ESBOÇOS DE UMA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO EXISTENCIAL, TRex.
Hiran Pinel, autor.
Em 1998, fazendo doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, estimulado por um professor em particular, mas que nunca fiz disciplina com ele, a pensar em algo inédito, e ele dizia que é assim que se faz um cientista das Ciências Humanas e Sociais. Estava impactado com Moscovici e sua teoria das representações sociais.
Como eu "me achava" (risos...) o "fenomenologista existencial", ou seja lá o que isso significava (textos da professora Yolanda Contrão Forghieiri era a "obra-mor" na minha cabeceira no Hotel onde ficava e no apto do meu colega Carlos Eduardo Ferraço), comecei a pensar-sentir-e-agir uma teorização de uma representação que denominei de TRex: Representação Existencial contra o macro de Moscovici, focando no meu interesse, o ser em si, ainda que indispensável colocá-lo no mundo, ser-no-mundo. Daí eu comecei a idealizar e a criar o que eu denomino de REPRESENTAÇÃO EXISTENCIAL-TRex.
Esse termo tem sido modificado por mim à medida que eu trabalho com o tema como uma das metas das minhas investigações cientificas "fenomenológico-existenciais".
A primeira questão era o termo representação, algo TAMBÉM ligado ao teatro ou aos artifícios, fazer de conta que é ainda que não seja. Queria manter esse termo.
Paralelamente comecei a fazer um curso livre (dentro da USP) chamado O Ator oferecido por uns alunos da Escola de Comunicação. Não era um curso que objetivava formar atores, mas interrogar: O que é e como é ator? Meu foco, então - sempre o cientista tem focos desvelados por novas interrogações, era o ator social. Estudava, no momento, o ator social que era o rapaz que se prostituía em um tempo muito marcado pela pandemia do HIV-Aids. Tinha constato na carne (na pesquisa de rua) de que o prostituto era um outro para o cliente, um ator. Ele "escutava" (observava) atentamente o cliente consumidor de seus encantos, e percebia o desejo dele, logo ele passava atuar para garantir e responder às vontades desse outro, e receber a recompensa: o outro, o orgasmo; o prostituto, a grana (e quem sabe o orgasmo também). Haviam garotos de programa que diante de um cliente chega a inventar uma narrativa a começar mudando o nome.. E tem mais "coisas" nessa esfera, como o garoto preferir ficar debaixo de marquises nas sombras noturnas que molda-lhe outro ser, do agrado de si, mas acima de tudo, do outro.
Bem, estou explicando algo, que na TRex é oposto a essa representação teatral.
Retomando fazia esse curso de 3 dias O Ator, e tomei contato com "o método", e gostei de Lee Strasberg. Isso levou-me ao termo representação como algo encarnado, mas muito além de Strasberg, mas o humano, como algo dele, ser carne. A representação passa a ser algo da experiência vivida, por isso existencial.
A TRex se interessa em estudar a representação encarnada no existir de uma pessoa que experiencia algo de sentido, seja pela presença ou ausência. Meu foco era a Classe Hospitalar para alunos-pacientes internados em hospitais. Qual a Rex de médicos, por exemplo? Um médico que conversei, usando o termo Rex (a pessoa que colabora com minha pesquisa escuta os termos que uso e posso dialogar sobre eles, não temo isso, ao contrário) não sabia da existência de Classe Hospitalar no seu hospital, e quando eu lhe disse, aquela informação foi transformada em aprendizagem significativa, um termo que o levou a uma experiência vivida, pois começou a confabular possibilidades, descobrir seu desinteresse além de sua área de especialização (oncologia infantil e juvenil), Fomos visitar o espaço físico específico da Classe Hospitalar, e ele recordou que tinha passado por perto etc. Logo após ele já refletiu que há pacientes dele, que ao visitá-lo no leito, havia uma "mulher" ensinando conteúdos escolares, e que ali, naquela cama, transformava-se em uma parte da escola.
Bem, essa é a minha primeira tentativa em dizer como surgiu minha ideia de uma teorização de "representação existencial", ou TRex.
***
Escrevi na época:
A teoria da Representação Existencial TRex.,
não elimina a representação legal ou política, ou a social, apenas traz a
pessoa singular tendo sua REx., algo de grande significado sentido, que pode
ajudá-lo no seu ato de pensar-agir-sentir no micro encarnado, tendo em si, o
macro. Entretanto, esse plural está no singular, e o singular é o universal,
afinal o ser-api é ser-no-mundo. O grande diferencial aqui-e-agora é o sentido
de encarnado ou carne que não é explicitado na Representação Social de
Moscovici. Nosso interesse é pela experiência vivida, a da carne, uma cognição
(co)movida pela carne do afeto e do corpo. Na TRex o teatro não é artificial,
mas algo encarnado 24 horas, mas sem sair de si, mas sendo si mesmo, sendo as
possibilidades de “si-ser-no-mundo”, logo diferenciado do ator profissional de Lee
Strasberg, que sai de si e é um outro e com o tempo retorna e toma o seu “ser-como-dele-próprio”,
e assim na TRex não há esse desgaste, simplesmente somos encarnados e demandamos
sentir a nós mesmos diante de certos temas, que podem ser experienciados como
experiências vividas (Pinel, 1999; p. 3).
***
A
noção de "representação existencial" é um conceito rico e complexo,
que se insere nas discussões filosóficas, pedagógicas e psicológicas sobre o
sentido-sentido da experiência vivida, tão humana. Em um contexto
fenomenológico, essa representação não se limita a uma mera cópia da realidade
externa, mas sim a uma construção ativa e singular do sujeito como
ser-no-mundo, construído em processo de sempre ‘tornar-se”, por suas vivências,
valores, perspectivas, projetos de ser. Os temas potentes são: a subjetividade
e a subjetivação – intersubjetividade, interexperiência, interhumano;
intencionalidade; escolha e responsabilidade; corpo e mundo; tempo-espaço –
tempo e história; sociedade e cultura; linguagem e símbolos etc. O singular tem
em si o universal, e no universal há o singular. A sua representação é
encarnada (Merleau-Ponty, 1999) por isso existencial, que está presentemente
preocupado com o outro e consigo mesmo. Ao representar minha existência, eu o
faço ao modo encarnado, um ator social que ao ser, é ele mesmo, ele é si e o
outro (Pinel, 1998; p. 9).
***
CONCLUSÃO
Esse texto é bem de um tipo de "paper" no seu sentido estrito: um textos rascunho escrito em uma folha velha que embrulha pão. Falta muito a dizer sobre esse termo, preciso de mais pesquisas. Já publiquei um artigo com dois orientandos meus de estágio em pesquisa (fenomenológico-existencial), dentre outros, mas ainda assim, a TRex está sempre se interrogando: O que é e como é TRex? Por aí vou configurando o termo.
Hiran Pinel, professor titular
Universidade Federal do Espírito Santo, Ufes
Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE
26/12/2024