quinta-feira, 29 de setembro de 2016



O filme se chama "1735 Km" (VIETNÃ, 2005, direção de Nghiem Dang Tuan Nguyen). Pequena obra de arte, comédia romântica com vários sentidos sociais e históricos.
MINHA SINOPSE: Pra começar, vamos ao título. Trata-se da quilometragem que gasta quem sai de Hanói até Saigon (Ho Chi Min) de trem, ônibus, motocicletas, carros, paradas, problemas nos maquinários, karaokês, comidas à beira do caminho, hotéis baratos e caros, aproximações delicadas, jogos de sinuca, o galã quase nu em um rio de lá, bebedeiras, mais motocicletas (paixão nacional, junto com a bicicleta), músicas românticas ao etilo Ocidental, passeios pelas cidades e suas gentes, retrocedidas no tempo-espaço etc.
Uma bela jovem - Tram, de saltos altos finos, vestida à la Chanel, adentra ao trem, e falando ao celular. Ela vai casar com um homem rico, e sabemos isso pelas conversas. Seu lugar é junto a um jovem artista plástico - Kien - sonhador, que se desvela muito solto à cultura budista, por isso meio que irresponsável. não capitalista, mas não engajado. Já ela é rígida, autoritária, neoliberal - sabe o que quer.
A maior parte das cenas acontece dentro dos vagões do comboio e nas estradas do país, e à medida que conversam, é mostrado a realidade do Vietnã - plantações de arroz por homens e mulheres velhos e jovens (serão explorados?), cenas do passado da Guerra do Vietnã (que eu capturei - nas sutilezas que eu desejei ver kkk), riqueza e pobreza, juventude e idosos, grandes metrópoles. O país valoriza muito os mais velhos. Mas a cena está com os jovens - eu me recordando aqui da Revolução Cultural de Mao Tsé Tung e o protagonismo juvenil kkk
Assim, o filme tem algo do drama: os jovens vietnamitas vivendo em um rico e complexo país que cede cada vez mais ao capitalismo selvagem, tem ainda as crises de identidades (quem somos? a partir do quem sou eu), momentos culturais modificados, um passado-presente que pontua um futuro: O que e como é ser jovem vietnamita, tal qual narrado nesse filme? Eles, os jovens, estão "nas mãos" de um diretor que se nasceu no Vietnã, graduou-se nos Estados Unidos, e se o filme recorda as comédias açucaradas com Jannifer Aniston (que são algumas delas, muito boas), traz a paisagem física e humana do país, em pequenos detalhes, nos diálogos com leve tormenta.
Estamos em um país moderno, agora marcado pelo capitalismo, sem histrionismos, com uma presidente mulher - e o Governo policiou todo o filme, vigiou tudo como ainda o fazem os "camaradas" kkk. Cada grão de arroz comido significa respeito a quem o plantou e o colheu (minha metáfora). Estamos no Vietnã de nossa triste memória, massacrado que foi, mesmo saindo vitorioso, com cabeça erguida... Linda comédia-dramática. Sensível como poucas.

Tudo embalado por "Samba de Verão" dos irmãos Valle, presente no Cult "Eternamente Tua" de Apichaptong Weerassetakhul (Tailândia).


NOTA: Assisti com parca legenda em inglês. Por que parca? Ora tinha ou não legenda.