domingo, 18 de outubro de 2020

O QUE É "OBRA DE ARTE" YAOI?
Nasce no Japão, com os mangás etc., cuja escrita é: "- やおい| -" (pronúncia: "i-a-ôiii" ou "i-aôíí", aqui com a sílaba tônica na última vogal.
O termo é um inventado "acrônimo" para: "sem clímax, sem resolução, sem significado". Trata-se um gênero de publicações e de vídeo/ séries televisivas/ filmes etc.
Tem o foco em relações homoafetivas entre dois sujeitos masculinos, que de modo geral, esses dois emitem comportamentos e subjetividades "de homens", quase sempre nunca "são feminino" - esse aspecto é cultural.
Outro dado: por mais que tenha no enredo da novel, uma divisão/ dicotomia entre "uke" (receber - tradução correta; passivo) e "seme" (atacar - tradução correta; ativo), esses termos surgiram há séculos, nas artes marciais, e eles não têm o sentido de dividir e ou degradar as pessoas - e nem classificá-las negativamente, ainda que em outras culturais, estes (termos) podem ser questionados ou interrogados, dependendo da cultura do espectador e de como ele se posiciona no mundo.
Ao mesmo tempo, surgem escritoras e escritores de novel's yaoi, que não valorizam mais essa divisão, que não é mais abordada, se é uke ou seme, isso não tem nenhuma importância na narrativa.
De modo geral, um romance yaoi é "escrito por mulheres para mulheres', com tema de "amor romantizado e idealizado", o modo como o feminino percebe isso, dentro da sua cultura e sociedade - e história.
A percepção fenomenológica de ser gay vem então da mulher, o modo como ela encara que o seja (gay ou yag). Yaoí é um nome criado, lá pelo começo dos anos 70 (século 20), para não dizer gay, já que esse tema, lá também, era (e é) objeto de preconceito, estigma e discriminação. Os fãs em sua família, por ex., ao telefone, falavam a palavra yaoi sem preocupar com os pais que escutavam o termo e nem aí, pois afinal, desconheciam, pensavam que era uma gíria da juventude, e que isso iria passar.
O yaoi é uma "obra de arte yaoi", e não é uma "obra de arte gay", pois traz em suas narrativas, desenhos etc., características de arte/poesia/literatura específicas. Nesse sentido, destacam autoras renomadas, como Kazuma Kodaka, que disse que em seus trabalhos elas usam o termo "obra de arte yaoi", ao invés de "obra de arte gay", quando os descreve para os leitores falantes do inglês, indicando sutis diferenças.
Há uma tendência em produzir como sinônimo de yaoi as iniciais BL, para "Boys Love" (amor entre rapazes), um modo de também escapar das repressões machistas.
Mas, ainda não há consenso se é yaoi é sinônimo de gay. como vimos a renomada Kodaka vê diferenças entre um e outro - eu também, que até chego a fazer comparações.
Acho mesmo que há diferenças, ainda que muito sutís entre séries yaoi (Sotus, My Tee), BL (Together With Me) e gay (Queer as Folk, Will and Grace).
Mas, uma série pode ter as três características, ainda que predomine uma ou duas. Um exemplo é "What The Duck" que tem YAOI (personagem couple Pop-Oat, a ingenuidade do primeiro amor), tem BL (couple: Rambo e Pree, prática sexual mais explicitada, seja numa ação sexual quando a cena é filmada eles transando e até incluindo um terceiro; também há fala que diz que ocorreu o ato sexual, ainda que não é mostrado; o tema garoto de programa, sem questionamentos sociais, é bem BL etc.) e tem aspectos GAY da série (discute-se as questões das DST's/ HIV-Aids, critica-se a não prevenção e ensina-se a prevenir, discute o tema traição, fala, ainda que de modo muito sutil, sobre algumas causas das lutas dos gays etc.). Mas, como estou a descrever, a divisão de um tipo para outro é muito sutil e nem tão claro assim, e fica evidente, de que não há uma concordância sobre esse assunto, e os temas se imbricam - dentre outros aspectos. Muitos preferem dizer apenas que é uma "obra de arte", no máximo, "uma obra de arte sobre relações amorosas e sexuais entre dois rapazes".
Tem séries que traz aspectos da série gay como discussão sobre os direitos humanos e específicos, os preconceitos são abordados com maior profundidade - um protagonista é agredido e ou procura justiça, há descrição detalhada da repressão, o medo de sair do armário, o protagonista é um lutador e um resistente contra essa sociedade e a enfrenta etc. Esse aspecto foi muito levemente abordado em "Love Sick The Series", por ex., quando os garotos do futebol desprezavam os alunos candidatos a animar a torcida. Era um grupo de meninas (gays) que emitiam comportamentos femininos, afrontavam o machismo, viviam no banheiro se penteando, passando maquiagem etc. Eram a alma da escola, resilientes, resistentes - se defendiam pelo bom humor, pela gozação. Ao final elas são as escolhidas.

* Hiran Pinel, autor. Ensaio experimental, sujeitos a correções.