quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

RAPPORT NA PESQUISA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

Hiran Pinel, autor; coletou, revisou, ampliou, atualizou, corrigiu e modificou o texto
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Quando o cientista fenomenológico existencial vai coletar (e ou produzir*) dados deve estabelecer um "rapport", seja pessoal ou a distância (telefone, online etc.).
MAS, O "QUE É" E o "COMO É" FAZER RAPPORT NA PESQUISA FENOMENOLÓGICA?
Rapport é uma expressão do francês “rapporter” que significa "criar uma relação" ou "trazer de volta" a mim e ao outro um para o outro compromissados e éticos. É um conceito da psicologia que se baseia em estabelecer uma conexão de confiança e empatia com a outra pessoa para então propor-lhe algo, e no caso de uma pesquisa fenomenológica, pedir colaboração dentro de uma perspectiva ético científica.
O rapport é uma técnica muito utilizada em vendas, atendimento ao cliente, consultórios psicológicos, clínicas psiquiátricas, justiça na coleta de dados em situações de violência contra o pequeno - & NA "COLETA DE DADOS" (ou "PRODUÇÃO DE DADOS") EM PESQUISAS DAS CIÊNCIAS HUMANS E SOCIAIS QUANDO PRETENDE ESCUTAR E DESCREVER O QUE O OUTRO FALA E OU EXPRESSA. O objetivo é criar um ambiente propício para que a troca seja mais orgânica e as resistências sejam eliminadas.
Para estabelecer um rapport, é importante:
  • Fazer com que a outra pessoa se sinta ouvida, respeitada e compreendida
  • Se for online e por escrito, faça um texto pequeno se apresentando, o que você pretende (tudo) e termina com a sua tarefa, você irá fazer um pedido à pessoa que colaborará com seus estudos existenciais, pois você deseja conhecer uma "experiência vivida-sentida" do outro. Geralmente desejamos entrevistar essa pessoa e devemos fazer uma pergunta bem geral do tipo: Descreva... ou Fale..,. só isso; não diga: fale-me descreva-me? Ora, de fato, a pessoa que colaborará com sua pesquisa descreverá para ela mesma, e só depois para o pesquisador. Ela "descreverá" o "que é" e o "como é" ser...? Fale sobre sua experiência de ser professora inclusiva do AEE de aluno com autismo?
  • Criar uma percepção de valor sobre você, valorizar suas ideias e suas perspectivas do que seja a "sua" pesquisa e de como ela resultará em um produto final a ser socializado objetivando produzir sugestões para a comunidade. Você deve destacar o quanto você valoriza seu ofício de pesquisador, o quanto leva a sério essa tarefa etc.
  • Não "soar", mas ser natural para/ com a outra pessoa que colaborará com sua pesquisa, conversando, e permitindo que o que dará entrevista sacie das curiosidade. Se for online é comum perguntar o número de páginas, isso depende do seu tema e do entrevistado, e pode dizer quantas páginas quiser, mas que você fica pensando em 5 página sou mais, mas... dá liberdade ao outro, pois não adianta mil páginas inúteis e artificiais, mas dois ou três palavras onde você capta uma descrição de uma experiência significativa... Recorde que o objeto da pesquisa fenomenológica, costuma ser a "experiência vivida e sentida" de uma pessoa com um tema.
Algumas técnicas de rapport são:
  • Procurar pontos em comum ou semelhantes da pessoa (sujeito da pesquisa) com você, o pesquisador (gostar desse conhecimento com esse outro) e com o tema da pesquisa. As pessoas podem se sentir segura quando se destaca o quanto a humanidade nos desvela, ainda que permaneça as diferenças de ser. O pesquisador pode servire como uma metafórico espelho d'alma: eu sou pesquisador e você é pesquisamos, mas nos percebemos como igual na nossa humanidade, uma singularidade na pluralidade de ser no mundo.
  • Ter interesse sincero pelas experiências dos pesquisados, a potencia que você dá a quaisquer respostas, onde não há certo ou errado, mas uma pessoa falando sobre sua experiência vivida-sentida.
  • Fazer mais perguntas quando algo não está claro. Um método pode ser o fenomenológico de interrogar. Quando algo do texto escrito e ou falado pergunte sempre: - Fale mais sobre isso? De modo mais técnico: diante de algo não claro, interrogue de modo cuidadoso e interessa: O "que é" e o "como é" isso daqui...?
  • Escutar de modo empático e ao estilo de estar agindo atentamente, isso implica em "não falar", escutar, ainda que possa verbalizar quanto o tema é vital ao momento, mas cuidados dos nossos "destrambelhamentos" nossos problemas como a ansiedade, por exemplo.
  • Ser atencioso, cuidadoso.. Essas atitudes costumam conquistar as pessoas para a sua pesquisa, elas passam de um estado de gelo e se derretem ao sol que o pesquisador oferece de modo simbólico.
  • Descrever científicamente - a descrição é a alma da pesquisa fenomenológica. Descrever o fato vivido.
  • Conversar chamando a pessoa pelo nome, dialogando com atenção sincera, serenidade, personalizando (singularizando) - sempre com "envolvimento existencial" (uma atitude fenomenológica vital e indispensável) que se desvela ali no campo da pesquisa, pessoa-pessoa como ser-no-mundo.
  • Espelhar a linguagem corporal, os gestos, o tom de voz e os padrões de respiração, modos de mostrar as expressões corporais etc., da outra pessoa aqui-agora denominada de sujeito da pesquisa. Sim, ao descrever "minhas experiências de universitário procurando namorados na instituição" eu me expresso com meu corpo, minha linguagem e os convido a mergulhar no tema... aí você grava, filma etc. Hoje em dia tem muitos recursos, é preciso saber usá-los (evitar problemas, como interromper pois você ligou algo errado).
  • TER MÉTODO CIENTÍFICO COMO ESTILO DE VIDA PROFISSIONAL, SEM ISSO, NADA É FEITO, NADA É ÉTICO, NADA É RIGOROSO: chegar em casa e já colocar em um programa de computador onde ele mesmo transcreve o falado, e no mesmo dia, você corrige, e verifica o que gostaria de acrescer para enriquecer o depoimento (falo do "transcriar"). Imediatamente fazendo isso as memória aparecem com mais facilidades, pois tudo estará mais quente..
NOTA
* o pesquisador precisa tomar decisão: ele vai coletar dados ou produzir dados? São duas coisas diferentes.

"COLETA" E "PRODUÇÃO" DE DADOS CIENTÍFICOS EM PESQUISA FENOMENOLÓGICA E FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

Hiran Pinel, autor; coletou, revisou, ampliou, atualizou, corrigiu e modificou o texto.
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Para um pesquisador das ciências humanas e sociais quais as diferenças entre "coletar dados" ou "produzir dados"?
Para um pesquisador nas ciências humanas e sociais, as expressões "coletar dados" e "produzir dados" têm significados distintos, embora ambas envolvam a obtenção de informações para análise.
A diferença entre as duas está principalmente na [1] natureza do processo da pesquisa e no [2] papel ativo do pesquisador em relação à informação que é obtida.
Vamos entender essas diferenças de maneira mais detalhada:
1. Coletar Dados
Coletar dados refere-se ao processo de obter informações ou evidências a partir de fontes já existentes, ou por meio de métodos de observação direta, entrevistas, questionários, levantamento de arquivos, entre outras formas de captura de dados. A meta é ao final colocar em um texto descritivo (descrever) científico, pois se descreve o real, ainda que se descreva os delírios de um esquizofrênico, esse é o real, e no caso, o real se indissocial da fantasia.
Natureza dos dados: Os dados coletados geralmente são informações que já existem ou que foram produzidas por outras pessoas ou eventos – as pessoas, nas pesquisas fenomenológicas, entregam aos cientistas suas “experiências vividas” com o tema da pesquisa. O pesquisador se posiciona como observador e seu papel é capturar essas informações de forma objetiva e fiel. Ele está um pouco mais neutro, ou acha que realmente está sendo neutro (em pesquisas positivistas é comum descrever uma neutralidade)
Exemplos de coleta de dados:
Observação participante: Um pesquisador observa e registra o comportamento de um grupo social em seu ambiente natural.
Entrevistas e questionários: O pesquisador coleta dados diretamente dos participantes, que podem fornecer informações sobre suas atitudes, opiniões ou experiências.
Análise de documentos e arquivos: O pesquisador pode coletar dados a partir de fontes textuais, como registros históricos, dados de censos, publicações acadêmicas, etc.
Características da coleta de dados:
- A coleta de dados busca ser uma ação de registro, ou seja, o pesquisador não altera a realidade observada, mas apenas a registra, reunindo as informações que já estão disponíveis no campo de estudo.
- O processo de coleta é muitas vezes [processo] estruturado [da investigação] e segue métodos e técnicas específicas para garantir que os dados obtidos sejam relevantes e válidos para a pesquisa.
2. Produzir Dados
Produzir dados, por outro lado, implica em um processo mais ativo e criativo de geração de informações, onde o pesquisador interage com o objeto de estudo de maneira mais profunda e, muitas vezes, transformadora.
Natureza dos dados: Os dados produzidos são geralmente [dados] novos ou originais, criados pelo próprio pesquisador durante o processo de pesquisa. Isso envolve uma maior intervenção do pesquisador no processo de geração de informações.
Exemplos de produção de dados:
Análise de conteúdo: O pesquisador produz dados ao analisar e interpretar conteúdos, como discursos, textos ou imagens, para extrair significados, padrões ou categorias.
Pesquisa-ação existencial: O pesquisador não apenas coleta informações sobre um fenômeno, mas também interage com o contexto para modificar ou criar novas realidades, gerando dados durante o processo.
Estudos de caso existenciais - alguns: Ao investigar profundamente um caso específico, o pesquisador pode gerar novos dados a partir de experimentos, interações ou transformações no campo de estudo.
Características da produção de dados:
- A produção de dados envolve uma apropriação ativa do pesquisador sobre o fenômeno estudado, com o objetivo de gerar novas informações ou interpretações que não estavam previamente disponíveis.
- A produção de dados é muitas vezes associada a um processo interpretativo em que o pesquisador constrói ou reconfigura a realidade observada, criando novas formas de conhecimento.
- O pesquisador assume uma postura mais reflexiva, em que ele não apenas observa, mas também modifica ou influencia o objeto de estudo, gerando dados através da própria dinâmica do processo de pesquisa.
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Principais Diferenças Entre "Coletar Dados" e "Produzir Dados"

1. Natureza: (CO.) Obter informações já existentes ou observadas. (PRO) Criar ou gerar novas informações a partir da interação com o fenômeno.
2. Papel do Pesquisador: (CO) O pesquisador é um observador ou registrador. (PRO) O pesquisador é um agente ativo, que influencia e modifica o contexto.
3. Exemplo: (CO) Entrevistas, questionários, observação participante. (PRO) Análise de conteúdo, pesquisa-ação, estudo de caso.
4. Tipo de Interação: (CO) O pesquisador não altera a realidade estudada. (PRO) O pesquisador pode modificar ou transformar a realidade.
5. Objetivo: (CO) Obter dados objetivos e fidedignos. (PRO) Criar dados originais, muitas vezes com uma abordagem interpretativa.
6. Estrutura: (CO) A coleta de dados tende a ser estruturada e padronizada. (PRO) A produção de dados é frequentemente mais flexível e criativa.
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EXEMPLOS DE COLETA DE DADOS
- Um pesquisador em Pedagogia Humanista-Fenomenológico-Existencial pode conduzir uma entrevista estruturada com um grupo de pessoas sobre suas experiências com a educação especial inclusiva nas práticas educacionais em classes hospitalares. A tarefa do pesquisador pode ser a de “COLETAR OS DADOS” por meio das respostas, registrando informações que já estão presentes na experiência dos entrevistados, sem alterar essas respostas, e ao final mostrar ao leitor a descrição obtidas. Isso é a coleta de dados – e não estamos falando o que ocorrerá depois, que será a analítica existencial desses dados ou uma análise compreensiva dos dados (de uma pessoa, ou mais).
- Em história, um pesquisador pode coletar dados de documentos históricos ou arquivos para estudar o comportamento social e político de um determinado período. Isso é coleta.
EXEMPLO DE PRODUÇÃO DE DADOS
- No contexto da Pedagogia Fenomenológica-Existencial, um pesquisador pode realizar um estudo de campo onde ele interage ativamente com uma comunidade de mães de crianças com deficiências diversas e que frequentam a escola da comunidade e ou outra instituição
O pesquisador é ativo, não nega seu saber a o outro, e pode ajudar na modificação ou na interpretação do que acontece ali, havendo uma intervenção ou interferência nos comportamentos e nas práticas sociais observadas. Deverá ter um clima democrático, onde o grupo delas pede ao pesquisador ajuda, e o cientista se autoriza a fazer isso. Tem assim uma ética do cuidado.
- Em uma pesquisa-ação fenomenológica na Pedagogia Existencial, o pesquisador pode trabalhar com uma comunidade (de mães, como dito acima) com o finco consciente e explicitado para “(pró)curar cuidadosamente criar com o grupo, tentativas de amenizações e ou até mesmo soluções para um problema psicossocial-pedagógico”, produzindo dados sobre o impacto dessa intervenção. Uma pesquisa fenomenológica que objetiva descrever os impactos de uma intervenção fenomenológico-existencial. 
Ainda há que de recordar, de que toda pesquisa fenomenológica que trabalha tête-a-tête com pessoas (gentes) encarnadas, no lugar mesmo de suas experiências vividas, o método, por si só, querendo ou não, é de intervenção.
5. Implicações Metodológicas e Epistemológicas
- Coleta de dados tende a ser mais associada a uma abordagem positivista e quantitativa, em que o pesquisador busca objetividade e neutralidade na obtenção de dados.
- Produção de dados, por outro lado, é mais comum em abordagens qualitativas e interpretativas, onde o pesquisador está mais envolvido no processo de construção do conhecimento e interpretação dos dados, refletindo sobre o contexto e as subjetividades envolvidas.
Conclusão
A diferença entre coletar dados e produzir dados nas ciências humanas e sociais, focando aos estudos fenomenológicos aplicados à Pedagogia e sua práticas educacionais (aqui, existenciais) está principalmente no "grau de envolvimento" ativo do pesquisador com o objeto (ou fenômeno) de estudo e na natureza da informação que é obtida. 
Coletar dados é um processo de registro e observação de informações existentes, enquanto produzir dados envolve um papel mais ativo e interpretativo do pesquisador, que cria ou transforma dados durante o processo de investigação. Ambas as abordagens são cruciais para a pesquisa fenomenológico e ou fenomenológico-existencial
Na prática, o cientista da nossa esfera, a fenomenológico e ou existencial, apresenta na Relatório Final de Pesquisa uma descrição científica da realidade vivida com ou sobre o sujeito pesquisado e sua relação com o tema da pesquisa. Essa descrição corresponderá ao capítulo denominado de "resultados". Depois sim, é que poderá partir para a discussão dos dados ou para uma analítica existencial dos dados (coletados e ou produzidos).
Poderá ter uma pesquisa com as duas posições, a de coletar e a de produzir dados? Pode.