terça-feira, 10 de janeiro de 2023

"PAPER" REVISTO E AMPLIADO, EM 14 JAN 2023

Hiran Pinel, professor-titular UFES/PPGE

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UMA PEDAGOGIA EXISTENCIAL INDISSOCIADA À PRODUÇÃO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS

 

Hiran Pinel, autor.

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INTRODUÇÃO

Minha ação aqui-e-agora, é esboçar um texto científico fenomenológico (FORGHIERI, 2001), um texto tipo "paper", mas um ("paper") no sentido estrito do termo: apenas um "rascunho". Um texto que precisa "caminhar" mais, procurar mais rigor, em perder o cuidado, por sinal, um bom cuidado pode ser rigoroso.

O objetivo desse "paper" é o de refletir os modos como eu penso-sinto-atuo (e celebro o comemoro) o meu exercício em produzir na minha prática* (e práxis) uma Pedagogia Existencial indissociada à produção de práticas educacionais, especialmente em Educação Especial e Pedagogia Hospitalar, pontuando algumas características** que podem servir de mediação entre o professor e o aluno, no fazer acontecer uma experiência significativa, pois de sentido, o processo ensino-aprendizagem escolar e não escolar.

* Minhas práticas de: pesquisador, orientador de cientistas, professor, educador, pedagogo, educador social, psicopedagogo, filósofo clínico, especialista em psicomotricidade, clínico e formador de clínicos (terapeuta existencial)

** Descrevi dezoito (18) delas

Pretendo criar "um clima pedagógico-existencial próprio, com práticas educacionais relacionadas a esse clima e estilo" - talvez esteja aí minha contribuição (Hiran Pinel).

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AUTORES QUE ME MARCAM (E ME MARCARAM)

Eis a lista de autores, ainda incompleta, mas que de memória recordo e cito aqui-e-agora. Eles me ajudaram (e me ajudam) a refletir sempre acerca do meu ser professor, educador, pesquisador, clínico etc. Não coloco termos, que um dia pretendo desvelar na hermenêutica que farei do texto.

Paulo Freire (ser mais, amorização e muitos outros), Leonardo Boff (cuidado), Husserl, Jean-Paul Sartre (projeto de ser), Martin Heidegger (cuidado), Maurice Merleau-Ponty (percepção do fenômeno), Martin Buber (relações humanas), Simone Beauvoir (mulher, morte), Carl R. Rogers (empatia, tendência atualizante revista), Roberth R. Carlhuff (relação de ajuda), Rollo May (ser), Eugene Gendlin (corpo), Martins Amatuzzi (fenomenologia: pesquisa e intervenção), Yolanda Forghieri (método fenomenológico; teoria da personalidade), Virgínia Axiline, Evilásio A. Ramos (realização existencial na educaçã), Teresa Cristina Saldanha Erthal (projeto de ser), Vírginia Moreira, Janusz Korczak, Pantillon, A.S. Neil (liberdade para aprender), Celestin Freinet, Viktor E. Frankl (sentido da vida), Edith Stein (empatia), Don Lorenzo Milani, G. Kneller, Camus, Trần Đức Thảo (fenomenologia e marxismo), Vera Felicidade Almeida de Campos, Jorge Ponciano Ribeiro, Gabriel Marcel, F. Nietsche, F. Perls etc.

GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. Capítulos: 11 (fenomenologia existencial humanista), 12 (pensamento anti-autoritário), 16 (terceira parte: o humanismo socialista). Tem Paulo Freire também, "pensamento pedagógico brasileiro" (e tem da América Latina).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. A educação existencialista coloca muita potência no emocional, no afetivo, o desejo e no sensível (sensibilidade) do aluno e do professor. Isso não significa, entretanto, que se despreza o cognitivo (o racional), ao contrário, mas defende que o "conhecimento" deve ser "(co)movido" pelas atitudes fenomenológicas e existenciais; Nota: (co)movido = mover o conhecimento embalado pela energia afetiva; (co) em parceria professor-aluno.

2. Recomenda um currículo onde as artes e as humanidades tenham lugar importante e de destaque - artes (há muitas), literatura e poesia. Não é apenas conhecer e citar, mas trata-se do aluno "experienciar" a arte, um texto ficcional, uma poesia.

3. Sugere que as Ciências Humanas e Sociais são as (ciências) que estão mais próximas e íntimas do ser humano (o aluno, o professor, a gestão escolar etc.), evocando mudanças pessoais e grupais, afinal seus temas focais são o amor, a angústia, o cuidar de si e do outro, e das coisas do mundo, esperança, depressão, inquietude, saúde e loucura, ódio, crença e descrença etc.

4. O estudo das Ciências Naturais (e matemática) deve levar sempre a humanidade envolvida nesse processo, um ser humano finito, frágil, inconcluso, incompleto.

5. Todas as disciplinas escolares (ou não escolares) devem conduzir e ou guiar, de modo não diretivo, o estudante para que ele conheça e sinta o ser humano.

6. O professor deve ser um guia, no mais próximo de alguém não explicitamente diretivo, recusando exigir e impor algo ao aluno e ou aluna, devendo, isso sim, ser sensível, atitude de empatia, de congruência, de aceitação incondicional da pessoa etc., e sempre dispor, de modo natural, a respeitar a liberdade humana (sua, de seus alunos, dos humanos em geral).

7. O estudante pode criar e ou produzir (ou dar luz) ao conhecimento, reconhecendo-o como resposta a situações existenciais.

8. Considerar a política, a ética etc., como cuidado humano consigo e com o outro (e coisas do mundo)k, pois os valores são temas de uma educação existencialista, promovendo ações individuais e grupais vivenciais, que tocam o existir do ser-no-mundo.

9. Respeitar as diferenças na diversidade do mundo, e nunca negar o conhecimento científico que possa fazer ao aluno aprender e crescer/ desenvolver-se, envolvendo, por exemplo, o ato sentido de enfrentar o mundo adverso, cheio de alegrias, mas também, cheios do seu outro lado, fios da mesma meada, as tristezas.

10. Valorizar a autoavaliação, preferencialmente a livre. Só a pessoa é capaz de descrever o que lhe foi ensinado, e que ele aprendeu.

11. O ser humano é "livre", ele existe no "tempo" - e no "espaço", e tem o "Cuidado" na sua base existencial. Assim, a pessoa é "ser-no-mundo" - é singular, plural, cultural, social, histórica etc. A pessoa pode ser "autêntica" ou "inautêntica", e ela é-sendo "aquilo que ela faz de si mesma". A pessoa é um "ser de escolha", e "ao escolher, perde outras opções", e ainda assim, "ela se responsabiliza pelo que escolheu, e "não escolher é também uma escolha". A única certeza do ser humano é a sua "liberdade", e ela (liberdade) "precede a essência" - ela é existência. A liberdade está sempre se fazendo, sendo (a liberdade) a responsável a "tocar" (motivar) a pessoa para ela "ser" como "ser-no-mundo", desvelando seus jeitos ou "modos-de-ser" nas suas caminhadas (singulares, plurais, e plural-coletivas), nas suas travessias - etc.

12. Pós-escrito: É claro que fiz esse texto marcado por diversas leituras sobre "existencialismo na educação", e procurei manter o ensino de conteúdos propostos por nossa cultura e sociedade, bem como pontuar o respeito às diferenças na diversidade de ser. Há movimentos nessa esfera que coloca em segundo plano o ensino de conteúdos, mas, pra nós, sim, os conteúdos precisam ser ensinados, mas (co)movidos pela atitude e ou postura fenomenológico-existencial e ou humanismo-existencial. Também revelei o ser humano que caminha pelas suas próprias "vias" e pelos (próprios) desvios, sendo dele a responsabilidade, mas, reafirmando-o como ser-no-mundo, não apenas um "euzinho encapsulado". As vias e desvios são seus, mas ao fazê-lo ele está no mundo, marcado por esse mesmo mundo, e a cultura, sociedade, instituições, educação, justiça, saúde, políticas, democracia, fascismo etc., que são "coisas" criadas e mantidas por pessoas que são diversas nas diferenças, e esse "externo" aparente, tem impacto também.

13. Até a um milésimo de segundo antes de morrer a pessoa tem direito à educação escolar e não escolar, esse é um dos princípios existenciais da pedagogia e das práticas educacionais.

14. A educação escolar e não escolar é uma educação inclusiva; a inclusão pode obter benefícios da Psicologia/ Educação Existencialista quando se fala em disposição (in terna e externa) inclusiva ou atitude inclusiva.

15. A educação especial inclusiva pode se nortear pela educação existencialista, onde os conteúdos podem ser (co)movidos pela filosofia, psicologia, pedagogia e educação existencialista.

16. A brinquedoteca hospitalar pode vivenciar uma dinâmica de ensino-aprendizagem humanista-existencialista, compatível inclusive com o movimento de humanização hospitalar

17. "Atendimentos educacionais em ambientes hospitalares" podem estar abertos a uma postura educacional existencialista, e muito pode contribuir com temas presentes como vida e morte, no mesmo contínuo, por ex. Deveria haver uma formação inicial e continuada da professora e de outros profissionais da "saúde e educação" nessa perspectiva, a existencialista, ela que também propõe de sentir-pensar-agir e celebrar as alegrias de de ensinar-aprender.

18. Se fosse nosso desejo, as atitudes existencialistas poderiam ser "aplicadas" (pois, vividas, introjetadas como postura e atitude) em todos e quaisquer "programas/ práticas educacionais" escolares e não escolares. Pode ser considerada tais vivências, das teorizações e práticas humanista-existenciais, como textos que podem produzir um (ou mais) modo sensível, algo da arte - da percepção fenomenal de si e do mundo. Esse movimento pode e deve ser ligado ao ético (o rigor/ razão do cuidar) e estético (o quão belo é cuidar). Trata-se de viver processos ensino-aprendizagens fenomenológico-existenciais. Essas posturas são subjetividades, são comportamentos, são políticas etc.

[Hiran Pinel, autor]