quarta-feira, 30 de outubro de 2019

SOBRE O FILME "CORINGA": VIOLÊNCIA: 
Três rapazes começam a implicar com uma garota - dentro do metrô. Bem vestidos, rapazes de boa família, cidadãos... Coringa (que se chama Arthur e que a mãe o chama de Feliz) entra em pânico com isso, e nessas crises, ele tem como hábito rir sem parar. Nada engraçado, mas ele ri dolorido, ri de não poder mudar a si, o outro e o mundo. Os rapazes o espanca. Coringa se vinga matando os três. A cena é dirigida, e com tal força, parece que com finco para mover ao espectador. O espectador, boa parte dele, pode passar a torcer para que aconteça a tal violência, Coringa matando esses idiotas. Torcemos e isso acontece. Essa cena incitaria a violência? Ora, nesse caso, é "a arte é que imita a vida", e não que "a vida que imita a arte". Quando os espectadores ficam "entusiasmados com a violência na tela" (logo, violência "na" arte) isso pode indicar um bom sinal. Qual bom sinal é esse? O sinal de que a violência está apenas no imaginário, na nossa fantasia. O sinal de que essa "nossa" violência ainda não foi levada, às vias de fato, para a "nossa" realidade. Podemos imaginar ou fantasiar violência, eximindo-nos de agir mesmo ou agir de fato com violência. Eis uma das funções da arte, uma de suas maiores virtudes psicossociais.
“(...) O PROBLEMA DESSAS PESSOAS [1] QUE FAZEM ESSE TIPO DE COISA [2] É QUE NÃO SUPORTAM AS PESSOAS BEM-SUCEDIDAS COMO NÓS [3] JÁ QUE ELES CONTINUAM SENDO MEROS PALHAÇOS”.
[1] o povo empobrecido de Gotham City
[2] coisa: o povo se opõe ao estabelecido por políticos de Gotham City
[3] esse é um discurso na TV do senhor Wayne, pai de Bruce, que será o futuro Batman. Senhor Wayne é um bilionário e candidato a prefeito corrupto e babaca.
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No filme "Coringa" (2019; de Todd Phillips).
"Coringa" (2019, de Todd Phillips) é um filme fascinante que aborda a doença mental que "pode" (ou não) nascer na família e ao mesmo tempo indissociada de uma sociedade perversa, consumista e competidora ao extremo, onde se reserva o pior aos empobrecidos pelos diversos "jogos do sistema econômico" - péssimo atendimento à saúde, desemprego, fome, miséria, injustiças etc. Mas, no filme, parece não haver uma determinação da origem do sofrimento psicológico (e orgânico) do Coringa - mas, fica evidente que é um ser experienciando uma vida familiar infeliz e desamparada, penetrado por uma sociedade desumana, injusta, violenta, que privilegia uns (os ricos) em detrimento dos outros etc. O problema do Coringa "está aí" no seu existir como "ser no mundo". A dor é dele, porém, outros sujeitos poderão tomar caminhos diferentes, tudo parece depender do modo como cada pessoa resolve ou vivencia os conflitos existenciais, mas esse todo é uma mistura complexa do ser com o outro, no mundo. O filme nos fala explicitamente do descompromisso dos ricos com o povão. Denuncia os discursos perversos dos candidatos, e como ele escamoteia a realidade recorrendo à autoajuda. Para esse tipo de político, o sucesso será apenas daqueles cidadãos que tem mérito, entendido isso de acordo com as determinações vindas do dominador. Também, tais políticas defendem a violência contra o cidadão comum - e esses mesmos cidadãos parecem acreditar que essa é a saída, por sinal, uma saída contra eles mesmos. A Prefeitura (Estado) corta verbas até contra os programas sociais de aconselhamento psicológico - pode? O mínimo e o mais barato - e útil, Coringa diz: "Com quem eu vou falar agora?" Gotham corta tudo para os pobres. É um filme de profundo e significativo impacto psicológico e social, um filme político - contra as repressões e discursos cínicos de quem tem dinheiro, um filme contra as mães perversas (mesmo que doentes) e contra os pais ausentes e irresponsáveis. Um filme contra os sistemas fechados de tratamento mental, contra nossa hipocrisia diante da morte física e psicológica do outro, e do quanto, alguns de nós "douramos pílulas" (buscamos a alegria e negamos a tristeza, mas ela está aí) etc. O filme "fala" inclusive sobre nossos sonhos idealizados acerca da escola e da escolarização - quando Coringa narra a mãe dando-lhe conselhos para ser alguém na vida. Tem ainda o tema do "clown" (Coringa) na enfermaria com crianças e adolescentes com câncer - que cena maravilhosa, dá uma tese a queda do revólver que ele traz na cintura. Dá muitas análises essa obra de arte... Um filme (arte) pode ensinar à (nossa) realidade: precisamos ser empáticos com o outro, escutar sua dor e estimulá-lo a resistir contra o que vai opor-se psicossocialmente ele etc. Precisamos encontrar alguém que também nos escute, para então a "gente mesma" nos escutar e escutar ao outro - e partir desse vivido, pensar-sentir-agir contra o que está aí estabelecido como verdade única e universal, contra o que não se pode questionar, contra todo aquele que impede o diálogo.

domingo, 6 de outubro de 2019

Morreu ontem o filósofo e meu professor Tiago Adão Lara (1930-2019), aos 89 anos. Ele lecionava na Faculdade Dom Bosco onde fiz "formação de psicólogos". De fato eu fiz um curso livre com ele, coordenado pelo padre Tarcício Scaramussa - que foi meu professor de Cultura Religiosa I, II, III e IV....
O curso foi sobre o filme "O Pagador de Promessas" (1962, Anselmo Duarte), e isso em 1978. Eu assisti ao filme, e depois, o analisamos em outro encontro. Isso em 1978, sem internet ou recursos dessa área - a não ser o filme em "película de fato", in vivo - e, que todo cuidado era pouco, fácil de estragar e era caro. É o que eu me recordo...
Ele não foi meu professor, apenas fiz esse curso, e ele apareceu lá - e falou lindamente - fiquei encantado, pelo que me recordo. Sabe, eu era um jovem que me entregava ao encantamento.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

"Quem poluiu o rio mil peixes da cidade de mil flores?", livro infantil do conhecido e respeitado escritor o pedagogo e mestre em educação Luiz Sérgio Quarto, da editora Grafer (Vitória, ES). 

Foi publicado na década de 80 na "Gazetinha", caderno do jornal "A Gazeta" (ES), e agora lançado em livro em 2019. Lindo e sensível texto poético.