TIPOS DE POLÍTICAS DE ESTADO E PROCESSO DE SUBJETIVIDADE...
Uma mãe não tem condições de cuidar do seu filho e o entrega a uma escola internato que treina meninos abandonados e rejeitados a serem artistas populares na China. O menino Douzi tem um dedo a mais na mão e não é aceito pelo instrutor da escola, a mãe corta com facão o referido dedo, e joga o garoto na porta da escola, lá ele conhece Shitou.
Uma mãe não tem condições de cuidar do seu filho e o entrega a uma escola internato que treina meninos abandonados e rejeitados a serem artistas populares na China. O menino Douzi tem um dedo a mais na mão e não é aceito pelo instrutor da escola, a mãe corta com facão o referido dedo, e joga o garoto na porta da escola, lá ele conhece Shitou.
O filme narra a vida desses de dois meninos que chegam a
ser maiores estrelas do país, começando em 1924, passando pela participação de
China entre os Senhores da Guerra, ocupação japonesa, vitória comunista,
revolução cultural em 1975, seu fim em 1977 e o impacto desses momento
históricos na produção da subjetividade.
La dentro, junto com Shitou, ele é treinado a ser ator e
cantor com finalidade de um dia ser estrela da Ópera de Pequim, isso em um
único papel, o feminino, de concubina, por sua aparência física de mulher.
Recordando: mulheres não participavam da Ópera. Na ópera, seu papel de amante
exige um rei, e esse será seu parceiro o menino rústico Shitou, machão,
rústico. A peça na época já era um clássicos das óperas, e há muito não é
representada de modo adequado, pois faltavam artistas de gabarito. A peça se
chama "Adeus Minha Concubina", que tem o mesmo título do filme de
1993, direção de Chen Kaige, produção chinesa.
Eles ficam famosos na China com essa única ópera,
riquíssimos e populares, mais do que os políticos, e isso incomodava. Eles
desvelam aos espectadores o modo como os diversos tipos políticos de Estados
interferem e intervêm na produção da subjetividade - na vida privada, no
cotidiano, ser forte, ser frágil, ser homem, ser mulher etc. Isso traz
consequências, por isso tem ainda o vício, quase nacional, de ópio, bem como a
dureza da desintoxicação - é um inferno. Tem mais: aos modos de ser alcaguete e
"dedo-duro", delações, era época disso. Delatar era a regra imposta
pelo Estado - todos delatavam todos e todas, ricos e pobres - criava-se um
clima paranoico. Tratava-se de um clima subjetivo (e objetivo) de delação
intensa no governo de Mao Tsé Tung. Os dois atores, de fatos, eram burgueses,
alienados, por isso delatar era obrigação (estamos no comunismo, recordam?), o
filho deles os delata, pois a estética artística dos pais adotivos (atores) era
burguesa. Shitou delata a prostituta Juxian, já que prostituir é coisa da
burguesia. Todos são expostos publicamente em praça, como num jogo de
interesses do Estado mandar recado ao povo: "se famosos são delatados,
quem são vocês para não o serem?" kkk
Ao final, misturado no personagem, Douzi se apaixona pelo
rei, e tudo isso lhe pira o cabeçote kkk. Naquele novo painel político da
"Camarilha dos Quatro" e em um novo governo que se instaurava, a
concubina (Douzi), no seu papel de passiva, com seu drama de existir rejeitada
e trocada por uma "simples" prostituta, não aguenta mais, e faz o que
na ópera lhe indicou sempre.
O rei (Shitou) a tudo assiste passivo, em desespero e
angústia. Mas viver como sabemos, não é lá essas coisas e ao final, ele pode
ter aprendido isso.