Os 30 melhores filme do "mundo" segundo minha percepção... Comentando os 10 primeiros lugares. Eis o 3o lugar:
3- "Um doce olhar/ Mel/ Bal/ Honey" (Turquia; direção de Semih Kaplanoglu).
O pequeno Yusuf vive com os pais numa região remota da Turquia. Quando o
pai, que é apicultor, sai em viagem preocupado que está com o sumiço
das abelhas (do doce), e ele não volta mais, o menino começa a descobrir
o quão é duro viver, uma arte do sutil e algo árduo. O pai morreu
colhendo mel, doce, o melhor da vida se
perdeu - seu doce. Uma das cenas mais pungentes é quando o menino, que
não consegue aprender a ler, decora o texto escutando o coleguinha ler
em voz alta. Ele decora, e está ansioso para ler o mesmo texto na sala
de aula, atendendo ao pedido do professor e com isso ganhar elogios e
até recompensas (tipo um prêmio, uma estrelinha - pelo que me recordo).
Mas o professor motivado, pede que ele lê outro texto. Yusuf gagueja, se
fragiliza e nos vemos nele, nos tempos em que estudávamos e desejávamos
aprender, mas não conseguíamos. Era uma sensação de humilhação, pois a
maioria aprendia. Uma arte assim, cheia de significados. O pai pra Yusuf
era uma figura vital, que lhe dava alimento, e se trata a narrativa
sobre a presença do pai, e o quanto ela nos faz falta. Viúva, colhedora
de chá, a mãe do garoto tenta cuidar dele. O fracasso na escola é
evidenciado mais e mais depois da perda paterna - o pedagogo (ou será
psicólogo?) fala em dislexia. Sentindo-se inferior e desamparado, o
menino é sensível e ativo fora da escola... Um dia o professor lhe dá o
prêmio que todos os coleguinhas dele ganharam, mesmo ele não merecendo.
Com a pulga atrás da orelha, o mestre pode ter se interrogado: O que e
como é Yusuf? O professor, de surpresa, vai visitar a mãe. Ele chega
como que pisando em ovos, delicado e silenciosamente. A medida que se
aproxima ao real, naquela casa empobrecida, mas digna, ele escuta o
menino lendo o Corão, em voz alta e interpretando o que lê. Acho que o
professor deve ter mudado a questão: O que e como é ser professor de
Yusuf? Fim. Adoro finais assim: no intimismo, Yusuf se desvela
aprendente através do seu doce olhar, agora com um doce próprio, mas
cujo começo foi através do doce de mel que o pai lhe doou. Uau... O
filme me parece configurar uma estética islâmica, bem religiosa, assim
como é "Marcelino, Pão e Vinho" (1955, de Ladislao Vajda) de uma outra estética, a cristã - ambas obras primas, de real valor cinematográfico.