segunda-feira, 29 de abril de 2024

UM PSICÓLOGO EM TEMPOS EM DESASTRES & EMERGÊNCIAS 

Hiran Pinel, autor.

Morro do Macaco, Vitória, ES: uma tragédia ambiental que marcou a presença de profissionais de ajuda junto e com o que moradores que perderam suas casas, e entes queridos, além de amigos. Tudo aconteceu na madrugada do dia 15 de janeiro de 1985.

O balanço após o deslizamento contabilizou 40 pessoas mortas150 feridas, vários desaparecidos e mais de 600 famílias desabrigadas. "A noite que pareceu durar dias começou quando uma pedra com aproximadamente 150 toneladas deslizou, destruindo tudo o que tinha pela frente, inclusive dezenas de casas e algumas famílias. (...) Na época, o Morro do Macaco era habitado por cerca de quatro mil pessoas" (A Gazeta; Publicado em 13 de janeiro de 2018).

Na época eu participei como psicólogo em tempos urgentes de tragédia ou psicologia em situações extremas (desastres e emergências), com atendimentos individuais, de famílias, e principalmente grupais e comunitários.

Pelo que me recordo, eu era o único psicólogo, e um bom número de assistentes sociais – todos colegas. Éramos funcionários de ajuda (ou de cuidados) estaduais (funcionários públicos, então) que trabalhávamos no hoje antigo Instituto Espírito-Santense do Bem-Estar do Menor (IESBEM), oficialmente eu era psicólogo - bem como eram as assistentes sociais.

Fomos convocados e atuamos em situação de desespero social de impacto negativo na vida subjetiva – angústia existencial, ansiedade, desespero.

Sempre me atentei em ser profissional sustentado pelas ciências que “abracei”, sendo, pois, meu esteio ou fundamentação de minha ação profissional.

Nessa época eu lia e estudava muito fenomenologia existencial: aconselhamento psicológico (Gerald Corey - humanismo existencial; e Rollo May), terapia existencial (Heidegger, Sartre, Nietzsche etc. - e os psicólogos e ou terapeutas que os seguia).

Como já fazia mestrado em educação na UFES, e já era orientador educacional, fiz uma boa associação entre o "método ver-julgar-agir" (tomadas de decisão individual, grupal e comunitária - Joseph Cardjin e Boran) e a pedagogia do oprimido (Freire) anunciando as humanidades e denunciando as desumanidades, assim como uma aprendizagem de uma consciência crítica indispensável ao viver imediato - e ao mesmo tempo personalizando cada atendimento (individual) inclusive os grupais e comunitários, trazendo à lume a psicologia freiriana que destaca a força da amorosidade, de uma escuta, considerando o “ser mais”, novamente a força da conscientização crítica que é uma espécie de “descanso na loucura”.

Eram temas que eu estudava fora da universidade (psicologia, terapias, orientação educacional, educador etc.). Sempre considerando o ser humano como ser-no-mundo que é.

Em momentos assim emergem teorizações diversas, e cabe ao psicólogo, que fui, escolher e atuar. Teorias solidificadas nos dão mais tranquilidade nas intervenções, os pensamentos, sentimentos e ações mais recomendadas pela ciência, são aplicadas. Ponto final.

Foi uma experiência muito importante, não só pra mim, mas para alguns outros psicólogos interessados e que me procuraram, após desse evento doloroso, para conversar e até estudar.

Quem obteve maior benefício, penso eu, é claro que foram as vítimas sobreviventes envolvidos com seus mortos, com os dramas etc.

Para os próprios moradores marcados por uma situação que tem muito a ver com a classe social, os cuidados oferecidos pela psicologia, educação - e com as profissionais do serviço social eram percebidos, na época, como algo potente e mantenedor do “ser mais” diante de tantas perdas humanas e materiais.

Bem, eles e elas, as vítimas sobreviventes, moravam em um morro, do “tipo” periferia, e que o Estado, como um todo, e todo o poder político nele presente, “sabem” dos riscos desses espaços críticos em períodos chuvosos (ou não).

Como eu já disse, na época eu também era orientador educacional, e fazia mestrado em Educação, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, PPGE/Ufes, talvez por isso, ou com alguma “certeza” (?) do meu lado, recorri a Freire nas minhas intervenções, ou melhor, práticas educacionais de fundo marxiano, existencial e fenomenológico. Já havia, naquela época, um trabalho envolvente de educação social, no qual era também envolvido.

Um psicólogo deve estar aberto às outras ciências possam facilitar seu desempenho, que têm muita psicologia, como é o caso das produções freirianas, por exemplo. Descrevemos o exercício da profissão psicólogo produzida por um profissional que é um cidadão ser-no-mundo, aberto a esse mundo complexo, injusto, dividido em classes sociais etc.

O profissional dos cuidados psicológicos, psicossociais e psicopedagógicos deve sempre estarão produção científica. Deve o psicólogo atuar cientificamente sintonizado também nessas situações catastróficas. Tratava-se de uma produção significativa que muito pode nos ajudar ali, no sentido de “inter(vir)” com efetividade (e afetividade) e com esforço singular e plural de tentativas de resolução de problemas.

Para se ter uma ideia do desenvolvimento positivo de a ciência psicológica, já tinha lido o livro “psicologia escolar” que tratava dos atendimentos em crises e conflitos, suja autoria eram Jack I. Bardon ; Virgínia C. Bennett, de 1975 mais ou menos. Referia-se à instituição escolar, mas que poderia trazer (e trouxe) algumas pistas para um psicólogo ligado mais à fenomenologia existencialista – na época não era graduado em filosofia, como sou hoje. Havia livros sobre a prevenção em saúde mental, e recordo de um autor do qual eu tinha seu livro, Gerald Caplan.

Sínteses: [1] foi um trabalho psicológico “pequeno” (?) diante da tragédia, em um labor que tem como fenômeno de pesquisa e intervenção a subjetividade e o comportamento (humano e animal), mas no meu caso, do ser humano que é ser-no-mundo; [2] Destaco nessa síntese o papel do trabalho do psicólogo em equipe, pois eu era o único psicólogo, mas advindo de um trabalho bem desenvolvido em equipe com assistentes sociais (presentes no evento traumático), ainda com psiquiatras (Sebastião Lyrio – um profissional muito envolvido, humanista existencial, poeta – algo que ajuda no trabalho clínico; havia também o doutor Valdir, que tive pouco contato), pedagogas e professoras, professores de educação física (Joel e Paulão, por exemplo). Devo ter esquecido nomes, por isso não ouso escrever os nomes das assistentes sociais, que eram mais de 20, creio eu.

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Hiran Pinel, autor dessa reflexão sempre em mudança frente às mais lembranças.


domingo, 7 de abril de 2024

 

DIFERENÇA ENTRE EIDOS E EPOCHÉ NO MÉTODO FENOMENOLÓGICO DE PESQUISA

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Hiran PINEL, autor.

Em copiando direta e ou indiretamente, referende segundo as normas propostas, no nosso caso, a ABNT.

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INTRODUÇÃO

Há dois momentos indissociados quando se aplica o método fenomenológico objetivando pesquisa e a produção de um artigo científico, por exemplo; ou planeja-se uma prática educacional (existencial) ou uma ação clínica (terapia e ou psicanálise existencial).

Quais são esses dois momentos? O que é e como é fazer isso?

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

[1] Eidos:

·        O termo "eidos" vem do grego e significa "essência" ou "forma ideal".

·        No método fenomenológico, o eidos se refere à busca pela estrutura essencial de um fenômeno, ou seja, pelas características que o definem e o distinguem de outros fenômenos.

·        O eidos é algo universal e atemporal, que não depende das experiências individuais ou das interpretações subjetivas.

·        Para chegar ao eidos de um fenômeno, o pesquisador fenomenológico, ou um educador e terapeuta fenomenológico-existencial, atua fazendo acontecer uma redução eidética, ao seu vivido, mas que impõe uma temporária suspensão ou "levantamento para fora" de conceitos pré-estabelecidos, ou pré-conceitos, dos próprios preconceitos, discriminações, estigmas, e bem como de opiniões pré-concebidas, ou mesmo teorizações sobre o fenômeno, e só depois, provoca uma centralização ou uma focalização, a arte e técnica de focar, naquilo que se apresenta de maneira percebida como pura e evidente. Bem, no caso, o pesquisador/cientista, o terapeuta/ psicanalista existencial, aconselhador terapêutico, filósofo clínico, psicopedagogo clínico e ou psicólogo clínico, musicoterapeuta, psicomotricista, psiquiatra etc., deve pensar-sentir-agir o que foi (e para ele o é) o significado de "pureza evidente" para o tempo-espaço de Husserl.

[2] Epoché:

·        O termo "epoché" vem do grego e significa "suspensão" ou "colocar entre parênteses" por um tempo, no tempo que se propõe "suspender", pois as coisas voltam ao seu comum, ao cotidiano.

·        No método fenomenológico de pesquisa (uma profissional de ser cientista, de produzir conhecimento) e ou de ação profissional (de atendimento clínico da psicopedagogia e ou terapia, ou uma aula), a epoché se refere à suspensão do juízo natural sobre o fenômeno que está sendo investigado. No caso do processo aula, o professor ou educador chega à sala de aula, e se coloca com o grupo, em uma postura de escuta de estar ali-agora juntos, em "comum-união", a espera do conteúdo que o próprio grupo tem, e que pouco interessa o estipulado pela sociedade. Na aula estamos em um grupo de aprendizagem cujo conteúdo emerge dele mesmo, individual e grupal, singular e plural, específico e geral, local/ estadual/nacional e internacional.

·        Epoché? O que isso significa? Ora, é o momento em que o cientista, aquele que recorre ao método fenomenológico de pesquisa (que por si só, é uma prática educacional e ou intervenção clínica) deve (pró)curar e ou tentar abster-se de fazer qualquer tipo de julgamento ou melhor. Nesse momento o cientista (pró)cura (e ou esforça-se) fazer isso, evocar-se da urgência de criar um esforço que chegue a isso, e que será algo que valha a pena, pois esse é um dado focal da identificação do método fenomenológico em relação aos outros métodos que circulam "por-aí". É uma atitude arrojada de suspensão de ideias e ações pré-estabelecida. Ir suspenso sobre a realidade do fenômeno, que pretende investigar (ou atender) descrevendo seu existir consigo mesmo (com os outros, no mundo), o "que é" e "como é" ser da pessoa com o fenômeno, o sentido dele se expressar aqui-e-agora, a motivação dele se (des)velar.

·        A epoché é um passo fundamental para evitar que as (pré)concepções do pesquisador influenciem a sua análise do fenômeno.

Em resumo:

·        eidos se refere à busca pela essência do fenômeno, enquanto a epoché se refere à suspensão do juízo sobre o fenômeno.

·        eidos é algo universal e atemporal, enquanto a epoché é uma atitude que o pesquisador deve adotar durante a investigação.

·        epoché é um passo necessário para chegar ao eidos do fenômeno.

·        [A epoché ou suspensão é necessária para chegar ao eidos (a essência) do fenômeno.

·        A epoché é quando o pesquisador se “envolve existencialmente” com o fenômeno da pesquisa, mergulha nele, sem ficar julgando, avaliando, prenhe de diversos conceitos como os teórico, afastados dos estigmas, preconceitos e discriminações. Já eidos é o momento do “distanciamento reflexivo”, quando vou apontar de modo mais racional o que é e como é ser, por ex., momento da escrita da tese que exigira pensar, raciocinar, tomar decisões.

 

Exemplo:

Imagine que você está pesquisando a experiência de viver a dor.

·        eidos da dor seria a sua essência, ou seja, aquilo que a define como dor e a distingue de outras experiências.

·        Para chegar ao eidos da dor, você precisaria realizar uma redução eidética, suspendendo as suas (pré)concepções sobre a dor e focando naquilo que se apresenta de maneira pura e evidente.

·        epoché seria um passo fundamental nesse processo, pois você precisaria abster-se de fazer qualquer tipo de julgamento sobre a realidade da dor, sua natureza ou suas causas.

·        Ambos os movimentos são indissociados

·        Ambos movimentos NÃO são totais e plenos, limitados que são pelo própria existir do ser-aí (Dasein) ser-no-mundo.

·        Os movimentos fenomenológicos são relativos, mas que pede um esforço do pesquisador, uma luta sutil e sensível - e generosa de assepsia de um balaio cheio de informações, por vezes, atordoantes, muita coisa pré-estabecida, disse-me-disse etc. Fazer um exercício fenomenológico implica produzi-lo sem desgastes subjetivos e comportamentais do investigador, para provar que o método fenomenológico é a melhor ferramenta e excelente dispositivo para estudar a experiência de ser do ser humano que é ser-no-mundo, sua subjetividade em ação, subjetivação.

CONCLUSÃO

Para aprofundar seus conhecimentos sobre eidos e epoché no método fenomenológico de pesquisa, você pode consultar as seguintes obras:
· FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia Fenomenológica. INDISPENSÁVEL
· FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Aconselhamento terapêutico.
· AMATUZZI, Mauro Martins. Por uma psicologia humana.
· PINEL, Hiran. Método fenomenológico existencial para o terapeuta, pedagogo (orientador educacional), professor e educador.
· PINEL, Hiran. A formação do pedagogo hospitalar como um ator no/do clonw pelo método fenomenológico existencial.
· PINEL, Hiran. O método fenomenológico na formação da professora de classe hospitalar.
· PINEL, Hiran. Pedagogia hospitalar; uma abodagem centrada na pessoa encarnada.
· PINEL, Hiran. Brincar de viver enquanto a vida há; os profissionais nos espaços (e tempos) da brinquedoteca hospitalar.
· PINEL, Hiran. O método fenomenológico aplicado à Pedagogia Especial, Hospitalar e Inclusiva: a pesquisa e as práticas educacionais.
. PINEL, Hiran. Variação eidética; a prática na pesquisa pedagógica.
***
· HUSSERL, Edmund. A ideia da fenomenologia (1907)
· HUSSERL, Edmund. Coleção Os Pensadores. ed. Abril
· HUSSERL, Edmund. A crise da humanidade europeia e a filosofia.
· HUSSERL, Edmund. Conferências de Paris.
· HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas: introdução à fenomenologia.
· DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia?
. LYOTARD, Jean-François. A Fenomenologia.
· DEPRAZ, Natalie. Compreender Husserl.
· MOREIRA, Daniel Augusto. O método fenomenológico na pesquisa.
· HEIDEGGER, Martin. (1927). Ser e tempo.
· MERLEAU-PONTY, Maurice. (1945). Fenomenologia da percepção.
MERLEAU-PONTY, Maurice. As ciências do homem e a Fenomenologia
· SARTRE, Jean-Paul. Ser e nada.
· SARTRE, Jean-Paul. Questão de método.
· SARTRE, Jean-Paul. Crítica da razão dialética - MINHA NOTA: aqui tem um capítulo sobre "o método", e um outro, perfeito, que adoro, sobre a "Psicanálise Existencial".

NOTA
Sempre é adequado ter a humildade não-submisa de recordar ao leitor de que um bom modo de ser na Fenomenologia é a de entender (e quem sabe, compreender) as diferenças (e semelhanças) entre eidos epoché consultando as fontes de onde nasceram tais ideias, a começar por Husserl seu criador, e seu renomados e grandes (e de certa autonomia do mestre) e seguidores como Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, Trần Đức Thảo, Alfred Schutz, Rollo May, Hans Georg Gadamer, Yolanda Cintrão Forghieri Teresa Erthal, Virgínia Moreira, Irving D. Yalom etc., e se familiarizar com os debates e pesquisas que foram realizados no âmbito da fenomenologia.
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sábado, 6 de abril de 2024

 

O MÉTODO FENOMENOLÓGICO DE CARL ROGERS

Hiran PINEL, autor.

O método fenomenológico de Carl Rogers é algo que eu estou refletindo. Pensei: Em Rogers sendo psicólogo e ou professor/ educação fenomenológico, como posso escrever sobre isso. Primeiro é reconhecer que Rogers passou tangencialmente pelo método fenomenológico, mas muitos didático o classificam assim, e o motivo quase é sempre é porque ele foca na subjetividade. Interessado no método mesmo recomendo ir às bases como Husserl, Merleau-Ponty, Heidegger e até Simone de Beauvoir que subverte, mantendo alguns pontos como “ir às coisas mesmas”, leve epoché, com elementos diferenciados: valoriza a explicação e na Filosofia da História, ou a História mesma.

***

Rogers, vamos defender como fenomenológista, mas um psicólogo, um clinico, um terapeuta humanista-existencial, professor, educador, cientista etc. Ou seja, como ocorre sempre, a Fenomenologia nasceu na Filosofia, mas quando um psicólogo clínico e ou professor humanista vai até a ela (Filosofia) e traz para sua outra ciência (Psicologia clínica e Pedagogia e suas práticas educacionais) ele vai dar outros significados ao que leu, sentiu, agiu. Ele vai aplicar do método fenomenológico apenas o que ele conseguiu. O foco do Rogers é a clínica psicológica e a ações sociais. Nunca nada dele que destaque o método, Husserl, Merleau-Pony.

Rogers inspira-se na ideia, de que a melhor maneira de compreender a experiência de uma pessoa. é através da sua própria perspectiva (dela, da pessoa), e com isso o cientista "ir às coisas mesmas", no caso, "ir à experiência mesma" da pessoa.

É na experiência é que está o ser a ser descrito e compreendido, e nela que tudo se encontra do experienciar. Rogers defendia a importância de "entrar no mundo do cliente", e essa proposta pode significar "a coisa mesma".

O modo se "ir a essa coisa", é "entrar no mundo experiencial do outro" e descrevê-lo objetivando compreensão acerca desse ser humano que se desvela do seu mundo singular,  na pluralidade de ser.

''Perceber as coisas'' do "seu" ponto de vista, o ponto de vista dele (Rogers), do outro. e isso Carl aproxima-se a um "ponto central" do "método fenomenológicorogeriano; o profissional da clínica, da prática educacional e da pesquisa precisa envolver-se existencialmente com o outro, como SE esse outro fosse. Assim, a proposta de Rogers é de ir à subjetividade, e isso o traz mais e mais à lume, elementos do “método fenomenológico”. Se um elemento do método fenomenológico é a epoché (suspensão), a empatia, tão valorizada por Rogers dá essa ideia, aproximando muito. Como “a epoché nunca é total”, então a empatia que também o é (senão, não seríamos nós, mas o outro) traz essas ligação de “mergulho profundo” no ser do outro.

Princípios fundamentais do Método Fenomenológico em Rogers: 

[1] ESCUTA EMPÁTICA: o pesquisador (ou o terapeuta) escuta o cliente (ou sujeito da pesquisa) com atenção e compreensão, buscando entender seus sentimentos, pensamentos, ações corporais nas experiências, não escapando dessa situação experiencial de "ser o outro" (SE), evitando distrações, perda da atenção naturalmente focada no outro;

[2] ACEITAÇÃO INCONDICIONAL: do ser humano tal qual ele o é; o cientista (e ou clínico, ou os dois) aceita o cliente/ paciente como ele é, sem julgamentos ou críticas. O sujeito da pesquisa também no campo vai sem julgar, suspende as críticas, as teorizações, os preconceitos, estigmas, discriminações;

[3] CONGRUÊNCIA: o terapeuta e pesquisador devem ser autênticos e verdadeiros em sua relação com o cliente ou sujeito da pesquisa; ser honesto, mas de uma honestidade não violenta;

[4] RESPEIRO & PERMISSÃO À PESSOA SER: O terapeuta e pesquisador deve reconhecer a autonomia do cliente, mas de um autonomia diante do outro, não de uma encapsulada. O pesquisador reconhece a capacidade do outro de tomar suas próprias decisões, ele com ele mesmo e com o outro, e os outros, já que a pessoa é relação e é encontro.

Aplicação do Método Fenomenológico >>> método fenomenológico é aplicado na terapia através de algumas técnicas específicas, como: REFLEXÃO: o terapeuta reflete os sentimentos e pensamentos do cliente, sua expressão corporal, ajudando-o a ter uma maior clareza sobre sua experiência, e uma ajuda pautada pelo cuidado. Na reflexão, no momento da descrição do vivido no set clínico ou no set do campo, o pesquisador interrogará ao texto descrito: O que é e o como é essa pessoa nessa experiência vivencial?. Tem ainda a CLARIFICAÇÃO: o terapeuta (pró)cura e ou busca esclarecer os pontos que o cliente está expressando de forma confusa ou incompleta, deixa claro o outro, do ponto de vista daquele outro; o pesquisador (e nem o clínico) se posiciona interferindo; FOCALIZAÇÃO: o terapeuta cuida para que o cliente e ou o sujeito da pesquisa se concentrem em um determinado aspecto de sua experiência, aprofundando sua compreensão. No caso da pesquisa, o cientista foca na experiência do outro, e se aprofunda em sentir-pensar-agir o ser dele (da pessoa da pesquisa) na experiência pesquisada. Mas, como vemos, essas etapas são etapas (racionalidade), mas também são atitudes, disposições etc. Mas, se dicar na empatia, essa é uma decisão essencialmente de sentido e aproxima do método fenomenológico no que tange à epoche.

Benefícios do Método Fenomenológico: O método fenomenológico, como um modo de intervenção ou de prática educacional existencial, pode trazer diversos benefícios para o cliente, para o estudante ou para o sujeito da pesquisa, e aqui-agora fica evidenciado de que o método de pesquisa tem impacto de ação.

O método é de pesquisa, mas é também de intervenção (é uma prática educacional existencial) – os dois. Ambos movimentos, pesquisa e cuidados com o outro (educação, terapia).

Um pesquisador empático (fenomenológico), com essa atitude, vai a campo coletar (ou produzir) dados, “mas a sua presença’ não é apenas uma “simples presença”, descrevemos uma (PRÉ)SENÇA, alguém que é “presente de presença” (a presença como presente simples e cotidiano) na vida do outro. Ninguém escapa de uma relação humana diferenciada do ponto de vista de produzir benefícios no outro. Assim, essa relação mediada pela empatia descrita por Rogers, vai além de uma relação humana, mas “inter-humana”, e “interexperiencial”.

O encontro pesquisador-pesquisado pautado pela empatia, por produzir no outro melhor autoconhecimento, ou seja, a pessoa que colabora na pesquisa cedendo seus dados, se torna mais consciente de seus sentimentos, pensamentos, corpo, raciocínio, emoções, desejos - tudo isso contido nas experiências; crescimento pessoal: desenvolve a capacidade do outro em lidar com situações difíceis e de se adaptar às mudanças, repetindo: a função do pesquisador pode ser descrever o impacto do método fenomenológico de pesquisa sendo transformado em intervenção, mas de modo mais comum, essa não é a meta do pesquisador, ainda que isso possa ocorrer, se o pesquisador realmente ser um diferencial na vida do outro, veja que o método traz elementos da clínica; melhora nos relacionamentos inter-humanos e interexperienciais: o outro se torna mais capaz de se comunicar e de se relacionar com outras pessoas, melhorando a qualidade relacional oferecida ao outros, e o encontro, por si só, é a experiência.

Críticas ao método fenomenológico: TODO MÉTODO DE PESQUISA TEM SEUS LIMITES, E PODEMOS LEVANTAR DIVERSAS CRÍTICAS. Em Rogers isso se complexifica, pois ele nunca produziu algo sobre ele ter usado o método fenomenológico, ou marcado por esses pensadores. Ele realmente dedicou um bom capítulo sobre Paulo Freire, e apesar das diferenças entre dos dois, há pontos em comum, ele pondera

.O método fenomenológico tem sido criticado por ser uma abordagem "muito subjetiva", e por algumas não levar em consideração os fatores sociais e culturais (históricos) que podem influenciar a experiência do cliente e do pesquisador, mas, isso, tende a ser superado, não falo afirmando, mas sugerindo ligações, quando Rogers escreve "Sobre o poder pessoal", é nesse clássico, por exemplo, ao esse psicólogo irá interessar-se pelo livro de Paulo Freire, "Pedagogia do Oprimido", levando-o à realidade, à concretude, ao encarnado.

Freire anuncia as humanidades, mas acima de tudo denuncia as violências das instituições (suas desumanidades). A própria ação desse psicólogo e educador em adentrar aos movimentos políticos, revela sua teoria, ele foi um ativo cidadão popular e conhecido, até popularmente, engajado contra a bomba atômica, participou de passeatas em plena Guerra Americana no Vietnã.

Adicionado a isso, alguns críticos argumentam que o método fenomenológico consome muito tempo e carece de uma estrutura teórica clara. O tempo consumido é na terapia, e essa é sua benesse, na pesquisa, não há interesse da terapia, ainda que possa provocar mudanças positivas do outro - MAS, não é a meta, a não ser que seja, mas aí é outra modalidade de pesquisa fenomenológica inspirada em Carl.

Conclusão: o método fenomenológico de Carl Rogers é uma ferramenta valiosa para a terapia, e que funciona para a pesquisa, e isso fica evidenciado, pois o Rogers produzia clínica e ao mesmo tempo, criava pesquisa, resultando em seus famosos textos em livros e em artigos. O caso é que a ideia de método fenomenológico rogeriano, permite ao terapeuta (e ao cientista) descrever detalhadamente, e com isso, naturalmente compreender a experiência do outro de forma profunda e significativa, de uma nova forma de "com+preender". Ao criar um ambiente seguro e acolhedor, o terapeuta (e cientista) ajuda pela vida do cuidado ao cliente (e ao sujeito da pesquisa), podendo facilitar para que ele explore seus sentimentos, pensamentos, raciocínios, emoções, desejos, corpos - a experiências, e a encontrar suas próprias soluções para seus problemas. ou que o sujeito da pesquisa saída dele em um processo de autocompensão, algo de si com o outro no mundo.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o método fenomenológico de Carl Rogers, você pode consultar as seguintes obras:

·        Rogers, C. R. (1961). On becoming a person. Boston: Houghton Mifflin.

·        Rogers, C. R. (1970). Grupos de encontro

·        King, M. (2001). The human journey: A biography of Carl Rogers. New York: Human Sciences Press.

·        Kirschenbaum, H., & Henderson, V. L. (1990). Carl Rogers: Dialogues on his life and work. New York: Houghton Mifflin.

·        Rogers, Carl. Sobre o poder pessoal.

·        Rogers, Carl. O homem e a ciência do homem.

·        Zimring, Fred. Carl Rogers. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. Site: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4665.pdf

·        Rogers, Carl. Liberdade para aprender.

·        Forghieri, Yolanda Cintrão. Psicologia fenomenológica.

·        Amatuzzi, Mauro Martins. Por uma psicologia humana.

Lembre-se de que a melhor maneira de compreender o método fenomenológico de Carl Rogers é ler as obras de Rogers, as obras de seus principais críticos e se familiarizar com os debates e pesquisas que foram realizados no âmbito da psicologia.

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Hiran Pinel, autor.