segunda-feira, 6 de junho de 2016

A CENA É UM MILAGRE SERENO...

Sou um viciado em séries asiáticas, especialmente doramas que é uma fantasia, uma fuga da realidade perversa kkk Encontrei na Netflix uma série cujo título é "Hibana" ou 'Spark" (Japão, 2016, direção de Ryuichi Hiroki; tradução possível: "Faísca"). Não é dorama e é ótima série, obra de arte, joia preciosa da 7a Arte, pois afinal é uma série com linguagem de cinema. 


Trata-se de um tema relativamente comum, mas estranho para nós brasileiros, ou para mim kkk. 


O que é comum é a história de um menino (rapaz jovem chamado Tokunaga) e seu amigo íntimo Ymashita, desejando o estrelato como cômico/ humorista, o estranho se refere a uma comicidade japonesa, denominada no Ocidente de Manzai ou no Japão como 漫才.... Bem, também lá, esses monólogos de humor que exige rapidez e inteligentes diálogos, estão em crise, o público diminui. 


Então, lutando para sobreviver com esse ofício, o jovem acaba conhecendo um ídolo japonês Kamya (adulto indo para a velhice), que está perdendo tudo por sua generosidade e dívidas com capangas. O que dá idílio a Kamya é o esforço físico (corporal) que ele emprega para produzir humor, e isso inveja positivamente Tokunaga - ele é capaz de mudar o próprio corpo, colocar silicone, por exemplo, tornando-o seus seios femininos. O ídolo aceita ensinar ao jovem que pede isso, desde que esse concorde em escrever a sua biografia – faz-se então um pacto. 


Tokunaga é metódico na coleta e produção de dados, um primor para os iniciantes em pesquisa. No Diário de Campo ele coloca a seguinte epígrafe: “Escreva sobre o que aconteceu em cada dia, colocando-a segundo sua própria palavra, enquanto ainda se lembra”, frase de Ahondara (tonto), um manzai. 


Interessante, que nos manzais, o próprio humorista precisa de aprender a gozar de si mesmo, de suas memórias e de seu parceiro, e pode produzir lágrimas também. 


Os dois amigos passam a atuar juntos, e depois há a separação dramática, no palco - uma dor, uma separação difícil e vivida na carne. 


Gente, o processo de ir escrevendo sobre a vida do outro, e de como isso vai lhe ensinando, é belo demais, amoroso, romântico. O modo como o jovem festeja o mais velho, chegando a não lhe negar amor propriamente dito, é algo que nossa moralidade desconhece. Um jovem e um velho professor ensinando seu ofício de um modo que a escola não dá conta ou nenhum processo não escolar organizado também não. É a via do afeto que consegue bons resultados.


Linda a cena dos dois amigos se despedindo em um show imperdível, inesquecível, donde a arte imita a vida, e ela mesma, a vida clama pela arte e sua finitude.


Assisti aos 10 capítulos, e acho que é todo ele, todo o seriado. 


O final é lindo demais... Prestem atenção na frase e todos os possíveis sentidos que ela pode ter para quem se propôs ser aprendente e ensinante, e que desde o começo o fenômeno foi vivido de modo complexo e híbrido.





SOBRE A CABEÇA DE KAMIYA
UMA LUA BRILHA CALMAMENTE
A LINDA CENA É UM MILAGRE SERENO



ELENCO:
Kento Hayashi, papel: Tokunaga             
Kazuki Namioka, papel: Kamya                  
Masao Yoshii, papel: Ymashita
Nahana  Nahana         
Shôta Sometani   
Hideaki Murata     
Maryjun Takahashi
Mugi Kadowaki     

Tomorowo Taguchi

Autor desse esboço de paper kkk nem paper é, é antes... esboço demais, como tudo que escrevo e ou posto aqui nesse blogspot: Hiran Pinel