quinta-feira, 25 de janeiro de 2018



Marilyn Monroe se interna numa clínica de saúde mental do seu tempo - está na porta de entrada dessa instituição de saúde. Tomou excesso de remédios controlados, talvez tenha tentado se matar. Os jornalistas e fotógrafos em cima dela e ela em pandarecos, fragmentada. Muitas perguntas - os jornalistas gritam, os flashs das máquinas fotográficas produzem uma outra deusa, mas não a mulher real, concreta, angustiada. Ela está com um vestido preto parecido ter sido cerzido ao corpo - escultural, magra, etérea. Seu rosto está pálido, e tenta em vão arrumar os fios de cabelos que ousam sair do modelo proposto pela estética oficial - mas as mãos tremem muito, e ela consegue ficar mais linda, frágil. Um jornalista pergunta algo, e ela responde em voz embargada e desesperada:

" - EU SÓ QUERIA SER ALGUÉM - SÓ ISSO".

A câmera mostra, por fim, uma mulher triste, solitária, vazia pelos abandonos. Uma mulher real, que ainda que assim seja, não consegue ser si mesma, deusa que é, inventada que é e então se constata ser arremedo de si mesma.

Então, estamos diante da senhorita Alguém.