como uma palavra, confirmamos ser um acrônimo.

Hiran Pinel, autor do texto; em citando, dar autoria. Ufes, PPGE - Vitória, ES: 17 maio de 2015, aos 22h33min. De sábado pra domingo, e eu ansiando por melhores respostas do que seja YAOI. O que eu já publiquei tem sentido, esse daqui parece-me mais correto.


quinta-feira, 15 de maio de 2025

 

POR QUAL MOTIVO SE DIZ OU ESCREVE YAOI? O QUE SIGNIFICA ESSE TERMO? QUE RELAÇÃO ESSE TERMO TEM COM OS CONTEÚDOS PROPOSTOS DE AMOR ENTRE GAROTOS?

Origem e Significado de "Yaoi", um acrônimo japonês

Um acrônimo é uma palavra formada pelas letras iniciais de outras palavras, e que se pronuncia como uma palavra única e não como uma sequência de letras

Diferentemente de uma sigla, que é lida letra por letra, o acrônimo tem uma estrutura silábica aceitável e pode ser reconhecido como uma palavra.  Exemplo de SIGLA: UFMG (para falar o sujeito cita letra por letra). Exemplo de ACRÔNIMO: Ufes (para falar, você acaba falando uma palavra, e não letra por letras. Diz-se como se fosse uma palavras: “ufes”, você não diz: eu estudo na “U – F – E – S”, não diz letra por letra, mas como uma palavra: eu estudo na "ufes"... Exemplos de acrônimos, e vou escrever como uma palavra: "unesco", "onu", "mec", "tap", "usp" etc.

Yaoi são 4 letras para termos em japonês, cada termo é uma palavra, mas ajuntadas dão uma outra palavra, mas que se refere a mesma coisa: acrônimo. Ao ler Yaoi dá uma nova palavra como disse, palavra cujo significado são as iniciais, mas que não são ditas letra por letra. Então, cada letra significa uma coisa. Retomando o tema: quando eu digo “ufes”, estou dizendo sobre a Universidade Federal do Espírito Santo, as iniciais do nome dessa instituição, é delas que formam um nome. Quando eu falo Yaoi, eu estou falando de uma sigla, mas que não é, é um acrônico. Yaoi é um nome, e cada inicial tem um sentido.

Estou sendo bem didático e como um professor que repete para ele mesmo entender-se... kkk

Como Yaoi é um termo japonês, não é tão fácil explicar.

Vamos dizer que cada letra significa histórias recriada por fãs, que estão fora do padrão narrativo clássico, logo são narrativas “sem estrutura de uma história”, não tendo um clímax ou um momento alto que chama a atenção do espectador; quando criam um conflito, quando isso ocorre, as fãs que escrevem, não o soluciona. A história fica aberta sem um final – o foco das meninas, no começo era na relação amorosa sexual entre dois rapazes, esse tema era um desejo dela, era algo que as atraía, e atraí até hoje. Da história criada não se extraía um sentido e ou um significado. O termo Yaoi emerge de fãs, e outras fãs, mais profissionais começaram fazer e ou contar histórias dentro do padrão clássico de narrativa, que considera os modos tradicionais de descrever e contar um caso de um herói do cotidiano.

**

A palavra "Yaoi" (やおい) é, na verdade, um ACRÔNIMO japonês derivado da frase:

  • Yamanashi (山なし - sem clímax, sem ponto alto)
  • Ochi (落ちなし - sem resolução, sem final)
  • Imi nashi (意味なし - sem sentido, sem significado)
**

Essa descrição aparentemente negativa surgiu no contexto dos doujinshi (obras de fãs) que parodiavam mangás e animes populares, especialmente da série de mangá e anime de ficção científica para garotas chamada "Captain Tsubasa" (Super Campeões no Brasil).

Nos primórdios do que viria a ser conhecido como Yaoi, muitas dessas criações de fãs focavam em relacionamentos implícitos ou sugeridos entre personagens masculinos da obra original, muitas vezes sem um desenvolvimento romântico completo ou uma conclusão definitiva. Eram histórias que se concentravam mais na dinâmica e na interação entre os personagens do que em uma narrativa romântica tradicional com um clímax e resolução claros.

O trabalho das fãs (mulheres) era em cima de um mangá original comum; mangá que não era gay. Elas faziam suas narrativas próprias, bem desorganizada com a teoria da arte de contar história e ou narrativas. Ela “pegavam” dois rapazes que estão presente em um mangá não-gay, e no original os dois elas amigos, e tinham namoradas, e apaixonavam-se por elas... Elas traduziam esses dois héteros como gays, e comumente as namoradas eram vilãs, pois se opunham aos namorados serem apaixonados por eles, abandonando-as ou diminuindo a sedução e o erotismo. Repetindo, elas criavam eram histórias incompletas, sem um clímax narrativo, sem um final, e não se mostrava a solução de um conflito – quando havia. Como as fãs faziam narrativas mais focadas no sexo, tudo aparecia sem sentido, é como se a história (da fã) já começasse com os dois rapazes se amando... Ou seja, o Yaoi foi criado por mulheres visando atingir como ledor e vedor às próprias mulheres, poderíamos dizer de que o Yaoi era de mulher para mulher, ainda que com o tempo, foram aparecendo autores masculinos, gays ou não. O Yaoi, já estabelecido, e dentro das regras de uma narrativa clássico, fez (e faz) muito sucesso, elevando atores ao estreto, e à fortunas. No Ocidente há um consumo atento e ansiado.

**

RECORDEM: Yaoi é um anacrônico para história das fãs sem clímax (sem um ponto alto, que atrai atenção numa narrativa clássica), não se resolviam os problemas dos personagens, não havendo um final. Simplesmente as histórias não eram estruturadas, sem sentido, com dificuldade de estabelecer um significado dentro de uma narrativa comum com início, meio e fim, com as etapas de um herói comum ou do cotidiano.

 

Relação com o Conteúdo de Amor entre Garotos:

Apesar da origem aparentemente pejorativa, o termo "Yaoi" acabou sendo adotado pela comunidade de fãs para descrever obras que explicitamente retratavam relacionamentos românticos e/ou sexuais entre personagens masculinos. A ironia é que, com o tempo, o gênero Yaoi se desenvolveu muito além dessas paródias iniciais "sem clímax, sem resolução e sem sentido".

A adoção do termo "Yaoi" pode ter ocorrido por alguns motivos:

  • Identificação da Comunidade: O termo serviu como um ponto de identificação para criadores e consumidores desse tipo de conteúdo, mesmo que a descrição original não se encaixasse perfeitamente nas obras mais desenvolvidas.
  • Contraste com o Material Original: O nome "Yaoi" poderia ter sido usado inicialmente para diferenciar claramente essas criações de fãs do material original, que geralmente não continha esses elementos românticos homossexuais.
  • Evolução do Significado: Como acontece com muitas palavras e termos culturais, o significado de "Yaoi" evoluiu com o tempo. Embora a origem esteja ligada àquela descrição específica dos doujinshi iniciais, hoje em dia, o termo é amplamente compreendido como se referindo a ficção que centra-se em relacionamentos masculinos românticos e/ou sexuais, independentemente de terem ou não uma estrutura narrativa "sem clímax, sem resolução e sem sentido".
  • Esoterismo: Era um modos das fãs dizerem "yaoi" e como um "esoterismo", no sentido só elas entendiam, evitando serem temas de preconceitos por gostarem de algo "imoral", sexo entre dois homens.
  • Criar uma palavra erótica: as moças acham erótico e sedutor dois homens apaixonados. Elas torcem para que os dois fiquem juntos, e assim ao torce por esse casal, elas fazem "ship" (torcida). Há uma teorização que aventei, é de que as meninas curtindo história de dois caras, elas ficam preservadas (virgens), e espera que os dois, depois de viver esse amor, abandonem a homossexualidade indo namorar e casar com elas. Ele tem sexo e precisa extravasar, que façam com homens que não são ameaças pra ela, uma outra fêmea é ameaça. A cultura japonesa valoriza muito a virgindade, pelo menos em alguns grupos, assim elas se mantêm castas. Os rapazes vão fazer sexo um com o outro, e treinam para replicar essa experiência com elas.
  • Erotizar a escola: a escola, lugar de organização do conhecimento, seu ensino que impõe aprendizagem, é um ambiente assim rígido, ainda mais no Japão, um país que hipervaloriza o sucesso escolar, assim como na Coreia do Sul, e algumas vezes na China e na Tailândia. Boa parte dessas narrativas Yaoi acontecem dentro da escola do ensino médio ou em cursos universitários... O uso do uniforme é um fetiche, inclusive na Tailândia, onde as universidade costumam exigir uniforme, ainda que não tão imposto como no ensino médio, ou técnico.

É importante notar que, especialmente no Japão, o termo "Boys' Love" (BL) tem ganhado mais popularidade e é frequentemente preferido por criadores e fãs, pois não carrega essa conotação inicial "negativa" implícita em "Yaoi". No entanto, no Ocidente, "Yaoi" continua sendo o termo mais amplamente reconhecido para esse gênero.

Em resumo, a palavra "Yaoi" surgiu como um acrônimo irônico para descrever as primeiras obras de fãs que exploravam relacionamentos masculinos de forma muitas vezes vaga ou inconclusiva. Com o tempo, o termo foi adotado para se referir ao gênero em si, mesmo que o conteúdo tenha se tornado muito mais elaborado e com narrativas românticas completas. A relação do termo com o conteúdo é histórica e, embora a origem seja curiosa, hoje ele funciona como um rótulo para a ficção focada em amor entre garotos ou rapazes.

.

**

Hiran Pinel é autor, bem como um organizador...


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

RAPPORT NA PESQUISA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

Hiran Pinel, autor; coletou, revisou, ampliou, atualizou, corrigiu e modificou o texto
.
Quando o cientista fenomenológico existencial vai coletar (e ou produzir*) dados deve estabelecer um "rapport", seja pessoal ou a distância (telefone, online etc.).
MAS, O "QUE É" E o "COMO É" FAZER RAPPORT NA PESQUISA FENOMENOLÓGICA?
Rapport é uma expressão do francês “rapporter” que significa "criar uma relação" ou "trazer de volta" a mim e ao outro um para o outro compromissados e éticos. É um conceito da psicologia que se baseia em estabelecer uma conexão de confiança e empatia com a outra pessoa para então propor-lhe algo, e no caso de uma pesquisa fenomenológica, pedir colaboração dentro de uma perspectiva ético científica.
O rapport é uma técnica muito utilizada em vendas, atendimento ao cliente, consultórios psicológicos, clínicas psiquiátricas, justiça na coleta de dados em situações de violência contra o pequeno - & NA "COLETA DE DADOS" (ou "PRODUÇÃO DE DADOS") EM PESQUISAS DAS CIÊNCIAS HUMANS E SOCIAIS QUANDO PRETENDE ESCUTAR E DESCREVER O QUE O OUTRO FALA E OU EXPRESSA. O objetivo é criar um ambiente propício para que a troca seja mais orgânica e as resistências sejam eliminadas.
Para estabelecer um rapport, é importante:
  • Fazer com que a outra pessoa se sinta ouvida, respeitada e compreendida
  • Se for online e por escrito, faça um texto pequeno se apresentando, o que você pretende (tudo) e termina com a sua tarefa, você irá fazer um pedido à pessoa que colaborará com seus estudos existenciais, pois você deseja conhecer uma "experiência vivida-sentida" do outro. Geralmente desejamos entrevistar essa pessoa e devemos fazer uma pergunta bem geral do tipo: Descreva... ou Fale..,. só isso; não diga: fale-me descreva-me? Ora, de fato, a pessoa que colaborará com sua pesquisa descreverá para ela mesma, e só depois para o pesquisador. Ela "descreverá" o "que é" e o "como é" ser...? Fale sobre sua experiência de ser professora inclusiva do AEE de aluno com autismo?
  • Criar uma percepção de valor sobre você, valorizar suas ideias e suas perspectivas do que seja a "sua" pesquisa e de como ela resultará em um produto final a ser socializado objetivando produzir sugestões para a comunidade. Você deve destacar o quanto você valoriza seu ofício de pesquisador, o quanto leva a sério essa tarefa etc.
  • Não "soar", mas ser natural para/ com a outra pessoa que colaborará com sua pesquisa, conversando, e permitindo que o que dará entrevista sacie das curiosidade. Se for online é comum perguntar o número de páginas, isso depende do seu tema e do entrevistado, e pode dizer quantas páginas quiser, mas que você fica pensando em 5 página sou mais, mas... dá liberdade ao outro, pois não adianta mil páginas inúteis e artificiais, mas dois ou três palavras onde você capta uma descrição de uma experiência significativa... Recorde que o objeto da pesquisa fenomenológica, costuma ser a "experiência vivida e sentida" de uma pessoa com um tema.
Algumas técnicas de rapport são:
  • Procurar pontos em comum ou semelhantes da pessoa (sujeito da pesquisa) com você, o pesquisador (gostar desse conhecimento com esse outro) e com o tema da pesquisa. As pessoas podem se sentir segura quando se destaca o quanto a humanidade nos desvela, ainda que permaneça as diferenças de ser. O pesquisador pode servire como uma metafórico espelho d'alma: eu sou pesquisador e você é pesquisamos, mas nos percebemos como igual na nossa humanidade, uma singularidade na pluralidade de ser no mundo.
  • Ter interesse sincero pelas experiências dos pesquisados, a potencia que você dá a quaisquer respostas, onde não há certo ou errado, mas uma pessoa falando sobre sua experiência vivida-sentida.
  • Fazer mais perguntas quando algo não está claro. Um método pode ser o fenomenológico de interrogar. Quando algo do texto escrito e ou falado pergunte sempre: - Fale mais sobre isso? De modo mais técnico: diante de algo não claro, interrogue de modo cuidadoso e interessa: O "que é" e o "como é" isso daqui...?
  • Escutar de modo empático e ao estilo de estar agindo atentamente, isso implica em "não falar", escutar, ainda que possa verbalizar quanto o tema é vital ao momento, mas cuidados dos nossos "destrambelhamentos" nossos problemas como a ansiedade, por exemplo.
  • Ser atencioso, cuidadoso.. Essas atitudes costumam conquistar as pessoas para a sua pesquisa, elas passam de um estado de gelo e se derretem ao sol que o pesquisador oferece de modo simbólico.
  • Descrever científicamente - a descrição é a alma da pesquisa fenomenológica. Descrever o fato vivido.
  • Conversar chamando a pessoa pelo nome, dialogando com atenção sincera, serenidade, personalizando (singularizando) - sempre com "envolvimento existencial" (uma atitude fenomenológica vital e indispensável) que se desvela ali no campo da pesquisa, pessoa-pessoa como ser-no-mundo.
  • Espelhar a linguagem corporal, os gestos, o tom de voz e os padrões de respiração, modos de mostrar as expressões corporais etc., da outra pessoa aqui-agora denominada de sujeito da pesquisa. Sim, ao descrever "minhas experiências de universitário procurando namorados na instituição" eu me expresso com meu corpo, minha linguagem e os convido a mergulhar no tema... aí você grava, filma etc. Hoje em dia tem muitos recursos, é preciso saber usá-los (evitar problemas, como interromper pois você ligou algo errado).
  • TER MÉTODO CIENTÍFICO COMO ESTILO DE VIDA PROFISSIONAL, SEM ISSO, NADA É FEITO, NADA É ÉTICO, NADA É RIGOROSO: chegar em casa e já colocar em um programa de computador onde ele mesmo transcreve o falado, e no mesmo dia, você corrige, e verifica o que gostaria de acrescer para enriquecer o depoimento (falo do "transcriar"). Imediatamente fazendo isso as memória aparecem com mais facilidades, pois tudo estará mais quente..
NOTA
* o pesquisador precisa tomar decisão: ele vai coletar dados ou produzir dados? São duas coisas diferentes.