sábado, 26 de setembro de 2015

"Mal dos Trópicos" (2014, filme de Joe ou...) é um filme misterioso, e uma arte insubmissa, por isso mais arte ainda. É dividido em duas partes, que são indissociadas. Na primeira, [1] Keng (um soldado de férias) e Tong (trabalha no campo) se envolvem existencialmente, em cenas pungentes, ingênuas, puras - um bromance, diríamos aqui-agora. Na segunda, [2] Tong, sabendo que termina as férias de Keng, separa antes, para não sofrer, e adentra a uma estranha floresta. 

O soldado Keng sabe de um animal que anda decapitando vacas, e com saudade imensa do amigo, vai na busca dele que partiu, um animal que pode cortar-lhe a cabeça - cortado que se sente. Do simples, frugal e animado cotidiano, os dois agora são animais terríficos. Eles se caçam, se encontram, se repelem.... Separar causa muita dor, uma dor cancerígena - indescritível, sem fim - e só a morte pode acalmá-los. 

Os corpos e olhos dos dois se entrecruzam, e se deixam levar pelo amor que esvai pelos dedos das mãos - tudo está ali na natureza tropical, uma doença dos trópicos, febre, delírio, alucinação, primitividade, instintividade. Não tem saída, tudo tem um fim, e a metafórica morte chega aos olhos estatelados dos dois, frágeis no sofrimento do adeus. 

É o nosso mal, dos trópicos, a febre do amor como sinal clínico de uma dor.

NOTA: "Mal dos Trópicos" (TAILÂNDIA, 2004, de Apichatpong Weerasethakul ou Joe).


segunda parte, procurando quem corta as cabeças...

 primeira parte, alegria na amizade e bromance

no meio do filme: a separação os espreita.