sábado, 9 de março de 2019

"NÃO TOQUE EM MIM" [1]
APRECIAÇÕES CLÍNICAS SOBRE A AFEFOBIA...
 
Hiran Pinel
 
A AFEFOBIA ​(há outras nomeações [2]) é uma fobia específica rara (medo patológico) que envolve medo de tocar ao outro, medo de ser tocado, e tem vez, mais raro ainda, medo de tocar-se. É um comportamento e subjetividade exagerados indo muito além das tendências normais de proteger o espaço pessoal. O paciente pode desvelar um medo de ser contaminado pela invasão do outro, e esse processo pode, inclusive, envolver pessoas que o o sujeito adoecido conhece. Essas pessoas pode apresentar esse quadro, por exemplo, devido a uma experiência negativa de toque, uma dificuldade antiga onde tocar é algo proibido, sexualidade dificultosa (devido, por ex., histórias de ter vivido abuso) e impregnada por noções como a de pecado ou medo de ser contaminado por doenças venéreas. Outra causa, possível de ser descrita na clínica, é a baixa auto-imagem corporal que pode ser algo nas relações antigas e da cultura/ sociedade repressora (por ex: ser obeso, ser magro demais, ter manchas no corpo, ser albino etc.). Há pessoas que têm medo exagerado de ser tocadas por pessoas do mesmo sexo, recordando-lhe que o outro (ou si mesmo) possa ser homossexual, lésbica etc., havendo um medo horroroso de ser contaminado ou mesmo ter que revelar seus mais recônditos desejos reprimidos e nunca mostrados - tendo como causas experiências de abuso, experiências negativas e ou impacto da sociedade também repressora aos gays que é introjetado. Há jovens candidatos a atletas que revelam que praticam qualquer esporte desde que não seja aquele que, de modo central, envolva o tocar o corpo do outro, provocando-lhe ojerizas, e outros sinais que podem ser comuns aos afefóbicos: aceleração do batimento cardíaco, suor frio, coceira, aceleração do ato de respirar, tensão muscular e rigidez, pânico, náuseas, pensamentos "pecaminosos", invenção de modos de sair do toque, tremores, sensação de morte etc. Há caso que o toque envolve contato com o pelo do outro, especialmente o pelo masculino, mas não só. Por sinal, muito descrevem o "pavor do suor humano", o nojo que isso lhe causa. Ser tocado, imagino eu, pode ser descrito como algo, que no poético, é um "fogo que arde sem se ver" [3], donde o modo de ser estarrecido predomina, acompanhado de repulsa, horror, vômito, geleira, quentura. É comum, após o toque, a pessoa procurar, de modo desesperado, limpar-se, tomar banho demorado esfregando-lhe o corpo com tensão, podendo até machucar, inclusive por até passar álcool, por exemplo. Ofícios de assepsia "podem" levar a afefobia caso o profissional já seja um sujeito com essas tendências, por isso, não podemos confundir ser médico ou ser enfermeiro com ter afefobia, pois há aí um atitude científica (e ética) de não tocar ou se tocar proteger-se, isso é outra coisa, sendo algo comum, esperado e acima de tudo revelando competência profissional. Outra coisa: a ojeriza ao toque ao marido que a agrediu fisicamente, como na canção que diz "não toque em mim" [4]  também é uma reação normal depois do melodrama narrado pelos compositores, mesmo que isso perdure apenas contra o referido sujeito (autor: Hiran Pinel, 2005).
 
NOTAS
NOTA 1: Publiquei sobre esse tema, no meu livro "Apenas dois rapazes e uma educação social: cinema, existencialismo e inclusão" (só tenho cópias xerox dele, ou seja, não encontro o texto digitado em pdf que eu tinha kkk Mas o livro é registrado)... O texto aqui não é o mesmo do livro, eu fiz um texto de memória;
 
NOTA 2: Afefobia, afofobia, apnofobia, aptefobia, aptofobia, thixofobia, quiraptofobia;
 
NOTA 3: Poética de Luís Vaz de Camões, in "Sonetos", que no contexto é: "Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer (...)".
 
NOTA 4: Trecho da canção "De igual pra igual" de Roberta Miranda e Matogrosso.