terça-feira, 7 de maio de 2024

 O POSSÍVEL MÉTODO FENOMENOLÓGICO UTILIZADO PELO EXISTENCIALISTA VIKTOR EMIL FRANKL

Hiran Pinel, autor.

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Em resumo, o método fenomenológico de pesquisa utilizado por Viktor Frankl, enquanto ele pesquisava, pode apresentar algumas características indisssociadas (não-lineares). 

O que há de originalidade é sua própria teorização do sentido da vida e da logoterapia, no mais é o método fenomenológico, mas que destaca o modo dele trabalhar. Há características que identificam o método fenomenológico em todas as instâncias: epoché (suspensão), eidos, "ir às coisas mesmas", "ser-no-mundo', consciência, "experiência vivida" e essência. Há em comum com todas as ciências: produzir uma descrição, que torna fenomenológica, quando falamos em descrição compreensiva. Outros termos fenomenológicos: empatia, análise existencial dos dados, foco na primeira pessoa (ela narra sua experiência), subjetividade e intersubjetividade. 

A lista que caracterizam seu método se deu a partir de nossa leitura, análise e pesquisa do livro "Em Busca De Sentido: Um psicólogo no campo de concentração", bem como discussão da história do próprio texto.

·                  Ficar atento no texto em  primeira pessoa: A pesquisa de Frankl se baseava na análise aprofundada dos relatos dos indivíduos, buscando entender suas vivências a partir de suas próprias perspectivas. Através de entrevistas e análises de diários, ele buscava captar a essência das experiências, indo além das meras descrições superficiais.

·                  Experiência surpresa: A partir daí o sentido pode ser localizado ENTRE uma "experiência-surpresa" e uma percepção gestáltica, pois de modo sensível e provocador, de repente, não mais do que de repente, emerge um sentido (da vida) diante de nosso olhar, ou melhor, da nossa percepção, pois é algo que (co)move nosso organismo e (nosso) corpo. Trata-se de uma percepção de sentido.

·                  Descobrir o sentido: Frankl (1990, 1991; 1995) diz que a via de um "processo de descoberta do sentido" pode tomar como primeiro passo a utilização de depoimentos, de "material biográfico" (FRANKL, 1990, p. 22; 1991; p. 123) acerca da vivência de sentido.

·                  Ênfase na subjetividade e na unicidade: das experiências humanas, ainda que considere o mundo, o próprio Nazismo aparece em seus relatos e ele nos diz "ser-no-mundo'; intersubjetividade; interexperiência; inter-humano. Trata-se essencialmente da subjetividade, mas sem ignorar o outro, os outros, mundo, a geografia, a sociedade, a cultura, a história, a economia, a segurança, a saúde e saúde pública, a escolarização etc.

·                  Empatia: Frankl defendia a empatia, exigindo que o pesquisador se colocasse no lugar do outro como "se" o fosse, (pró)curando      compreender as vivências com o outro. E colocado ao pesquisados em postura de abertura e interesse sincero. Essa atitude é fundamental para evitar interpretações distorcidas e captar a autenticidade das experiências.

·                  Intencionalidade e sentido: Para Frankl, a intencionalidade era um aspecto central da existência humanaCada indivíduo busca atribuir sentido às suas experiências, mesmo as mais dolorosas. A tarefa do pesquisador fenomenológico, nesse contexto, era (des)vendar os sentidos que os indivíduos construíam para suas vidas, mesmo em situações extremas. Na intencionalidade humana como se desvela o sentido da vida e seus enfrentamentos otimistas, ainda que a "tragicidade" exista

·                  Suspensão dos de (pré)conceitos: estigmas, discriminações, bem como teorias estudadas e já produzidas, conceitos antecipados - dentre outros que atrapalham a epoché, que é um mergulho na existência do outro; um mergulho livre e aberto ao outro. É adequado recordar com Merleau-Ponty que toda epoché é relativa, encontra limites, mas isso não impede que o cientista tente

·                  Descrição do vivido pelo outro: deve ser construída de modo ampliar a compreensão acerca do outro; acompanhar esse outro com uma racionalidade indissociada do corpo e do afeto, o eidos, ou um momento em que se exige do pesquisador um distanciamento relativo do campo, pois ao escrever seu livro, tese, artigo científico, precisará recordar do seu vivido com a pessoa que se dispõe a colaborar na sua pesquisa. A descrição supõe uma ação mais racional. "Nós, os psiquiatras [e outros "psi's"], não podemos ‘receitar’ sentido. Mas podemos descrever, mediante a análise fenomenológica, o que se passa numa pessoa que encontra o sentido'

·                  Descrição compreensiva: (com+preender); apreender o sentido da vida do outro, "com" o outro.

·                  Uma disposição atentiva de "ir às coisas mesmas": ir ao texto "produzido mesmo", por exemplo; o texto é a descrição do vivido, ou uma descrição narrativa - voltar sempre a ele. Atento ao objetivo humano de descrever o "que é' e o 'como é" ser, chegar a essa essência, e assim "retornar às coisas mesmas". De modo mais abrangente, "ir as coisas mesmas" é "viajar" profundamente ao mundo da experiência (contido no texto, no caso). Essa viagem implica em "epoché" da primeira vez; "ir" desarmado ao texto e envolver-se existencialmente com o escrito (e com isso a pessoa pesquisada). Além da epoché, é demandando o eidos revelando o rigor científico do método fenomenológico: emoção e razão, corpo e em Frankl, o espírito.

·                  Centrar na intencionalidade: ninguém escapa da intencionalidade; a consciência é sempre intencional

·                  Reconhecimento da vontade de sentido como força motivadora fundamental; o desejo; o interesse.

·                  Pesquisa do narrador": pode ser que o pesquisador faça uma pesquisa fenomenológica que propõe ele descrever e narrar o seu próprio processo em pesquisa; na primeiríssima pessoa; o pesquisador é o sujeito da sua própria pesquisa; isso pode ser compatível com livro de Frankl: "Em busca de sentido", quando descreve o dia-a-dia nos campos de concentração, o cotidiano vivido; Viktor, ele próprio, é o testemunha ocular da história

·                  Busca pelo sentido: Identificar o que dá significado à vida do indivíduo, como ele acha e procura, e acha e procura...

·                  Diálogo existencial: no caso da pesquisa, o cientista dialoga com os dados colhidos, produzindo uma reflexão acerca do "sentido da vida";

·                  Análise fenomenológica da vivência: Frankl analisou as experiências dos prisioneiros nos campos de concentração, buscando compreender seus pensamentos, raciocínios, desejos, emoções, sentimentos e comportamentos, expressões corporais e vida espiritual dentro daquele contexto, daquela comunidade, sociedade, cultura... (e corpo) além do vida espiritual. Analisar os dados coletados na pesquisa, e depois analisar existencialmente o casa, a pessoa.

·                  Tradução: A fenomenologia o método de investigação adequado no sentido de operar essa “tradução”, ou seja, a "experiência cotidiana" comum passa por uma análise simples, acima dos dados mesmos coletados, por isso a condição potente de ir às "coisas mesmas", todo esse processo em uma linguagem simples, tal qual a coletada e ou produzida no campo. Mas, é preciso fazer uma "análise fenomenológico-existencial", quando passa o texto do cotidiano para uma "traduçã" numa linguagem científica - então há uma tradução (do vivido no dia-a-dia comum) e depois uma "retradução", dialogando o que se apreendeu dessas análises fenomenológicas e as teorizações, no caso, a produção científica de Frankl.

·                  Descoberta da vontade de sentido: Através da análise fenomenológica, Frankl identificou a vontade de sentido como a principal motivação humana, mesmo em situações extremas como o Holocausto. 

ELEMENTOS VITAIS DA LOGOTERAPIA QUE PODEM SER UTILIZADOS EM PESQUISA CLÍNICAS (OU NÃO) DE ESTUDO DE CASO DESCRIVO DE UMA PESSOA OU UM GRUPO:

·                  Análise Existencial: Explorar as experiências e crenças do indivíduo/ sujeito da pesquisa para descrever seu encontro com o sentido, como isso aconteceu - isso, se a pessoa não está desesperançada, pois aí é o cuidado (intervenção explícita)

·                  Análise de sonhos: Através da análise fenomenológica dos sonhos, Frankl buscava acessar o "inconsciente" do paciente e ajudá-lo a compreender seus conflitos e motivações. Os conteúdos e a temática dos sonhos analisados comprovam que são um caminho de acesso ao "inconsciente espiritual". É outro elemento típico de psicoterapia, mas pode ser utilizado na investigação, onde o pesquisador analisa o sonho do sujeito descrevendo o esse  "inconsciente existencial" (não inconsciente freudiano).

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[Hiran Pinel, autor]

Em citando recorra as legislações que exigem dar autoria.