terça-feira, 20 de setembro de 2016

A todos e todas sejam bem-vindas aos nossos seminários: 

IV Seminário Nacional de Educação Especial

XV Seminário Capixaba de Educação Inclusiva 

I Seminário de Pesquisas de Pós-Graduação Lato Sensu na Perspectiva da Inclusão... 

Bom dia! 

O tema medicalização de nossa mesa redonda é MEDICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL. 

Parece-me que esse é um fenômeno urgente, quase clínico, no sentido de uma clínica de escuta. Esse evento anda acontecendo nas nossas escolas e fora dela, no nosso mundo, mundo aí como pessoal, no bairro, na rua, na família, no governo, nas igrejas, nas políticas públicas, desmando no Estado etc.
Estamos vivenciando e ou experienciando momento de profunda crise política e social que interfere frontalmente na produção subjetiva (na objetividade do mundo). Falmos daquilo que denominamos eu, self, ego - subjetividade, no sentido contemporâneo. O que desejamos para nossos alunos e ou alunas? Que sonhos mantemos acelerado, e com uma ambição desmesurada? Onde está o problema? Se ele existe. Ele está na pessoa? Na família? Na escola? No Estado? No Governo? Nas drogas? Na sexualidade? Porque sempre se ataca o sujeito, sempre o domestica, o submete? 

O fato sentido é que a nossa carne foi (e é) ferida, e por não suportar nenhuma dor, requeremos ao/do médico prescrições para a felicidade, para nossa calmaria e domesticação – e tudo de forma rápida, imediata. Sempre irrompem psicofármacos para nos controlar, nos fazer reféns da ideologia dominante, do status quo estabelecido - nos acalmar (impedindo a percepção da realidade, pois tudo fica calmo ao nosso olhar de sentido), nos agitar (numa agitação descontrolada, alegremente sem alegria) etc. São corações e mentes controlados, e que se por proibir nossas possíveis singularidades (nas pluralidades de ser junto ao outro no mundo), impede-se os conflitos, os mínimos. Os mínimos conflitos, aos olhos do dominador, ameaçam tudo e todos, inclusive ao Estado. Qualquer discussão o sujeito é rechaçado ou a cassetete, ou a palmada, ou a à tortura. Pode-se ameaçar com um calmante, um agitante - "e um copo de gim". Inventa-se falsa doença pra o sujeito e junto prescreve-se remédios remédios especialmente os psicofármacos. Categorias diagnósticas são inventadas e se tornam rótulos, e se você é um sujeito alegre, insubmisso às bobagens, rotulam de hiperativo, e junto aparece a Ritalina. 
Falamos em MEDICALIZAÇÃO, ou seja, usamos esse termo, quando é uma ação médica prescritoras de remédios e até de outras intervenções, para "falsas doenças", e não doenças reais. O menino é alegre e agitado em uma sociedade vídeoclipiana, e isso o faz ficar impaciente com aulas chatas, e só por isso, lhe tascam um rótulo e um remédio [1]. 

A ação de prescrever remédios, com o finco de controlar e manipular eventos que não são da esfera do orgânico, mas da esfera do nosso processo social, político, por exemplo, pode ser considerada de MEDICALIZAÇÃO.  Problemas familiares (tão comuns), o sujeito passa a ser o único depositário de remédios e a família não é abordada psicossocialmente. A insubmissão criativa do sujeito é taxada por uma nomeação qualquer (diagnóstico), e o psicofármaco faz adormecê-lo, faze-o sonâmbulo em "berço esplêndido". Se não prestamos atenção a uma aula, por exemplo, os psicofármacos aparecem para que nos façamos atentos, através por exemplo, do uso desenfreado e inadequado da Ritalina - repetimos. Falamos aqui-agora dessas prescrições aceleradas, das quais bons médicos discordam, e exigem exames minuciosos, para verificar se de fato cabe tais psicofármacos no caso clínico. Não se põe em análise o ser que é ser-no-mundo, e em tempos sombrios, tal qual é a nossa sociedade atual, que como dissemos é videoclipiana, agitada, cheia de histórias fantasiosas e reais. Sombras predominam na sociedade brasileira e até internacional, como as atuais sombras sobre a realidade que se impede que vejamos, denunciamos, destampamos a venda e ver o real. Impedem a criticidade. Desenvolver a consciência crítica? Não pode, e para isso somos capazes de menosprezar um pensador do quilate de Paulo Freire. A nossa sociedade pode, as vezes, até ser ridícula, mas nem todos a percebem assim, não conseguem desalienarem-se. Nesse contexto manipulador, quaisquer revoltas subjetivas conclama-se o ensimesmamento, um rótulo é inventado, um remédio é indicado – e de modo geral, um único remédio se presta a quase todo e quaisquer quadros clínicos.
Manipulando comportamentos e ou subjetividades, a Psicofarmacologia traz para si a responsabilidade por isso, por algo não orgânico, que até tem impacto nele, no físico, mas cujo nascedouro não é aí – que se denomina origem do problema, a etiologia. Desvia-se a origem do social, econômica e política, colocando toda responsabilidade única no sujeito, no "seu eu".
Os diagnósticos são ditos e determinados sem nem mesmo serem questionados, não se autorizam críticas a eles. Há momentos que se necessitará deles, desses verdadeiros diagnósticos e remédios, na área mental e emocional, principalmente, mas é preciso ações médicas de investigação profunda, separando o "joio do trigo" – acho, se a meta é chegar a algo da esfera do real, e não da produção de algo, algo que se inventa revelando mais classificações para adormecer quem merece estar acordado, estar lutando, estar enfrentado garbosamente como todo bom cidadão deve fazer, consciente de si junto ao outro no mundo.
Mas a medicalização, esse termo, esse mesmo, vai além, muito além. O excesso de procedimentos médicos para valorizar o parto não-natural, favorecendo sempre o uso indiscriminado da anestesia, também pode estar incluído dentro do que denominamos de medicalização da vida. Um profissional psi que adora produzir prescrições comportamentais de autocontrole, recorrendo até mesmo ao autoflagelo, é outro exemplo, que quase sempre também indica um médico para que este prescreva psicofármaco. Há pedagogos e professores que amam as prescrições, e recomendam espalhar pela casa dos alunos e alunas recomendações ligeiras com clichês – sem a demanda correta da análise do sujeito como ser-no-mundo, no mundo real.

Nossa mesa de hoje é sobre esse tema, a medicalização na educação. Para isso temos duas convidadas, renomadas pesquisadoras desse tema, as professoras doutoras Elizabete Bassani (da UFES, Centro de Educação) e Carla Biancha Angelucci da Universidade de São Paulo. Seremos três psicólogos na mesa, e mais eu que também sou licenciado em Pedagogia.... Todos envolvidos com escola e a escolarização.

Como é praxe, vamos começar com a nossa convidada de fora, no caso, da USP. Por favor professoras, tenham a palavra.

NOTA:
dia 21/setembro/2016
local: Cine Metrópolis 
10:30 até as 12 horas
Mesa redonda II
Tema: "Patologização e Medicalização do Público-Alvo da Educação Especial no Brasil"
Palestrantes: Professores doutores: Carla Biancha Angelucci (USP), Elizabete Bassani (UFES), Hiran Pinel (UFES).

[1] é vital destacar que NÃO estamos dizendo que não há sujeitos que apresentam um quadro com séria preocupação clínica e que demanda atendimento médico com psicofarmacológico. Estamos falando as invenções, dos diagnósticos baseados em poucos características do quadro total, que deve ser considerado no seu máximo. Assim, qualquer agitação, tasca Ritalina, impedindo a criatividade do sujeito, domesticando-o. Nossa sociedade sonha com uma "harmonia" que é totalmente idealizada, pouco ligada ao real.