segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O MÉTODO FENOMENOLÓGICO NA FORMAÇÃO DO ATOR 


Hiran Pinel, autor.

FILME A SER COMPREENDIDO:

"Método/ Method/ 메소드" (Coreia, 2017, diretora Bang Eun-jin).

Sinopse e apreciação:

O ator Jae Ha (Park Sung Woong) está no elenco de uma peça de teatro chamada "Unchain" ("Libertar-se"). Também atuando na mesma peça está o ídolo k-pop Young Woo (Oh Seung Hoon).

Young Woo não está entusiasmado para subir no palco, depois de um período no hospital, acidentado e ele quer voltar à vida profissional "mais artista", e trabalhar com Jae Ha é status devido ser um ator respeitado, maduro, premiadíssimo.

Em primeiro momento, Jae Ha e Young Woo não se dão bem. Woo é desligado, arrogante, temperamental, sem talento aparente. Ha é controlado, sabe teatro, pois estudou e é uma anti-estrela.
Mas, à medida que ficam mais imersos nos personagens gays que eles interpretam em "Unchain", os dois desenvolvem sentimentos inesperados, pois a formação de teatro (o tal do "Método") de Ha é realista/concreto e fenomenológico-existencial, se envolvendo com o personagem enquanto durar a peça. Ele ensina isso a Woo, que leva a sério a proposta de um teórico de teatro, em um livro de Ha lhe dá de presente.
Enquanto isso, Hee Won (Yoon Seung Ah) a namorada de Jae Ha, tem uma sensação estranha sobre a relação entre Jae Ha e Young Woo. Ela sabe que Há sempre foi assim, se envolveu com o personagem sempre, e se perdeu - por isso ganha sempre todos os prêmios de melhor ator, é nacionalmente renomado, sério, compenetrado, e uma pessoa simples, que não gosta do estrelato.
O filme é uma aula de ser ator, a relação professor-aluno, relação de uma experiente com um inexperiente. Havendo uma mistura: há uma peça de teatro (ficção) sendo ensaiada (de tema gay) e há dois atores héteros (vida real) que, por causa dos personagens, se envolvem ardentemente, afinal, se vão viver dois personagens, que saibam (e sintam) na carne quem é que vive como ser no mundo.
O título do filme (Método) e da peça de teatro ("Desacorrentar-se", "Libertar-se") se mesclam, e produzem mais sentidos e significados.
O filme, na minha percepção, descreve compreensivamente o "que é" e "como é"  o método fenomenológico-existencial aplicado na formação dos atores. Um método cujo procedimento é fundamentalmente envolver-se existencialmente com um outro (o personagem), bem como os dois atores devem, então, ceder seus corpos/ mentes/ almas pra que isso se concretize. Eles se dispõem a isso, no ofício de pesquisar os personagens. Só que eles precisam  desacorrentarem-se do método, livrarem-se dele, é a regra desse método, mas, de modo complexo, para que isso ocorra, eles precisam ceder ao aprisionamento "dos outros" neles mesmos, como "ser no mundo". E quem são esses "dos outros"? São os personagens, mas são eles mesmos, os reais. O fenômeno é da mestiçagem, do híbrido, da ligação, da associação, e ao mesmo tempo, manterem-se intactos "si mesmos". Que provocante, não? Mas, "que é" e "como é" isso mesmo? O filme tenta resolver, ao final. Mas, tudo é tão complexo, que o fenômeno é "isso-aí", e se, por um lado, ele pede esclarecimento, por outro, ele se esconde, e na coxia. 

Síntese: obra de arte pelas interpretações que nos envolve, a iluminação (é o ganho do filme), as música, o enredo, a direção etc.

NOTA: O filme tem muito a ensinar ao pesquisador fenomenológico em Psicologia, Educação/ Pedagogia. O mergulho no outro, como parte de si, tem que ser total, "olhar de sentido, prenhe do envolvimento existencial", porém, mantendo "intacta retina", diria Caetano Veloso em "Cajuína".