UM MEDIA-A-DOR DA APRENDIZAGEM NO TRIÂNGULO AMOROSO: MINHA SINOPSE EXISTENCIAL DO FILME FILIPINO "A DANÇA DOS DOIS PÉS ESQUERDOS" DE YAPAN.
Vou fazer minha sinopse do filme "A dança dos Dois Pés Esquerdos" (FILIPINAS, 2011, direção de Alvim Yapan ou Alvin B. Yapan), e para isso recorrerei ao método fenomenológico-existencial tal qual é proposto por Forghieri (2001), conduzido de modo radical por mim.
Um aluno rico, chamado Marlon (ator: Paulo Avelino) está com dificuldades acadêmicas e ao mesmo tempo apaixonado por sua professora de meia idade, que leciona literatura, e cujo
nome é Karen (atriz Jean Garcia). Ele descobre que a professora dessa
disciplina leciona também dança e coreografia em outro espaço da cidade.
Ele vai até à escola de dança, mas em chegando, descobre que que
ele precisa aprender para impressioná-la, demanda aprimorar-se antes de
matricular-se naquele estúdio de dança. Ele conhece um outro aluno, Dennis
(ator: Rocco Nacino), um rapaz não rico e assistente de Karen, e o contrata para
ensiná-lo a dançar o mais rapidamente possível, e com isso obter seu objetivo.
Dennis percebe o interesse de Marlon por Karen.
Dennis conta a Karen acerca do desejo de Marlon, e a mestra deseja comprovar até onde vai o esforço e motivação do bofe, fará tudo por ela ou para dança. A mestra ao mesmo tempo já percebia as aulas paralelas, constata o talento deles, e
sente algo dentro de si-mesma, e percebe nos dois que eles não capturaram ainda
que têm, um clima de algo mais, um toque, uns olhares estranhos e bacanas,
amorosos.
A todo instante a professora de literatura repassa poemas em sala de aula, textos poéticos feministas, produzidos por mulheres das Filipinas... É como se cada poesia exigisse uma expressão corporal. Nesses diálogos, entre poesia, música e dança, é que Karen passa a desejar o desejo deles.
A todo instante a professora de literatura repassa poemas em sala de aula, textos poéticos feministas, produzidos por mulheres das Filipinas... É como se cada poesia exigisse uma expressão corporal. Nesses diálogos, entre poesia, música e dança, é que Karen passa a desejar o desejo deles.
Os rapazes dançam, um fazendo o papel mais passivo, e o outro
mais ativo. Mas os dois são masculinos em seus papéis ali na dança. Eles
pontuam essa igualdade dançando com os seus pés esquerdos - são dois iguais, em
papeis diferentes. Como Marlon é iniciante, cabe a ele o papel feminino (ser
dirigido por Dennis).
Marlon pergunta a Dennis, "como ser mulher", ao que o
outro responde que tanto faz, ele pode ser mulher aos olhos da platéia (e
Karen), mas ser homem para ele/Dennis (na dança), e isso acontece com ele
também, ele é homem (dirige) mas para Marlon ele ser mulher ou não. Ou seja,
nesse diálogo aparentemente inócuo, o amigo ensina que amar é amar, seja que
sexo for, e os papeis se misturam, se indisssociam.
E então, Karen percebe que os moços têm talento. Ela monta uma
peça baseada em um Cult de heróis das Filipinas chamado "Humadapnon",
que é de fato um poema épico, que tem como narrativa muito do que está se
passando entre os dois apaixonados.
Nessa peça épica, Marlon fica com o papel de Humadapnon, um rei
orgulhoso, machão, mandão. E Dennis fica com o papel de Sunmasakay, uma bela
mulher, disfarçada de homem que deseja salvar o monarca das muitas mulheres que
o cercam, e querem porque querem casar com ele. Durante os ensaios dos dois,
Karen os põe a prova, e insinua algo entre eles. Marlon se defende dizendo que
sempre esteve interessado nela, e não em Dennis, e para provar, em separado,
numa cena de amor, ele paga ao amigo pelo trabalho, que recusa, é óbvio. Tem
coisa que está na ordem do impagável, parece dizer Dennis.
No dia da apresentação fica decidido que Marlon será o rei, e ela a bela Sunmasakay, entretanto, em determinado momento da peça, a professora abandona o palco e deixa os dois nos papeis de homem e mulher ou essa mistura... E os dois enfrentam essa experiência de sentido, e uma lágrima irá pontuar o interesse dos dois pela mestra, e um pelo outro. Instaura o amor que há.
Depois do filme, pareceu-me que tudo ia ficando claro nesse jogo: Marlon deseja ardentemente
Karen, e sem coragem, deseja um mediador. Ele elege Dennis nesse processo de
intermediar-a-dor, a dor de estar só e (pró)curar alguém, tendo no começo, a necessidade de
ficar à deriva. Dennis os aproxima, mas não pode afastar-se, pois ele nutre
todo esse complexo movimento de ser-sendo junto ao outro no mundo de Marlon e
Karen. Dennis passa amar Karen para que Marlon o ame.
Como vemos, Karen os jogou como protagonistas nesse épico, e na
peça eles se descobrem indissociados um do outro, mas sempre também interligados
da mulher que a professora é. Eles constatam que sem a mestra, os dois não
existiriam. A ensinante parece desvelar-me ser o lócus do nascimento do amor
do/no outro, ela dá à luz, ela autoriza e permite aos dois se amarem pelo
conhecimento encarnado, tendo-a misturada entre eles. O que parece aprender
pela experiência é que eles conhecem para amar - eles tornam o conhecer algo de
sentido, dão carne a ele, pelo afetar.
Referência:
FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia Fenomenológica. São Paulo: Pioneira, 2001.
NOTAS:
[1] Marlon poderia ter contratado uma moça para ensinar-lhe dança, mas nas Filipinas isso teria outras conotações morais, e isso eu senti, ao mesmo tempo, não tem explicação a escolha de Marlon, ele escolhe seu desejo e ponto;
[1] Marlon poderia ter contratado uma moça para ensinar-lhe dança, mas nas Filipinas isso teria outras conotações morais, e isso eu senti, ao mesmo tempo, não tem explicação a escolha de Marlon, ele escolhe seu desejo e ponto;
[2] A personagem da professora é ótima para produzir pesquisa,
ela pode ser analisada, dentre outros, como o nascedouro do amor na escola e
fora dela;
[3] No filme, o diretor, que também é professor universitário de
literatura, usa poesias de feministas famosas do seu país, textos que penetram
aos protagonistas. O diretor Alvim faz isso de modo não didático, o que é ótimo
para o espectador;
[4] Fica evidenciado no filme, aos meus sentidos, de que para
estudar o masculino, o gay e o queer, os estudos feministas são a base de tudo;
[5] Karen é uma personagem solitária e parece entregue ao seu
envelhecimento;
[6] As lágrimas unem os personagens
Marlon-Karen e Dennis-Marlon, e os entrelaçam finalmente - Marlon-Karen-Dennis;
[7] O diretor Alvim B. Yapan é chamado de dr. Alvin Yapan, Ph.D., sendo chefe do Departamento Filipino da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Ateneo de Manila, Filipinas. Como acadêmico é também muito premiado, tendo recebido os maiores prêmios também na produção literária. Não abandonou a universidade, apesar do sucesso estrondosos nas Filipinas, alguns países asiáticos, Estados Unidos, Argentina etc.
[7] O diretor Alvim B. Yapan é chamado de dr. Alvin Yapan, Ph.D., sendo chefe do Departamento Filipino da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Ateneo de Manila, Filipinas. Como acadêmico é também muito premiado, tendo recebido os maiores prêmios também na produção literária. Não abandonou a universidade, apesar do sucesso estrondosos nas Filipinas, alguns países asiáticos, Estados Unidos, Argentina etc.
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* Catalogação do artigo nesse blogspot quando for citado:
PINEL, Hiran. Um media-a-dor da aprendizagem no triângulo amoroso; minha sinopse existencial do filme filipino "A Dança
dos Dois Pés Esquerdos" de Alvim Yapan. Vitória, ES: blogger.com A vida
Como Obra de Arte. Sítio: http://hiranpinel.blogspot.com.br/2016/02/pinel-hiran.html
- Em 27/02/2016.
** Aviso:
Compreendendo mais esse filme, que estou
vendo no original tagalo, e publicando aqui minhas opiniões à medida que eu o entendo. Falo de um custar entender, mas compreender sempre isso
acontece desde a primeira vez que me envolvi existencialmente com essa obra de
arte. Vamos a mais uma tentativa de distanciamento reflexivo, sem jamais
abandonar o envolvimento existencial? O resultado disso é esse artigo experimental.
*** Catalogação
do filme:
"A DANÇA DOS DOIS PÉS ESQUERDOS" (Filipinas,
2011, título em tagalo: "Ang Sayaw Ng Dalawang Kaliwang Paa", em inglês: "The Dance of Two Left Feet"; direção
de Alvim Yapan).