UMA MULHER SILENCIADA...
Acabei de assistir "Philomena" (2013; direção de Stephen Frears). Eis minha sinpse apreciativa: Tudo começa antes do filme. Um jornalista chamado Martin Sixsmith, eescrevu um livro com 448 páginas sobre uma mulher chamada Philomena. O filme narra essa história, do jornalista e essa mulher, naquele contexto social e histórico, de próximo a 1952 até 50 anos depois. Trata-se de um segredo, de uma mulher que se sente culpada, apegada a esse valor religioso.
Acabei de assistir "Philomena" (2013; direção de Stephen Frears). Eis minha sinpse apreciativa: Tudo começa antes do filme. Um jornalista chamado Martin Sixsmith, eescrevu um livro com 448 páginas sobre uma mulher chamada Philomena. O filme narra essa história, do jornalista e essa mulher, naquele contexto social e histórico, de próximo a 1952 até 50 anos depois. Trata-se de um segredo, de uma mulher que se sente culpada, apegada a esse valor religioso.
Retrocedendo em um filme feito de
"flasback", retorno memoriais de Philomena, magistralmente
interpretada pela diosa Judi Dench.
Em 1952, jovem de 14 anos, Philomena
Lee engravidou descuidadoramente de uma relação aventureira - algo tão comum
hoje em dia, humano. Ela passou a ser descrita como "mulher indigna"
por seu entorno - família, igreja, cultura da época, arrogância inglesa... Era
uma família católica da Irlanda, que vivia em conflitos católicos e protestantes
(ainda há isso). A jovem é enviada para uma organização cristã chamada Convento
de Roscrea, lugar (tempo) que nasceu Anthony, que aos quatro anos de idade, foi
tirado da moça Philomena e entregue a um casal norte-americano. Isso, faziam
isso: tiravam.... Por achar-se culpada e pecadora, Philomena foi silenciada por
50 anos. Refletindo sobre a ética (e estética) de calar-se ou não, ela tomou a
decisão (psicológica e clinicamente acertada) de sair a (pró)curar procurar seu
filho, e buscou ajuda do jornalista já descrito o nome - dignamente
interpretado por Steve Coogan. Ele era um jornalista que trabalhava na BBC, que
a acompanhou até os Estados Unidos.
Ela a procura e passamos a conhecê-la
(cristã até o fim, como tendo capacidade de perdoar as freiras que faziam isso,
tirar, mentir etc.), ao jornalista (ateu convicto e com as mesma justificativas
- adorei o personagem), o filho (gay, tocava piano, foi assessor íntimo
político de Ronald Regan, escondia que era gay, tinha uma amiga que fingia ser
sua namorada, começou a protestar quando o partido político no qual trabalhava
negou dinheiro pras pesquisas na área biomédica do Vírus HIV/Aids, tinha
companheiro, sensível, a família americana era uma boa mãe, mas um pai perverso
e violento etc.), conhecemos o companheiro, que calejado finalmente se mostra
acessível a Philomena etc.
A idosa Philomena fica com raiva pois
nada indica que Anthony desejava lembrar-se de sua origem irlandesa. O
jornalista funciona como um detetive no sentido de Ginzburg: captura pistas. E
quando ela desiste do empreendimento emocional, ele lhe mostra um broche que
sempre seu filho usava, um símbolo da Irlanda.
O companheiro do filho lhe diz que ele
a procurava, e mostra filmes que eles faziam dele na Irlanda, já com sintomas
da Aids. E que as freiras, a mesmas do tempo de juventude de Philomena, diziam
desconhecer Philomena, as mesmas que disseram hoje a ela, que o filho está
desaparecido.
Anthony, o tempo todo, estava ao seu
desejo, enterrado no cemitério desse convento.
O filme inteiro encontramos uma
Philomena dividida em contar a história (via jornalista) ou não contar. E ao
final, o periodista lhe diz que não irá contar a história, e finalmente ela
autoriza que se conte. É um dado histórico da Irlanda, um país católico ao
extremo, e as ações moralistas dessas freiras, que existiam para legitimar a
moralidade da Igreja, que existia para legitimar a moralidade do Estado.
Música instrumental linda, interpretações
bacanas e equilibradas... Dench é uma diva, e dá uma dignidade ao personagem
rara. Não é lacrimogênea, não é melodramática como encontramos em telenovelas
mexicanas. O tema é tratado com delicadeza, e no ponto certo. Como uma mãe e o
filho se amararem se não sabiam um de si?
Agora, há várias perguntas que não
querem se calar, mas destaco uma: Como uma pessoa pode se calar por 50 anos
sobre um segredo que a atormenta de modo profundo? E mais: Philomena era sabedora
de que se a experiência era algo dela, por outro lado envolvia o outro
(namorado, sua família, a igreja, o Estado, a monarquia, as religiões etc.) e o
mundo. Como? ... Gente, falar, isso sim é a salvação psíquica... Falar, gritar,
espernear, gemer, contorcer-se.... A linguagem oral e gestual é para isso: para
produzir um afastamento das coisas maléficas advindas do social, e que fizeram
conosco, nos fizeram engolir nesse contexto. Falar, por outro lado, é denunciar
fatos sociais, históricos e cultura - e isso é ótimo para uma sociedade -, e é
claro, um refinado cuidado de si.
A pergunta é mais
simbólica, pois posso imaginar a psicodinâmica social de Philomena.... Uma
sociedade, e história (na cultura) é capaz de nos calar, mesmo estando corretos
e dignos... O tempo sempre apura, mas esse mesmo tempo, no tempo do
preconceito, nos mata, nos sufoca.... Quando nos liberta já não temos mais a
juventude.... Estamos com os pés à beira da catacumba kkk
[HPinel]