terça-feira, 25 de agosto de 2015

Minha mãe praticamente me 'chamava' de vidente - um vidente, com bola de cristal e tudo kkk Porque eu achava isso? Ela, de modo quase-diário, me falava assim quando estávamos em um passeio na casa dos outros, e eu deveria estar aprontando algo que ela censurava: "- Adivinha só quem vai apanhar quando chegar em casa?" Eu tinha que adivinhar. As mães são assim, elas nos nomeiam do que desejar, e vestimos a carapuça, e se não o fizermos, elas sofrem, elas querem algum poder, 'algunzinho'. Por isso sei que a autonomia é sempre relativa, pois está interligada ao outro, no mundo. As mães dependem dos filhos e das filhas para essa relativa autonomia de ser, assim como todo o mais.

[Ficção; HPinel]
- MEU FILHO, ENTREGUE-SE À TODAS EXPERIÊNCIAS...
Phu é um jovem em crise. Vai para fora de sua casa. Senta à beira da piscina. A mãe senta ao lado dele. Ele diz a ela que se sente dividido, partido: "- Eu gosto de inglês, gosto de matemática. Eu gosto de mulheres, gosto de homens. O que está acontecendo comigo? Preciso escutar minha voz" [ele chora]. A mãe o abraça e lhe diz: "- Fique tranquilo. O que você ser, você será", e completa sabiamente: "- Meu filho, entregue-se à todas experiências de alegria e prazer". O ator March Chutavuth, na pele do personagem Phu, abraça a mãe, olha para a câmera generosa, atraída pelo seu rosto e..... Aparece, em fim, uma cara triste, sozinha, abandonada - envelhecendo rapidamente, dentro de uma sociedade moralista, que lhe diz que tem que escolher apenas uma coisa, nada mais do que isso, mas ele carece experienciar tudo, todos. Phu é um sujeito do nosso tempo, e ele não está só na sua cisão.
[Trecho de Hormones The Series; TV; Tailândia; 2014; minha tradução, livre; HPinel]


RESILIÊNCIA: [1] capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, distresse, meio ambiente tenso etc. - sem entrar em surto ou colapso psicológico - recusa entregar-se, e se desenvolve e aprende positivamente com certa inventividade, envolvendo uma tomada de decisão pela via da vontade de vencer, apesar de não negar a dor e o sofrimento; [2] esses e outros fatores (pessoais/ individuais, mas considerando o ser-no-mundo – então fatores sociais, culturais, históricos) precisam atuar combinando, de tal modo que favoreçam condições para enfrentar e superar problemas e vicissitudes no existir humano; [3] NOTA: as forças resilientes (subjetivas e comportamentais) dependem também do meio cultural, sócio-histórico, economia de um país e da pessoa resiliente, família, comunidade, políticas públicas oferecidas aos cidadãos, qualidade das relações interpessoais no cotidiano e relações sociais, amizade/ inimizades, amores, amor próprio junto ao outro no mundo, crises sociais etc.

[Hiran Pinel]
COSPLAY É LÚDICO, É INVENTIVO, É CRIATIVIDADE... É ARTE...
O UOL fez uma reportagem contra cosplay, chamando especialistas em psicologia clínica para opinar. A reportagem determina, que uma arte lúdica como é cosplay, é uma psicopatologia, é problema, é anormalidade - desvio.... Um especialista não é dono da verdade - ainda bem kkk. Preconceito, em síntese, é o que se vê por aí.... Temos que agir contra isso. Cosplay é algo inventivo, criativo, produtivo. Eu mesmo amo falar (e representar) frase de cinema que tem a ver com o conteúdo que estou ensinando - sei que isso é apenas uma parte dessa experiência de "ser-sendo cosplay", mas eu faço isso. Os especialistas que se submetem falar nesses programas, precisam tomar cuidado em evitar ficar falando bobagens com aparência de ciência (isso podemos evitar e não cair no jogo do jornalista), bem como é preciso ter consciência, que na edição das falas deles, ela poderá ser manipulada - vale a pena denunciar sempre, escrever cartas, colocar no face etc.


NOTA 1: claro que não estou dizendo que não há psicopatologia, e qualquer um pode ter, inclusive pessoas que fazem cosplay, mas é algo antes do cosplay, e não cosplay. COSPLAY É CRIATIVIDADE, É INVENTIVIDADE...


NOTA 2: Eu acho ao contrário, o cosplay pode ser utilizado na clínica para cuidar do outro que sofre, mas o cosplay mesmo não pretende terapia, é saudável, é inteligência, pois é (repito) cri(ação), invenção...


NOTA 3: O QUE É COSPLAY? Cosplay (コスプレ, Kosupure?; costume - no sentido de roupa - que pode traduzir-se por "representação a caráter de um personagem" do qual é fã; fantasia): refere-se a atividade lúdica, praticada principalmente (porém não exclusivamente) por jovens; consiste em disfarçar-se ou fantasiar-se de algum personagem real ou ficcional, concreto ou abstrato, como, por exemplo, animes, mangás, comics, videojogos ou ainda de grupos musicais — acompanhado da tentativa de interpretá-los na medida do possível. Os participantes (ou jogadores) dessa atividade chamam-se, por isso, cosplayers.

[Hiran Pinel, autor dessa reflexão]
Acho que a psicobiografia é um método de pesquisa - que pode estar ligada à psicologia fenomenológico-existencial ou não - objetivando a aplicação de uma teoria, geralmente psicossocial, em cima de uma vida (ou parte dela), uma biografia, uma autobiografia, uma pequena história de uma longa história. Pode ser sujeitos da pesquisa (ou colaboradoras) motivos de psicobiografias. Envolve as pessoas famosas ou não. A Psicobiografia tem uma regra: é preciso estudar uma vida que merece ser assim investigada, que traga uma "luz" (compreensão) sobre os "modos de ser sendo junto ao outro no mundo" (H Pinel). Essa teoria, a da psicologia fenomenológica existencial, utilizada na análise que eu produzo, de modo geral, é trabalhada justamente para que se amplie o entendimento ou compreensão acerca do outro como "ser-no-mundo" - seus comportamentos, sua personalidade, suas subjetividades, sua subjetivação, sua consciência, seu inconsciente etc. Isso é relevante para o humano, logo para a sociedade. 

[Hiran Pinel]

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Cloninger (1999) estudou vidas íntimas na sociedade, e aplica algumas teorias da personalidade no entendimento delas. Assim: 1) ela usa a [teoria] Psicanálise de S. Freud na compreensão das biografias de G. O'Keeffe e A Hitler; 2) a abordagem de C. G. Jung na compreensão da biografia de S. MacLaine e M. L. King Jr/ 3) a teoria de Adler na vida de D. Trump e T. Turner; 4) E. Erikson em M. Gandhi e E. Roosevelt; 5) K. Horney em M. Monroe e M. Tyson; 6) G. Allport em J. Fahvell e B. Sills; 7) R. B. Cattell em A. Einstein e F. Nightingale; 8) B. F. Skinner em P. Hearst e B. Franklin; 9) J. Dollard & N. Miller em J. Harris e J. Morrinson; 10) G. Kelly em R. Nixon e C. Burnett; 11) C. R. Rogers em D. Suzuki e M. Angelou; 12) A. Maslow na compreensão psicobiográfica das vidas de M. Davis e M. C. Dog.

Referência:
CLONINGER, Susan C. Teorias da Personalidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

"Nas nossas relações com as outras pessoas, nós basicamente discutimos e julgamos seu caráter e comportamento. Por causa disso, eu me afastei, por iniciativa própria, do que poderia chamar de 'minha vida social'. Essa minha decisão acabou tornando minha velhice solitária. Durante toda minha vida trabalhei duro e sou grato por isso. Eu comecei a trabalhar pelo meu sustento, e acabei me apaixonando pela ciência. (...). Talvez eu devo acrescentar que sou um velho meticuloso, o que muitas vezes torna as coisas difíceis, para aquelas pessoas que me cercam e para mim mesmo. Eu me chamo Ebehard Isak Borg e tenho 78 anos de idade. Amanhã serei agraciado como professor, com a Medalha do Jubileu da Universidade de Lund.".

[Começo do filme ''Morangos Silvestres'' ou Smultronstället, Suécia, 1957, direção de Ingmar Bergman, quando o professor começa a narrar si-mesmo pra o espectador; uma obra prima, e que atualmente me toca muito... Sempre fui fã dessa película, de longe, na minha opinião, o melhor filme dele].

[Hiran Pinel]