
O filme se chama "1735 Km"
(VIETNÃ, 2005, direção de Nghiem Dang Tuan Nguyen). Pequena obra de arte,
comédia romântica com vários sentidos sociais e históricos.
MINHA SINOPSE: Pra começar, vamos
ao título. Trata-se da quilometragem que gasta quem sai de Hanói até Saigon (Ho
Chi Min) de trem, ônibus, motocicletas, carros, paradas, problemas nos
maquinários, karaokês, comidas à beira do caminho, hotéis baratos e caros,
aproximações delicadas, jogos de sinuca, o galã quase nu em um rio de lá,
bebedeiras, mais motocicletas (paixão nacional, junto com a bicicleta), músicas
românticas ao etilo Ocidental, passeios pelas cidades e suas gentes,
retrocedidas no tempo-espaço etc.
Uma bela jovem - Tram, de saltos altos
finos, vestida à la Chanel, adentra ao trem, e falando ao celular. Ela vai
casar com um homem rico, e sabemos isso pelas conversas. Seu lugar é junto a um
jovem artista plástico - Kien - sonhador, que se desvela muito solto à cultura
budista, por isso meio que irresponsável. não capitalista, mas não engajado. Já
ela é rígida, autoritária, neoliberal - sabe o que quer.
A maior parte das cenas acontece
dentro dos vagões do comboio e nas estradas do país, e à medida que conversam,
é mostrado a realidade do Vietnã - plantações de arroz por homens e mulheres
velhos e jovens (serão explorados?), cenas do passado da Guerra do Vietnã (que
eu capturei - nas sutilezas que eu desejei ver kkk), riqueza e pobreza,
juventude e idosos, grandes metrópoles. O país valoriza muito os mais velhos.
Mas a cena está com os jovens - eu me recordando aqui da Revolução Cultural de
Mao Tsé Tung e o protagonismo juvenil kkk
Assim, o filme tem algo do drama: os
jovens vietnamitas vivendo em um rico e complexo país que cede cada vez mais ao
capitalismo selvagem, tem ainda as crises de identidades (quem somos? a partir
do quem sou eu), momentos culturais modificados, um passado-presente que pontua
um futuro: O que e como é ser jovem vietnamita, tal qual narrado nesse filme?
Eles, os jovens, estão "nas mãos" de um diretor que se nasceu no
Vietnã, graduou-se nos Estados Unidos, e se o filme recorda as comédias
açucaradas com Jannifer Aniston (que são algumas delas, muito boas), traz a
paisagem física e humana do país, em pequenos detalhes, nos diálogos com leve
tormenta.
Estamos em um país moderno, agora marcado pelo capitalismo, sem histrionismos, com uma presidente mulher - e o Governo policiou todo o filme, vigiou tudo como ainda o fazem os "camaradas" kkk. Cada grão de arroz comido significa respeito a quem o plantou e o colheu (minha metáfora). Estamos no Vietnã de nossa triste memória, massacrado que foi, mesmo saindo vitorioso, com cabeça erguida... Linda comédia-dramática. Sensível como poucas.
Tudo embalado por "Samba de Verão" dos irmãos Valle, presente no Cult "Eternamente Tua" de Apichaptong Weerassetakhul (Tailândia).
Tudo embalado por "Samba de Verão" dos irmãos Valle, presente no Cult "Eternamente Tua" de Apichaptong Weerassetakhul (Tailândia).



NOTA: Assisti com parca legenda em inglês. Por que parca? Ora tinha ou não legenda.