quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O sentido de ser brasileiro para também ser pomerano: Ser Celso Kalk

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Celso Kalk (1978-2004)

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Escrever é como tirar fotografias de todos os ângulos...

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Sem notar que não nascem mais flores...

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Ser pomerano... Ter orgulho... Ser importante... Ter história... Ser curioso... Ter cultura... Ser agricultor... Ter crenças...

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Recebi agora o livro "Mar Azul; poesias de um pomerano" [em idioma pomerano: Blag Sei], escrito pelo poeta capixaba [de origem pomerana e psiquicamente ligado a essa origem] Celso Kalk. O livro foi editado pelos Pomeranos no Espírito Santo (150 anos) e Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (2009), com prefácio de Agostino Lazzaro e Anivaldo Kuhn. O livro é dividido em nove partes e cada uma dessas traz poemas do autor. Há um apêndice riquissímo com dados da Pomerânea, e fotos do Celso que era um rapaz talentoso, estudioso e muito, mas muito enganjado com o fenômeno "ser (sendo) pomerano brasileiro". Foi meu aluno, e pela época de sua morte estava eu agilizando para ele uma bolsa de estudos na UFES em um Projeto de pesquisa sobre a cultura pomerana e a psicologia dos brasileiros psicologicamente identificados como pomeranos capixabas (ele nasceu em Domingos Martins). Ele estava eufórico com essa perspectiva de poder entrar por outras vias na UFES, com o finco de produzir pesquisas. Depois de sua morte eu abandonei o projeto - fiquei entristecido com a perda desse jovem que me admirava dizendo-me que um dia gostaria de ser pesquisador [isso nos traz muita alegria]. Na época de sua morte eu chorei muito por diversos motivos, e um deles é perder um aluno de fato estudioso - coisa rara hoje em dia. Eu tinha dado a ele um texto sobre "ser" de Heidegger e ele já trazia para mim dados biográficos do filósofo, criticando a posição política [datada] do autor [Heidegger ligou-se a ideologia Nazista, pelo menos por um curto período], mas não parou por aí, mostrou profunda ligação com as idéias heideggerianas. Ele era estudioso não no sentido de decocar textos, mas exigir do professor a ampliação do seu saber-fazer; ele estudava para entender e acima de tudo compreender.

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Trata-se de um livro que imediatamente pode parecer "apenas" uma homenagem a esse professor primário... Não, esse livro vai além: ele nos traz textos provocadores e muitissímos belos de um poeta que precisa ser trazido à lume na literatura e nas artes. Ele era bom de fato... Não é porque morreu, pois vivo ele está na minha mente de professor e pesquisador que desejava ensinar a um aluno faminto por tudo e pela vida que contém as ciências, as artes e as literaturas...

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Não em vão que em nosso último encontro ele me interrogava sobre o sentido da vida de Frankl e o sentido de ser (do ser-aí) de Heidegger...

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Eis um dos seus textos poéticos:

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O sentido de tudo

En tudo se encontra

Cada gota é uma resposta

Cada resposta é uma razão a mais

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Celso Kalk nasceu em 28 de junho de 1978. Faleceu no dia 09 de janeiro de 2004 devido a um acidente com sua motocicleta.

Escrevi e publiquei um artigo sobre o jovem Celso Kalk no jornal A Tribuna (de Vitória, ES) - na época de sua morte. Creio que o artigo tinha como título Ser Pomerano é Ser Celso Kalk... Procurarei nos meus guardados... Quem sabe tem na internete?

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Ser Celso Kalk é (des)velar possibilidades de vir a lume um rapaz de belos talentos compreensivos em um mundo nem sempre hospedeiro; ele nos hóspedou, mesmo o mundo dizendo "- Não!".

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Hiran Pinel