UM
PROFESSOR QUE DIZ "NÃO": ÉTICA E ESTÉTICA NOS MODOS DE SER....
Emocionante escutar a canção brasileira "A distancia", de Roberto e
Erasmo Carlos), no filme "Violência e Paixão" (1974) de Luchino
Visconti, considerado obra prima mundial... O título original pode ser "Conversation Piece" ou, na minha tradução, "Por Dentro de Uma Família...".
A decadência do professor (personagem central) se explicita nessa belíssima cena imbricada com a canção e sua letra: ele sobe a escada de sua mansão, e ao chegar no topo, é convidado a participar de uma orgia sexual com jovens, que poderiam ser seus alunos: rapazes e moças.
A decadência do professor (personagem central) se explicita nessa belíssima cena imbricada com a canção e sua letra: ele sobe a escada de sua mansão, e ao chegar no topo, é convidado a participar de uma orgia sexual com jovens, que poderiam ser seus alunos: rapazes e moças.
Ele recorda de que dizer
"não", é a única saída para manter o resto de dignidade que lhe sobra
- uma questão, portanto ética e estética. E isso se acentua depois da sua
aposentadoria, associado ao seu ensimesmamento ligado um estilo de arte
bucólica/ idealizante, e no fundo, só aquela canção pode legitimar o engôdo -
ele está cercado de jovens ávidos por bagunça, sexo, revolução marxista maoista
em Paris de 68, e ele perdeu a vontade, o ânimo, a motivação. Porque, meu caro
e velho professor? Kkk
Mas para minha
angústia, o professor diz: "- Não!" Diz não a vida! Ao frenesi dos
corpos, que o levariam a uma ação crítica contra a sociedade burguesa de então....
Está correto que ao final ele protege o rapaz que é revolucionário e que a CIA
procura. Tá certo que há uma paixão sexual entre eles não concretizada... Mas
há... Salvou-se mestre kkk
A cantora italiana
Iva Zanicchi, ao interpretar "Testardo Io" (a distancia), descreve
(na versão italiana) essa decrepitude, pois a "sua" solidão é o outro
que a produz, e não é si-mesmo no mundo da solidão burguesa de sua época. Ela
canta a insistência em colar no outro, de grudar kkk Eu acho isso kkk O rei
adora essas letras "colosas", que nos move e nos comove.
Quando assisti,
fiquei emocionado. Confesso: nem pude acreditar que o refinamento de Visconti
cedeu "a distancia", uma canção Cult de nossas melodias, popular, um
pedaço da alma "abandônica" do brasileiro. A letra diz mais ou menos
isso: "Eu amo, mas não digo, guardo pra manter meu sofrimento", é
essa a essência existencializada do personagem... Ó ó ó.... Só o rei é capaz
disso, nós o autorizamos...
IMAGEM: Cena do professor chegando (ator: Burt Lancaster) e a canção insistindo, e ele diz "não"... Ó céus... É uma questão ética, de rara beleza dizer isso, negar, reconhecendo sua efemeridade e.... incompetência física, bem como o amor dele pela idealização romanceada, paixão que tem pelas obras de arte que coleciona, do tipo "conversation piece".
[Hiran Pinel]