LAING, R. D. A Política da experiência e a ave-do-paraíso. Petrópolis: Vozes, 1974.
LAING,
R. O si mesmo (self) e o outro; interação e interexperiências nas Díades. In.:
LAING, R. D.; PHILLIPSON, H.; LEE, A. R. Percepção interpessoal;
uma teoria e um método de pesquisa. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado, 1966.
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PESQUISA FENOMENOLÓGICA FRANKLIANA
Hiran Pinel, autor.
Um "processo de descoberta do sentido" é
a meta do terapeuta e do pesquisador - isso em Frankl. (...) O que o
pesquisador fará no seu relatório final da investigação frankliana?
O cientista
analisará os dados coletados, o que de modo tradicional denomina-se de
“resultados” (aqui se apresenta os dados, um depoimento, por exemplo) e a
“discussão dos dados” (análise existencial do depoimento, usando termos de Frankl).
E como ele
descreverá?
O pesquisador
executará seu texto científico descrevendo e (des)velando o “que é” e do “como
é” ser humano no mundo, e isso o leva a produzir uma (des)coberta do sentido
[grifo nosso], descobrir o sentido da vida é uma das contribuições dessa
pesquisa fenomenológica proposta por Frankl. O pesquisador fará um relatório
final da pesquisa responderá o ‘que é” e “como é” o sentido da vida para o
sujeito da pesquisa. Na análise deve-se considerar que o humano é no mundo
havendo uma interrelação entre o singular (eu; ego; self) e o mundo (sociedade,
cultura, história etc.).
Frankl então
recomenda, como primeiro passo da pesquisa, a coleta de dados, a utilização de
diários (de campo – com as descrições detalhadas do vivido), depoimentos,
narrativas, contação de causos - tudo descrito, ou como escreveu: para esse
tipo de pesquisa o melhor é utilizar de "material biográfico"
(FRANKL, 1990, p. 22; 1991; p. 123) [grifo nosso] acerca da vivência de
sentido. Trata-se de contar uma vida; estudo de uma vida (de caso) uma
descrição narrativa.
No seu livro
"Em busca de sentido" ele faz um longo depoimento acerca da sua
própria experiência vivida-sentida, autodescrição do que estava sendo
experienciado [grifo nosso]. Ele estava nos campos de concentração
nazistas, que era um espaço-tempo de onde inventou seus discursos e ou teorias.
Na dor,
talvez como transcendência [grifo nosso] daquela dor sentida, ele começou
a produzir ciência [grifo nosso], a cuidar dos seus companheiros
existenciais mais doloridos. A partir daí, dessas descrições, defendemos de que
o sentido (da vida) pode ser localizado ENTRE uma "experiência-surpresa"
[grifo nosso] e uma “percepção gestáltica” [grifo nosso], que na
terapia, leva ao paciente a criar uma ação – uma tomada de decisão. De
modo sensível e provocador, de repente, não mais do que de repente, emerge um significado
do viver [grifo nosso] diante da nossa percepção [grifo nosso] (...)
[isso é algo que] (comove nosso organismo e (nosso) corpo, alma, mente,
espiritualidade - o ser-no-mundo (Pinel, 2012, p. 1).
Frankl (1990) nos descreve que para validar uma
pesquisa existencial [grifo nosso] é só o pesquisador "ir às coisas
mesmas" [grifo nosso]. Ele é um cientista que lê e relê. Ele se torna
sensível do vivido, aos dados coletados e agora descritos. Frankl assume que
recorreu, como instrumento de coleta de dados, à sua autobiografia do seu
vivido em campos de concentração [grifo nosso] - sua experiência ali, naquele
tempo, e espaço. a descrição é compatível com a realidade vivida [grifo
nosso] – você lê e pode se sentir lá num determinado campo com o autor.
Dessa descrição
fidedigna do "experienciado" [grifo nosso], Frankl produz uma
teorização de uma psicoterapia. Assim, a autobiografia (o dado coletado e agora
descrito) valida a teoria, e a teoria é validada por encontrar referências,
respaldos ou fundamentos compatíveis com a experiência descrita.
Síntese: foi
a experiência vivida de Frankl, agora descrita, que o levou a criar a
Logoterapia, que foi validada pela descrição autobiográfica [grifo
nosso] (...) uma pesquisa descritiva de uma experiência [grifo nosso]
pode levar ao pesquisador a (des)cobrir algo, e cientificamente, será a
experiência perfeitamente descrita é que validará esse (des)velar de uma proposta
teórica nascida da prática [grifo nosso] (descrição tal qual foi o real)
(Pinel, 2012, p. 1).
Frankl refere-se a uma análise existencial [grifo
nosso] (e ou análise fenomenológica) não só como modo de terapia da
Logoterapia, mas, podemos “inferir” como um modo de discutir os dados coletados
da pesquisas, um modo de analisá-los, interpretá-los.
Quando Frankl publica um caso clínico, e revela o que
“disse” ao paciente, ele cria um modo de “analisar a existência” [da pessoa]
que está sob a égide da Logoterapia, e ao mesmo modo, pode ser um modo de fazer
pesquisa fenomenológica, analisando os dados, no caso, a discursividade do
sujeito que (pró)cura cuidados clínicos. (Pinel, 2012; p. 1).
“Nós, os psiquiatras [e outros
"psi's"], não podemos ‘receitar’ sentido. Mas
podemos descrever, mediante a análise fenomenológica, o que se passa numa
pessoa que encontra o sentido na sua existência. E essa análise revela-nos um elemento a que gostaria de chamar ‘o óbvio ontológico
pré-reflexivo’; ou seja, aquilo que o homem comum, o homem [ou pessoa] da
rua, quer dizer quando fala de ‘ser homem’ [ser pessoa] , fazendo uso do seu
senso comum, da sua sapientia cordis” (FRANKL, 2003b, p.31).
A fenomenologia é o método de
investigação, o mais adequado no sentido de operar essa “tradução” (análise),
ou seja: a experiência cotidiana comum passa por uma análise
fenomenológico-existencial, em outras palavras, passa por uma tradução. Por sua
vez, a Logoterapia (terapia do sentido da vida), a partir disso, deve
“retraduzir” para o paciente, recorrendo a uma linguagem simples o que se
apreendeu dessas análises fenomenológicas. FONTE: FRANKL, Viktor Emil. Sede de
Sentido. São Paulo: Quadrante, 2003.
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Interessante
notar o seguinte com o pesquisador fenomenológico. A pesquisa fenomenológica,
se levada a contendo, com qualidade refinada das relações intersubjetivas e inter-humanas,
que é um modo correto de fazer uma pesquisa fenomenológica apregoado pelas
diversas Psicologia Existenciais.
Essa
Psicologia acaba desvelando uma via de mão dupla, e indissociada: ao pesquisar
desse modo de ser, o pesquisador não é só cientista, ele também é um autor de
uma “prática educacional existencialista”, logo, ele é cientista e um
professor que ensina mais escutando do que falando, um professor totalmente
diferenciado do “falastrão”.
Uma
aula também diferente, um pouco próxima à proposta da Abordagem Centrada na
Pessoa do aluno (Carl Rogers). Nossa proposta defende que um pesquisador
fenomenológico.
Assumindo
essa tarefa de pesquisador, desejando ou não, ele ensinará pela escuta a mais
empática possível, gerando aprendizagens. O currículo educacional parte ou advém
da pessoa pesquisa. Não em vão, um sujeito da pesquisa se sente diferenciado
depois, ele percebe que foi se desenvolvendo e aprendendo gradativamente, ou
seja: ninguém sai imune de uma relação inter-humana e intersubjetiva que
poderíamos adjetiva-la de positiva.