SE ALGUÉM
VIER ME PERGUNTAR...
Devia
ter meus 17 anos de idade, na flor da idade, sonhador e com projeto de ser
alguém na vida, e nem sei se ainda o sou kkk. Estava em Manhumirim, MG., e na
minha completa e sentida solidão, e mal acomodado, fui assistir à película
"Em Ritmo de Aventura" (BRASIL, 1968, de Roberto Farias). Entrei no
Cine São Caetano, estava muito tímido (como sempre), e como dizia a canção dos
Rolling Stones, nunca conseguindo satisfazer-me. Era um jovem triste-triste, carecendo de uma oração kkk. Tudo fica escuro -
meu coração acelera. Começou o filme, e eu gostando, entrando na fantasia. Mas,
lá pelas tantas, uma cena: em cima de um edifício paulista (depois descobri ser
o Itália, o mais alto da época), o cantor, e agora ator bissexto Roberto
Carlos, é antecedido por um ator profissional, Reginaldo Farias. Reginaldo
fazia um cover do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (BRASIL,
1964, de Glauber Rocha) que eu tinha assistido estupefato. Ele grita
rodopiando: "Mais fortes são os poderes do povo!" Meu corpo-terra
tremeu. Algo me tomou na hora, de total emoção, de um sentimento poderoso de
que algo precisava mudar, tanto numa dimensão social, como na psicológica, e
aqui destaco a minha vidinha de merda kkk. "Mais fortes são os poderes do
povo", e o Rei, cercado de lindas garotas hippies, selecionadas nacionalmente
por uma revista de TV, começa a cantar a música "Quando", acompanhado
de sua banda RC-7. Ele vestido com uma capa preta, com gola imensa, da cor
vermelha, o resto tudo nessa cor, a preta. Os cabelos esticados do nobre jovem
da guarda com algum henê Rená. Ele era uma beleza, cara do nosso país, naquele
tempo, naquele espaço, naquela obra. Era um bebê ninando o povo, devido sua
altíssima popularidade, fazendo o jogo kkk. Meus olhos não suportaram tamanha
beleza e esplendor - os lábios do rei eram compatíveis com os meus, jovens -
mas ele já crescido, e eu carecendo de aprender e desenvolver, e começava ali o
existir de um sonha(dor). Tudo fazia sentido naquela narrativa quase-infantil
do filme, donde o protagonista conversava com o diretor e o público, dentro da
própria obra de arte. As minhas lágrimas, dessa vez, faziam uma função
diferenciada: limpavam minha consciência psicossocial, mas ainda assim "se
alguém vier me perguntar, nem mesmo sei que vou falar".