terça-feira, 10 de março de 2020

PERCEPÇÃO IMEDIATA DO USO DE MÁSCARA EM TEMPOS (E ESPAÇOS) DE PREVENÇÃO CONTRA O CORONAVÍRUS.

INTRODUÇÃO
Saímos hoje, dia 10 de março de 2020, após orientação acadêmica, pois, estou trabalhando, não estou morto, por ora. 

Nosso objetivo é o de descrever nossas "vivências imediatas" usando máscaras em tempos de coronavírus.

METODOLOGIA
Fomos passear pela capital - Vitória, ES.: Shopping Vitória, supermercado Carone e uma cafeteria, ambas em Jardim Camburi.

Segui orientação da "minha" médica: [1] máscara sim, até para provocar mudanças de atitudes; [2] lavar mãos durante 15 segundos; [3] álcool gel - sempre; [4] distancia uma pessoa pra outra, nada de dar abraços, beijinhos, fugir de quem gosta de falar na cara da gente.

RESULTADOS
Colocamos máscara para sentir as percepções: 
a) gozação geral - foi algo que ocorreu, brincadeiras etc. - é difícil lidar com o "fato científico", muito, pois, nesse caso, implica em afastamentos corporais, dores como se tivesse afogando, morte, angústia etc.; 
b) desprezo e até nojo da gente, talvez preconceito e medo - após gozação; 
c) um rapaz falou "boa noite" comigo e me disse que era bobagem usar máscara que nunca iríamos ter o coronavírus, pois somos clima quente - não sabemos ainda como o corona irá lidar com alta temperatura, na Tailândia tem, e lá é hiper quente; 
d) uma senhorinha nos disse que ela tinha fé no Senhor e que ela não iria "pegar o corona" - "sempre fui religiosa", ela complementou - muito simpática, seguiu seu caminho etc.; 
e) pessoas que espirram se nenhum cuidado - observamos isso - desprezo a si e ao outro e desconhecimento do fato científico, uma pandemia; 
f) pessoas fingindo que espirravam, quando nos viam com máscara (gozação e agressão); 
g) uma pessoa nos contou, que no trabalho, fazendo reunião, um colega espirrou sem cumprir as regras de cobrir com o braço o rosto, e não satisfeito, com as mãos espalhou o catarro na mesa, e que ao levantar-se da mesa (o cara que estava nos contando), ele foi chacota do grupo que achou exagero - as dificuldades cognitivas de perceber o real, devido às emoções advindas das sensações de perda de si (morte) e do outro, além das dores e dos estigmas contra quem porta o coronavírus;
h) críticas às políticas de saúde do Estado brasileiro - evocando protesto e resistência;
i) desconhecimento dos sintomas, de como é tratado (o coronavírus), o fato de que, se morrer, como a pessoa será enterrada, alterando o ritual clássico do enterro, normalmente acompanhado de amigos e parentes do defunto, por exemplo.
j) uma pessoa nos disse que ela não pegará o vírus, pois é muito cuidadosa, "limpinha" - revelando desconhecimento;
l) a grande maioria nos parou e perguntou onde achamos pra comprar as máscaras, que não tem achado, assim como elas não acham com facilidade álcool gel - ou seja, a maioria, segundo nossa percepção, está envolvida com a situação, pois, elas tentaram comprar máscaras, gel etc.

CONCLUSÃO
A maioria, nos pareceu interessada na prevenção contra o coronavírus, já que disseram que tentaram comprar máscaras de proteção e não conseguiram, bem como álcool gel. Mas, ainda, há casos de resistência contra, que no nosso sentir imediato, advém de uma pandemia estar associada à angústia da dor e da morte física.

Seria muito positivo que o Estado produzisse material relevante na esfera da Educação na Saúde Pública, assim como já produzisse leis específicas facilitando o controle ou prevenção.

Tratou-se de uma "pequena investigação" (?) totalmente informal.

PÓS-ESCRITO
Sentimos uma boa 'sensação' em usar a máscara cirúrgica como dispositivo de prevenção conta o coronavírus, mesmo que efetivamente ela traga falhas, seja no modo de sua utilização, seja porque os outros não a usam, seja pela qualidade delas, as dificuldades, por ora, em comprá-las, pois não as encontra facilmente no mercado etc. O seu uso trouxe a nós essa "sensação", que acaba produzindo alguma tranquilidade diante de uma situação aparentemente bem caótica e que pode se transformar em um evento histérico. 

A "minha" médica me disse, que usar máscara é positivo para provocar atitudes dos outros (e nossa própria), justamente porque o "doente mesmo", ele não usa, ele resiste - ele acha que é "pinta", para ele é humilhante e ineficaz - "nada a ver eu ficar usando isso"... Vendo pessoas usarem máscara, ele se sentirá menos humilhado, e o uso produz aceitação. O paciente doente de fato, sempre acha que espirra "por alergia", sendo essa a justificativa mais comum, ele tá lá morrendo, mas, como defesa justifica que é "apenas uma alergia". Ela disse: "já que o outro não usa, a pessoa mais mais crítica pode usar como efeito pedagógico, justamente pra provocar, e é assim que se faz no Japão e em outros países, um uso provocativo ao outro que precisa, pois não é só no Brasil que se resiste ao uso da máscara..." Outra coisa que ela disse, é que "ao usar máscara" eu acabo afastando proximidades exageradas, apertos de mãos, beijinhos etc. A máscara costuma produzir distância - mas minha experiência disse que não. Um aluno meu, não se importou comigo estando de máscara, se aproximou, quis dar beijinhos e abraços, eu que produzi afastamento e ele alegou que não sabia da gravidade, mesmo a gente, no Estado do Espirito Santo, ter uma paciente já diagnosticada, vindo da Itália.  Mas, nos pareceu, na maioria das vezes nessa pequena vivência de sentido, de que, o estranho, ou despreza o fato de estarmos mascarados, ou tem nojo ou rancor/ raiva e até mesmo antipatia, pois, ao mesmo tempo, quem usa máscara pode estar a lhe recordando do problema da dor e ou da morte, de algo que "ainda" não tem cura - o coronavírus.

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Hiran Pinel, autor.
Menderson Rezende, co-autor.