(...) A Psicologia Fenomenológico-Existencial
apregoa, que na produção do conhecimento, deva existir dois movimentos vitais e
potentes, que são vividos indissociadamente. São movimentos incrustados na
pele/ alma/ mente do pesquisador/ cientista, que podem ser descritas como atitudes/
posturas do ser (sendo) com ao outro, no mundo do ser investigador (...) será
isso que o legitimará ao profissional da ciência dizer: "- Trabalhei com o
método fenomenológico" (...) São esses os dois movimentos vitais,
centrais, focais que estamos a descrever até agora: [*] o envolvimento
existencial (...); [2] o distanciamento reflexivo [1]
(...): epoché (assemelha-se ao: envolvimento...) e eidos (assemelha-se ao distanciamento...). A todo momento um e outro vem mais a tona, e o outro se abaixa, são potencias diferenciadas, depende do momento. Quando nos envolvemos, pouco dirá o distanciamento; quando no distanciamento, pouco dirá o envolvimento, mas ambo se retroalimentam, veja: na distancia para que seu texto saia fidedigno ao vivido, precisará do envolvimento na sua memória (quando descrever), senão sairá um texto não ligado ao vivido. Um dos modos de entender o que é "ir às coisas mesmas", é ir às descrições, por exemplo, a resposta à questão da pesquisa está lá; a coisa mesma é esse relatório da pesquisa (...) Mas há mais movimentos que acompanham esses dois centrais: (...) [3] (...)
valoriza a descrição do vivido, sua compreensão - no aqui-agora.
(...) Trata-se uma coisa advinda da relação pesquisador e pessoa que colabora
com a pesquisa (...) "falamos" da descrição do imediato, do inequívoco
e claro aos sentidos (...) [4] há mais características (...) sempre em movimentos
dialéticos e ao mesmo tempo mestiços, híbridos, indissociados (...), [5] na
riqueza do existir concreto do ser humano, que colocado no mundo, sem a sua
anuência, trata agora de escolher, responsabilizar-se por isso (pela escolha) e
cuidar de si e do outro, bem como descuidar (...) [6] foca na subjetividade
experiencial do outro, considerando isso como “modo de ser” no mundo – “ser
no mundo” da experiência (...) [7] considerando sempre que a essência
existencializada do sujeito concreto acontece no mundo - na história
(tempo), na geografia (espaço/ lugar) (...) o ser impactado pela economia, mídia,
sistemas judiciais e de segurança, escolaridade, políticas, fascismos etc. - "ser
no mundo"; [8] sujeito e objeto são indissociados, poderíamos falar
que o que acontece é uma relação "pessoa-pessoa"; [9] a
“suspensão” (ou o envolvimento existencial) é relativa, ou seja, nunca é
total, isso devido o pesquisador ir a campo com o outro, o mundo em si e o outro e as coisas do mundo [**] (p.17).
[*] Esses dois movimentos que são a alma
do método fenomenológico, Pinel (2018) credita à Forghieiri (1997) que foi sua
professora no doutorado que fez no Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo.
[**] Na Terapia Existencial, Pinel (2018) acrescenta "(...) a atitude de valorizar tudo que é dito (ou não) e expressado (ou não) pelo sujeito que procura ajuda clínica, procura cuidados para a sua saúde mental. Nessa percepção, um clínico, deve agir assim, cuidadosamente, sendo permissivo em que tudo seja considerado ali no 'setting clínico', onde tudo é vital, tudo é potente, um detalhe, um gesto, uma palavra repetida ou a não dita, uma palavra dita uma única vez, um gesto inacabado, uma lágrima, um sorriso, uma drama, uma comédia etc. O terapeuta nada interrompe, deve lutar e (pró)curar estar sempre atento e em posição empática (compreensiva), e com forte disposição ou desejo de estar ali, descrevendo 'o que é' e 'o como é' ser" (p. 19).
* * *
NOTA: Em citando, favor referendar...
PINEL, Hiran. Como eu faço pesquisa (e intervenção) fenomenológico-existencial. Vitória: Ensaio do Autor, 2018.