terça-feira, 7 de maio de 2024

LAING, R. D. A Política da experiência e a ave-do-paraíso. Petrópolis: Vozes, 1974.

LAING, R. O si mesmo (self) e o outro; interação e interexperiências nas Díades. In.: LAING, R. D.; PHILLIPSON, H.; LEE, A. R. Percepção interpessoal; uma teoria e um método de pesquisa. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado, 1966.

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PESQUISA FENOMENOLÓGICA FRANKLIANA

Hiran Pinel, autor.

Um "processo de descoberta do sentido" é a meta do terapeuta e do pesquisador - isso em Frankl. (...) O que o pesquisador fará no seu relatório final da investigação frankliana?

O cientista analisará os dados coletados, o que de modo tradicional denomina-se de “resultados” (aqui se apresenta os dados, um depoimento, por exemplo) e a “discussão dos dados” (análise existencial do depoimento, usando termos de Frankl).

E como ele descreverá?

O pesquisador executará seu texto científico descrevendo e (des)velando o “que é” e do “como é” ser humano no mundo, e isso o leva a produzir uma (des)coberta do sentido [grifo nosso], descobrir o sentido da vida é uma das contribuições dessa pesquisa fenomenológica proposta por Frankl. O pesquisador fará um relatório final da pesquisa responderá o ‘que é” e “como é” o sentido da vida para o sujeito da pesquisa. Na análise deve-se considerar que o humano é no mundo havendo uma interrelação entre o singular (eu; ego; self) e o mundo (sociedade, cultura, história etc.).

Frankl então recomenda, como primeiro passo da pesquisa, a coleta de dados, a utilização de diários (de campo – com as descrições detalhadas do vivido), depoimentos, narrativas, contação de causos - tudo descrito, ou como escreveu: para esse tipo de pesquisa o melhor é utilizar de "material biográfico" (FRANKL, 1990, p. 22; 1991; p. 123) [grifo nosso] acerca da vivência de sentido. Trata-se de contar uma vida; estudo de uma vida (de caso) uma descrição narrativa.

No seu livro "Em busca de sentido" ele faz um longo depoimento acerca da sua própria experiência vivida-sentida, autodescrição do que estava sendo experienciado [grifo nosso]. Ele estava nos campos de concentração nazistas, que era um espaço-tempo de onde inventou seus discursos e ou teorias.

Na dor, talvez como transcendência [grifo nosso] daquela dor sentida, ele começou a produzir ciência [grifo nosso], a cuidar dos seus companheiros existenciais mais doloridos. A partir daí, dessas descrições, defendemos de que o sentido (da vida) pode ser localizado ENTRE uma "experiência-surpresa" [grifo nosso] e uma “percepção gestáltica” [grifo nosso], que na terapia, leva ao paciente a criar uma ação – uma tomada de decisão.  De modo sensível e provocador, de repente, não mais do que de repente, emerge um significado do viver [grifo nosso] diante da nossa percepção [grifo nosso] (...) [isso é algo que] (comove nosso organismo e (nosso) corpo, alma, mente, espiritualidade - o ser-no-mundo  (Pinel, 2012, p. 1).

Frankl (1990) nos descreve que para validar uma pesquisa existencial [grifo nosso] é só o pesquisador "ir às coisas mesmas" [grifo nosso]. Ele é um cientista que lê e relê. Ele se torna sensível do vivido, aos dados coletados e agora descritos. Frankl assume que recorreu, como instrumento de coleta de dados, à sua autobiografia do seu vivido em campos de concentração [grifo nosso] - sua experiência ali, naquele tempo, e espaço. a descrição é compatível com a realidade vivida [grifo nosso] – você lê e pode se sentir lá num determinado campo com o autor.

Dessa descrição fidedigna do "experienciado" [grifo nosso], Frankl produz uma teorização de uma psicoterapia. Assim, a autobiografia (o dado coletado e agora descrito) valida a teoria, e a teoria é validada por encontrar referências, respaldos ou fundamentos compatíveis com a experiência descrita.

Síntese: foi a experiência vivida de Frankl, agora descrita, que o levou a criar a Logoterapia, que foi validada pela descrição autobiográfica  [grifo nosso] (...) uma pesquisa descritiva de uma experiência [grifo nosso] pode levar ao pesquisador a (des)cobrir algo, e cientificamente, será a experiência perfeitamente descrita é que validará esse (des)velar de uma proposta teórica nascida da prática [grifo nosso] (descrição tal qual foi o real) (Pinel, 2012, p. 1).

Frankl refere-se a uma análise existencial [grifo nosso] (e ou análise fenomenológica) não só como modo de terapia da Logoterapia, mas, podemos “inferir” como um modo de discutir os dados coletados da pesquisas, um modo de analisá-los, interpretá-los.

Quando Frankl publica um caso clínico, e revela o que “disse” ao paciente, ele cria um modo de “analisar a existência” [da pessoa] que está sob a égide da Logoterapia, e ao mesmo modo, pode ser um modo de fazer pesquisa fenomenológica, analisando os dados, no caso, a discursividade do sujeito que (pró)cura cuidados clínicos. (Pinel, 2012; p. 1).

“Nós, os psiquiatras [e outros "psi's"], não podemos ‘receitar’ sentido. Mas podemos descrever, mediante a análise fenomenológica, o que se passa numa pessoa que encontra o sentido na sua existência. E essa análise revela-nos um elemento a que gostaria de chamar ‘o óbvio ontológico pré-reflexivo’; ou seja, aquilo que o homem comum, o homem [ou pessoa] da rua, quer dizer quando fala de ‘ser homem’ [ser pessoa] , fazendo uso do seu senso comum, da sua sapientia cordis” (FRANKL, 2003b, p.31) 

A fenomenologia é o método de investigação, o mais adequado no sentido de operar essa “tradução” (análise), ou seja: a experiência cotidiana comum passa por uma análise fenomenológico-existencial, em outras palavras, passa por uma tradução. Por sua vez, a Logoterapia (terapia do sentido da vida), a partir disso, deve “retraduzir” para o paciente, recorrendo a uma linguagem simples o que se apreendeu dessas análises fenomenológicas. FONTE: FRANKL, Viktor Emil. Sede de Sentido. São Paulo: Quadrante, 2003.

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Interessante notar o seguinte com o pesquisador fenomenológico. A pesquisa fenomenológica, se levada a contendo, com qualidade refinada das relações intersubjetivas e inter-humanas, que é um modo correto de fazer uma pesquisa fenomenológica apregoado pelas diversas Psicologia Existenciais.

Essa Psicologia acaba desvelando uma via de mão dupla, e indissociada: ao pesquisar desse modo de ser, o pesquisador não é só cientista, ele também é um autor de uma “prática educacional existencialista”, logo, ele é cientista e um professor que ensina mais escutando do que falando, um professor totalmente diferenciado do “falastrão”.

Uma aula também diferente, um pouco próxima à proposta da Abordagem Centrada na Pessoa do aluno (Carl Rogers). Nossa proposta defende que um pesquisador fenomenológico.

Assumindo essa tarefa de pesquisador, desejando ou não, ele ensinará pela escuta a mais empática possível, gerando aprendizagens. O currículo educacional parte ou advém da pessoa pesquisa. Não em vão, um sujeito da pesquisa se sente diferenciado depois, ele percebe que foi se desenvolvendo e aprendendo gradativamente, ou seja: ninguém sai imune de uma relação inter-humana e intersubjetiva que poderíamos adjetiva-la de positiva.