YALON E SUAS DIFICULDADES COM A ABORDAGEM EXISTENCIAL & MEUS CONTRAPONTOS
Hiran Pinel
"Senti ainda outra dificuldade com a abordagem existencial, ela era mais uma teoria filosófica do que um sistema psicoterapêutico, embora houvesse exceções. Frequentemente não se encontrava uma concretude na orientação filosófica, que precisava se complementada pelo conhecimento aplicado do processo de tratamento.
Yalom expressou uma preocupação semelhante:
" ... filósofos existenciais profissionais ultrapassam até* (...) [outros teóricos de psicologia clínica] no uso de uma linguagem obscura e enrolada ... [ele usa o termo filósofo para pensadores da psicoterapia] Nunca entendi a razão dessa linguagem impenetrável e com a aparência de profunda. Os próprios conceitos existenciais básicos não são complexos e não precisam ser decodificados e meticulosamente analisados [no sentido de dar uma aparência profunda, pois o simples é penetrante, é complexo]. Muito mais do que isso, eles precisam ser revelados." (Yalom, 1980, p. 16)"
...
Fonte do texto acima: In: HYCNER, Richard. De pessoa a pessoa; psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus, 1995.
NOTA DE RODAPÉ (NO TEXTO, COM ASTERISCO QUE INSERI)
* Yalom cita os psicanalistas, mas, não são "só eles'"
que escrevem de modo complicado (?), por sinal, eu adoro ler muitos
psicanalistas e não os acho simples, mas científicos.
Eu defendo que "TODOS os pensadores da psicoterapia" (ou
da terapia existencial ou da clínica), e aí eu me incluo, aplicando à Educação
Especial e Saúde (e à Pedagogia Hospitalar), e que recorremos à filosofia, o
fazemos (ou deveríamos fazer), de modo "profundos" (ser rigoroso
científico e sensível).
O autor se refere aqueles pesquisadores que não está focando na
clínica, e tendo a filosofia como (co)movedor da sua pesquisa e e do texto. O
pesquisador da clínica deve produzir um texto preocupado, por ex., com a
formação de um profissional de saúde mental, e a clínica é aquilo que alguém no
seu ofício faz junto e com um outro que sofre.
A afirmativa e Yalom é complexa e que pode ser também crítica, mas
eu acho que o que ele "quer dizer": não se preocupem, uma escrita
meticulosa, rigorosa, clara e sensível, por si só, já é profunda e complexa.
Mas, eu acrescentaria: deixe claro a filosofia subjacente, e o que você desvia
dela, afinal uma filosofia não é clínica.
Yalom não fala de textos simplórios e de autoajuda, assim espero
[risos...]. Mas, sabemos que Yalom, como Rogers, escreve o cotidiano
profissional de clínico, usando um texto simples, refinado, rigoroso - e isso é
profundo, pois não abandona a filosofia, nunca. Pessoalmente, adoro ler textos
clínicos com terminologias complexas, que me permitem ir além, pesquisar, e
utilizá-los nas relações com colegas acadêmicos e clínicos mesmos, gerando uma
linguagem específica que produza efeitos benéficos na clínica, nos cuidados de
qualidade a quem tem tanta dor.
Um clínico bem-sucedido, e que é um cientista rigoroso, será
sempre "profundo", pois vai fundo na alma, mente e corpo do outro na
(pró)cura de cuidar. O clínico é da outridade/ alteridade - Hiran Pinel, autor, 2023.