quinta-feira, 26 de maio de 2022

UM MÉTODO FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL DE PESQUISA (E DE INTERVENÇÃO) INSPIRADO EM VIKTOR FRANKL

Hiran Pinel - 12/12/2012

INTRODUÇÃO

Qual é o método fenomenológico-existencial de pesquisa (e de intervenção) que pode ser pensado-sentido-agido inspirado no psicólogo e educador existencialista Viktor Emil Frankl?

MATERIAL, MÉTODO & TEORIA

Fundamentalmente, este "paper" emergiu do artigo de Hiran Pinel, intitulado "o conceito de "otimismo trágico" de Viktor Emil Frankl: Subsídios para o Exercício do/ no Ofício Educador Social", publicado em "Psicologado.com.". Este artigo estava em um antigo site de uma revista, que foi fechada. O sítio era: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-social/o-conceito-de-otimismo-tragico-de-viktor-emil-frankl-subsidios-para-o-exercicio-do-no-oficio-educador-social

Ora, tais ideias partiram de Frankl, e então nos inspiramos nele, em: Frankl (1990, 1991; 1995). Mas, este modo de pesquisar o sentido, tem mais detalhamentos cuidadosos, que se aproximam de outras propostas de pesquisa como as de Forghieri (2003; 2012) e outros, onde o conceito de pessoa, mundo, problemas e tentativas de ação de ajuda pela via da criação de práticas educacionais e de clínica são bases teóricas para pensar-sentir-agir uma investigação de tal verve e dimensão de relevância psicossocial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como chegar ao sentido? Como revelá-lo? Como pesquisá-lo?

Há uma via de um processo de descoberta do sentido, uma revelação de que pode tomar como primeiro passo a utilização de depoimentos, de biografia, de memorial do todo ou parte de um causo de sentido, pontuando ela mesma, o que denominamos de vivência de sentido.

No seu livro "Em busca de sentido", Viktor Frankl faz um longo depoimento acerca da sua própria experiência vivida-sentida nos campos de concentração nazistas onde esteve, viveu, sentiu... Tratam-se de espaço-tempo de onde inventou seus discursos e ou teorias - do lugar do sofrimento, o transcender se deu por sua luta em criar uma psicologia clínica, ou melhor, uma terapia e ou psicanálise existencial.

A partir daí, deste vivido, o sentido de ser (e o sentido da vida) pode ser localizado entre uma "experiência-surpresa-inusitada" como numa percepção gestáltica, ou seja, repentinamente emerge um sentido diante de nossa percepção total, inclusive nosso olhar, nosso cheirar, nosso tocar etc.

Poderemos, a partir das descrições obtidas da nossa coleta de dados, "enxergar" (sentir) e tocar em algo inédito, inusitado, uma surpresa que no desvela um sentido ou mais sentidos.

Todavia, não se trata aí de apenas revelar uma "Figura‟ que percebemos como que postada ou declarada de modo inconteste de um "Fundo‟, mas, que também é algo além à percepção gestáltica.

Ora, no caso da "percepção do sentido", podemos sentir, raciocinar e agir diante do que se nos revela, pelo que se mostra, o de que há um questionamento à descoberta imediata de uma "possibilidade" no "fundo (de uma) da realidade" - há assim uma esperança que emerge da vontade de sentido de ser na ação pela persistência e perseverança.

Neste movimento psicológico e social provocativo do ser pesquisador, o que nos parece estar efetivamente "jogado na nossa cara" é a possibilidade também da nossa arte de interferir na realidade, e isso, nem sempre é algo não imediato, mas agir é preciso, indissociado ao sentir e ao refletir ou racionar e ao corpo que fala, que sente, que revela.

Assim, como pode acontecer de experienciarmos mudanças? É demandado Sorge na espera, pois o existencialismo implica também em esperar, uma educação que espera, educação da espera. E quando essa ações que mudam acontecem? Elas só ocorrem quando há uma oportunidade implicada em necessidade e ou vontade. é demandado "vontade de sentido". Quando isso "de mudar" for possível, a surpresa mesma irá exigindo do pesquisador e o pesquisado, cuidados, auto-cuidados, delicadezas e ações até radicais, pensamentos inventivos, expressões corporais de enfrentamentos e de resiliências, um abrir a sentimentos, emoções e desejos compatíveis como nosso projetos de ser e de sonhos.

De fato, cada situação vital com que temos de lidar de modo belicoso ou não, nos (co)move a uma demanda, e será a vida que poderá nos levantar uma questão, uma pergunta. Falamos de uma interrogação que Ela (a Vida) exige de nós uma resposta, impondo-nos o "fazer algo" diante da vida provocadora, naquela situação específica indicada, pontuada, revelada.

Vamos imaginar uma pesquisa fenomenológica com a criança, por exemplo. Essa criança (ou um grupo delas), quando ela é uma pessoa que colabora com nossa pesquisa, poderemos descrever e revelar que ela atua de modo mudar o (seu) vivido, seja através do desenho, das tarefas escolares, do lúdico, do obedecer e do desobedecer, do sentir dor e alegria etc. A criança, então, pode revelar o sentido de ser do sentido da (sua) vida, e essa revel(ação) é um agir, pelo menos uma tentativa, corpo/alma/mente. O sentido emerge e se cristaliza na ação. É a ação que, ao se permitir conduzir pelo sentido, revela o próprio sentido do sentido.

PÓS-ESCRITO

Dentro de um estudo acerca do sentido (da vida) do educador e do educando, é que aparece o que poderíamos de modo inventivo denominar de objeto da Pedagogia Hospitalar. Esta Pedagogia é a própria intervenção que advém do que se denomina trabalho pedagógico e educacional hospitalar e domiciliar.

O objeto desta Pedagogia são as práticas educacionais contidas nos atendimentos educacionais em ambientes hospitalares (e domiciliares) seja quando propõe ensino de conteúdos escolares preconizados pelo Estado, que pode classicamente acontecer no espaço físico denominado de classe hospitalar, assim como ensino-aprendizagem de conteúdos não escolares, formais e ou informais.

Neste tipo de proposta da Psicologia Existencial, o que tem contado de modo indelével são as atitudes (e até habilidades que podem ser aprendidas) dos profissionais do magistério e do ensino-aprendizagem que irão (co)mover suas propostas com disposições à escuta, ao cuidado, à generosidade, à empatia etc., e reconhecendo a presença frankliana nesse processo vivido.

O objeto formal da Pedagogia Hospitalar, que pode ser uma intervenção na realidade vivida pelo educando e ou aluno com graves problemas de saúde que lhe impõem internação por longos períodos de tempo. Estas propostas de intervenção nascem do planejamento, execução e avaliação de prática educacionais que impõe a relação educação e saúde. A Pedagogia Hospitalar é uma ciência normativa, comprometida com o fazer, com o agir, mas também com o sentir, o pensar, o refletir - elaborar projetos de ser e de sonhos. Apropria-se de diversas análises de indivíduos enfermos, de grupo deles, de instituições criadas para e com eles como escolas, hospitais etc., bem como o poder e potencia da sociedade onde tudo isso se insere. A Pedagogia Hospitalar precisa de outras ciências que lhe dêem suporte para inventar e ou produzir tais práticas educacionais. Denominamos classicamente que a Pedagogia é uma das Ciências da Educação, demandando da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia, da Biologia, da História etc.

REFERÊNCIAS

FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia fenomenológica; fundamentos, método e pesquisa. São Paulo: Pioneira, 2001.

FRANKL, Viktor Emil. et al. Dar sentido à vida. Petrópolis (RJ): Vozes; São Leopoldo (RS): Sinodal, 1990.

FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 3. ed. Petrópolis (RJ): Vozes; São Leopoldo (RS): Sinodal, 1991.

 ____ . Logoterapia e análise existencial. Campinas (SP) :Psy II, 1995.

FREIRE, Paulo. Paulo Freire e os educadores de rua; uma abordagem crítica. Projetos Alternativos de Atendimento a Meninos de Rua. Bogotá: UNICEF, 1988.

____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

____ . Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1989.FROMM, Erich. Ter ou Ser? Rio de Janeiro, Guanabara, 1987.


Fonte: 
© Psicologado.com no artigo: O conceito de "otimismo trágico" de Viktor Emil Frankl: subsídios para o exercício do/ no oficio de educador social