arte e ciência, ficção e realidade, ilusão e ciência, poesia e ciência, literatura e ciência, verdade e mentira
O USO DAS ARTES COMO
FERRAMENTAS E DISPOSITIVOS EM PESQUISAS FENOMENOLÓGICAS
Hiran Pinel, autor
INTRODUÇÃO
Uma das ações científicas do Grufei,
Grupo de Fenomenologia, Educação (Especial) e Inclusão, é o de produzir ciência
tendo como ferramentas e dispositivos obras de arte, poesias e literatura. Isso
ganhou sentido acentuado durante a pandemia da Covid-19 onde, como
orientador, não poderia (como não fiz) exigir do orientando que vá ao hospital
coletar dados.
Essa ideia enriqueceu muito nossas
ações, que são antigas nessa esfera, mas como que disse, que em plena pandemia
da Covid-19, isso ganhou sentido, quando os ("minhas" e "meus'*)
orientandos que temiam tal evento de saúde pública, e todos temiam e acompanhávamos
a ciência experimental quanto á produção de vacinas. Um orientando, por
exemplo, optou em estudar, no mestrado, a cegueira do personagem central de
"Hoje eu quero voltar sozinho" (MOURA e PINEL, 2023).
O objetivo desse "papel de
rascunho científico" é o de descrever as percepções de artistas e
cientistas sobre a realidade (papel da ciência) e as artes (arte, literatura,
poesia), destacando aqueles intelectuais e pesquisadores que defendem a
relação entre ambos os aspectos, ainda que defendam o real, que ainda assim é
produzido (na ciência) por um investigador que "sonha" com o real,
afinal a arte nos acompanha no real. Não se trata das artes prevalecerem sobre
a realidade, e nem a realidade prevalecer sobre as artes, mas dar potência a
realidade criada por pessoas, gente cheia de sonhos pelo real.
METODOLOGIA
Sempre tenho citações de grandes nomes,
da ciência ou mesmo das artes, onde garantem (o fato ou o real) a relação
realidade e arte, fantasia e arte, verdade e mentira, fato e ilusão etc., e a
noção de que uma obra de arte tem muito a nos ensinar, e a gente aprender,
sobre a educação escolar e não-escolar.
As citações são até populares em meios
aos cinéfilos como sou, mas, nesse meio, podemos supor que algumas coisas são
atribuídas, autores nos quais atribuímos, sendo frases que vão sendo ditas como
na arte japonesa (e asiática) de cosplay, "cosplayers" que somos
(risos).
Algumas citações são minhas, tamanho
valor acadêmico dou a essa temática especialmente me Educação Especial, Ed.
Inclusiva, Ed. Social, Pedagogia Hospitalar, Educação e Saúde, nas minhas
práticas com o método fenomenológico de pesquisa e do
fenomenológico-existencial de práticas educacionais e outras intervenções e
interferências.
RESULTADOS
"A arte é a
mentira é que nos permite conhecer a verdade" (Picasso).
“A verdade só pode
ser dita nas malhas da ficção” (atribuída ao psicanalista Jacques Lacan).
”A arte cria o mundo
de modo concreto, ela produz esse mundo - ou ajuda a (re0produzi-lo, a
(re)criá-lo, a (re)inventá-lo, a (re)idealizá-lo. Ela (arte) é a própria
realidade, pois sendo instrumento/ ferramenta/ dispositivo, ela cria o real em
nome de algo ou alguém, de uma ideologia - ainda que possa ser defensável que a
realidade prevaleça em meio a tantos sujeitos que lutam para mudar o real
vivido pelos seus sonhos de um mundo melhor, menos explorador, mais favorável
ao oprimido" (Hiran Pinel)
“Arte e realidade se
complementam. Sem realidade, a arte não faz sentido, sem arte, a realidade não
tem significado” - Bahman Ghobadi, diretor iraniano de cinema, de etnia
curda.
"Não existe meio
mais seguro para fugir do mundo [realidade] do que a arte, e não há forma mais
segura de se unir a ele [mundo real] do que a arte" (atribuído Johann
Goethe).
"Para a psicologia
fenomenológico-existencial, diferenciar realidade de fantasia é possível (e
necessária), mas não está nessa diferenciação o âmago dessa ciência, ao
contrário, está na sua junção e até indissociação, 'realidadefantasia" -
afinal, o sujeito concreto e real se inventa, se produz, se reinventa como ser
no mundo que é (sendo) com o outro. Aqui-agora, estamos a 'dizer', o real teor
da vida, do existir, dos 'modos de ser sendo junto/ com ao outro no mundo' -
ser concreto, ser real, ser o que se convencionou a dizer realidade, fato. A vida
está aí, ela está no estar-aí, na borda da linha entre loucura e sanidade, no
extremo de uma linha e do outro, nos seus meandros e labirinto, fantasia,
sonho, vida encarnada real, ensangüentada, alegre, triste, cheia de narrativas
prenhes de sentido concreto do ser com o outro, no mundo... É preciso escutar
empaticamente ambos os aspectos, realidade/ concretude/ fato e fantasia/
ficção/ invenção/ ilusão, e uma terceira opção que é a mistura híbrida dos dois
que parecem clamar por serem descritas compreensivamente, e desvelar uma
realidade - "uma" e não "a" realidade. Não estamos à cata
de um único real ou de uma única verdade absoluta, sólida e ou universal. A
arte pode nos ajudar a cuidar do humano real e concreto, cuidar dele e com isso
desvelá-lo pela descrição compreensiva do que é e do como é ser no fenômeno
escolhido pelo pesquisador' (PINEL, 2005; p. 91).
"A arte não é
[só] um espelho para refletir o mundo, mas [é] um martelo para forjá-lo [a arte
é uma dispositivo de resistência concreta; uma ferramenta para as lutas contra
ao opressor]" (atribuído a Vladimir Maiakóvski 1893-1930).
"Quando você faz um filme, as
pessoas podem interpretá-lo da maneira que quiser e ver coisas que os
produtores não tinham ideia de que estavam gravando. Então, ficamos surpresos
quando vemos algo, falado ou escrito, sobre os filmes que fazemos e [que -
Hpinel] não teve contexto para os produtores ou com o que [outros profissionais
da referida obra de arte - Hpinel] queriam fazer. E ainda assim, tem uma
relevância para elas, porque as pessoas acreditam nisso, [desejavam isso, e ou
usam conscientemente a arte pra produzir mais artes, poesias, literatira e até
textos científicos com reflexões, inclusive para o entendimento e ou
compreensão da realidade, estimulando até mudanças concretas, reais -
Hpinel]". (Jerry Buckheimer (1943-), um produtor estadunidense de
filmes e séries de televisão).
"A ciência é
grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura
nos importa. Por outro lado, o saber que ela [literatura] mobiliza nunca é
inteiro ou derradeiro; a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas sabe de
alguma coisa; ou melhor, que ela sabe algo das coisas – que sabe muito sobre os
(...) [seres humanos]". (BARTHES, 1978, p.19). (PINEL, 2019; p. 3) .
"Poetas e
romancistas são nossos preciosos aliados [de nós, os cientistas], e seu
testemunho deve ser altamente estimado, pois eles conhecem muitas coisas entre
o céu e a terra com que nossa sabedoria escolar não poderia ainda sonhar.
Nossos mestres conhecem a psique porque se abeberaram em fontes que nós, homens
comuns, ainda não tornamos acessíveis à ciência" (citado pelo
psicopatologista Dalgalarrondo (2008; p. 15) sendo frase de autoria
de Sigmund Freud. Nesse livro ele até referenda: Sigmund Freud; in
"O delírio e os sonhos na Gradiva de Jensen", 1906; mas não é do
criador da Psicanálise, segundo denúncia do teledramaturgo Manoel Carlos - in
https://vejario. abril. com.br/ coluna/ manoel-carlos/ perolas -; mas, sem
dúvida, a frase é muito boa, por isso posto).
"Quando eu fui à campo coletar dados sobre a presença da Educação Social e
Saúde entre garotos que se prostituíam no Largo do Arrouche, em São Paulo, isso
entre 1998 a 2000. Eu cheguei naquele espaço (e tempo) e fui logo
sentindo na minha percepção, dde que antes de mim, os rapazes que vendiam seus
encantos, e seus clientes, transitavam pisando nos astros distraídos, sem saber
que a melhor coisa dessa vida, e era o luar, o caboclo do seu desejo e o
violão, fazendo paráfrase de "Chão de Estrelas", de Sílvio
Caldas e Orestes Barbosa. Antes de mim, a poesia cotidiana passeava de mãos
dadas comigo (e com todos os transeuntes) - e a partir daí fiquei atento a essa
criação insubmissa e provocativa, romântica e ou de resistência dos rapazes que
se prostituíam, especialmente deles. Poe exemplo: era comum falarem-me que se
sentir ator, pois eles eram o desejo do outro, e pouco do desejo de si, afinal
eles vendiam encantos e ilusões. Ficar nas madrugadas debaixo das marquises da
grande capital, me inspirava a refletir sobre a arte de não ser si esmo, a
maquiagem das sombras entre a luz e os esconderijos, etc. Eles ficavam debaixo
de postes das ruas, das marquises, na parte escuras dos botecos etc.
Destacava-se expressão corporal de macho: pernas arqueadas, jeans azul
desbotado, cabelos despenteados, mãos enfiadas na altura da virilha etc.
Era puro teatro, mas de um teatro de tablado, da vida real, que refletia o
real, a dura realidade do comércio dos desejos do cliente que fixavam em uma
representação existencial da classe operária. Era a concretude de
ser-no-mundo. Isso refletia uma Pedagogia Social existencial da carne, onde um
(cliente) ensina ao outro (garoto de programa ou michê) e vice-versa. O
cliente, pelo menos ao meu perceber de sentido, era pela hiper masculinidade
que se relembrava os trabalhadores simples e braçais, uma espécie de desvelar
nossa sociedade de classes. Em cada passo que eu dava como cientista
fenomenológico-existencial, vinha aos meus sentidos os significados oferecidos
pela vida, vida de cada um deles, e minha própria vida, vida dos clientes - e
que fique claro as diferenças entre uns e outros. As artes, as poesias e as
literaturas começaram a subsidiar a ciência que eu produzia, e quanto mais ela
apareceu, mais o real se mostrava, uma arte romântica e da resistência, como
aquelas canções de protesto da década de 60: "esperar não é saber, quem
sabe faz a hora, não espera acontecer", outra vez um poeta, Geraldo Vandré
no seu auge em "Caminhando". Interessante, que eu ia
mostrando a mim mesmo como pesquisador, que a arte se indissociada á realidade,
e a realidade contém nela a arte, ainda que sonhemos que a realidade saia
vencedora, mas que ainda assim, os vencedores para serem assim vitoriosos,
precisam de projetos de ser (Sartre), sentidos de vida (Frankl), modos de ser
de ser no mundo entre a realidade necessária e seu combustível de animação, que
são sonhos feitos de tessituras oníricas, etéreas que nos fazem viver mais e
melhor no campo de batalha do real. Muitas vezes, lutamos pelo real, pela via
de um amor que deixamos em casa... Romântico, não? (risos) Recordo, do final do
filme "Veludo Azul" (1986; de David Lych), onde o protagonista, ao
ver um delicado passarinho na janela, de uma casa situada em uma cidade aprazível
e pacata, mas com um submundo perverso e "sexualizado ao extremo", e
ainda assim (co)movido pela balada idealizada do título do filme, "Blue
Velvet" (original de 1963, de Bernie Wayne e Lee Morris), diz à
namoradinha (que como o protagonista, foi violentada), bem como, para nós, o
público desse filme Cult: "Esse mundo muito é estranho, muito, não
é?" Recordo-me que respondo: "sim, é" (Hiran Pinel, 2001; p. 4).
"As artes, as
poesias e a literatura em geral, especialmente a obra de arte mais completa que
existe, o cinema, estão prenhes de fenômenos capazes que provocar e evocar ao
cientista (e ou ao pesquisador) a adentrar na fantasia/ ficção,
"envolver-se existencialmente" com "isso-aí", e desse
"espaço-tempo" penetrante e penetrado, "distanciar-se
reflexivamente", sempre nesses dois movimentos interligados, descrevendo
compreensivamente "o que é" e "o como é" ser com o outro,
no mundo. Esses dois movimentos, em uno, costuma trazer significativas
contribuições para aquilo que denominamos realidade - a realidade vivida. Isso
nos comprova que não existe arte sem o real - e a arte, quase sempre, contribui
com a ciência, quer seja uma arte oficial (um filme de cinema premiado, uma
música de sucesso popular etc., por exemplo) ou quer uma "arte do
cotidiano do sujeito comum", quando ele se expressa de modo poético,
literário, cinemático, desenhando, dançando, cantando, representando como um
ator e ou uma atriz, imaginando viagens místicas, romanceando sua vida,
dirigindo sua vida que beira a direção de uma série yaoi de televisão
tailandesa (...)" [Hiran Pinel, 2004; p. 7].
'(...) amo esses
'fanservices' (feitos antes das séries, nas e durante as séries, e depois
delas) e 'fanmeetings' (onde tem 'fanservices') dos atores Singto Prachaya e
Krist Perawat de Sotus e Sotus S The Series, e de Puín (Phuwin) e Pond de
"Upon Fish in the sky" (Pescando Peixe no Céu, da GMM-TV). Na minha
opinião se trata de um outro teatro, outra perspectiva de interpretação, que
para alguns é o real, mas não é. A realidade aí acontece em um simbólico e
metafórico palco. Nada de ilusão, e ao mesmo tempo, tudo de ilusão - parece ser
o discurso (e ação) dos fanmeetings e fansevices, onde as fãs costumam desejar
dar a direção, mas eles é que farão uma interpretação insubmissa, quase sempre.
Mas onde está o real? Isso é importante? Eu retruco que não, pois isso não é
vital aqui-agora nessa reflexão sobre uma série romântica da TV tailandesa.
Realidade e ficção se misturam e dão um tom sobre o tom, uma outra ficção,
outra realidade." (Hiran Pinel)
REFERÊNCIAS
PINEL, Hiran. Arte
e ciência: aplicações em pesquisas na esfera da Pedagogia, Educação e Saúde
e Psicologia. Do autor.
SARTRE,
Jean-Paul. Ser e Nada. Ed. Autêntica.
FRANKL, Viktor
E. Sentido da vida, diário de um psicólogo em campo de
concentração. Ed. Vozes
BARTHES,
Roland. A aula. Ed. Cultrix.
MOURA, Menderson
Rezende de.; PINEL, Hiran. Ser Leonardo: Educação Especial, cegueira e
cinema. Ed. der autoren. Venda no sitio: Clube de Autores.
PINEL, Hiran et
al. Cinema, Educação & Inclusão. Venda no sítio: Clube de
autores.