quarta-feira, 25 de outubro de 2023

arte e ciência, ficção e realidade, ilusão e ciência, poesia e ciência, literatura e ciência, verdade e mentira

O USO DAS ARTES COMO FERRAMENTAS E DISPOSITIVOS EM PESQUISAS FENOMENOLÓGICAS

Hiran Pinel, autor

INTRODUÇÃO

Uma das ações científicas do Grufei, Grupo de Fenomenologia, Educação (Especial) e Inclusão, é o de produzir ciência tendo como ferramentas e dispositivos obras de arte, poesias e literatura. Isso ganhou sentido acentuado durante a pandemia da Covid-19 onde, como orientador, não poderia (como não fiz) exigir do orientando que vá ao hospital coletar dados.

Essa ideia enriqueceu muito nossas ações, que são antigas nessa esfera, mas como que disse, que em plena pandemia da Covid-19, isso ganhou sentido, quando os ("minhas" e "meus'*) orientandos que temiam tal evento de saúde pública, e todos temiam e acompanhávamos a ciência experimental quanto á produção de vacinas. Um orientando, por exemplo, optou em estudar, no mestrado, a cegueira do personagem central de "Hoje eu quero voltar sozinho" (MOURA e PINEL, 2023).

O objetivo desse "papel de rascunho científico" é o de descrever as percepções de artistas e cientistas sobre a realidade (papel da ciência) e as artes (arte, literatura, poesia), destacando aqueles intelectuais e pesquisadores que defendem a relação entre ambos os aspectos, ainda que defendam o real, que ainda assim é produzido (na ciência) por um investigador que "sonha" com o real, afinal a arte nos acompanha no real. Não se trata das artes prevalecerem sobre a realidade, e nem a realidade prevalecer sobre as artes, mas dar potência a realidade criada por pessoas, gente cheia de sonhos pelo real. 

METODOLOGIA

Sempre tenho citações de grandes nomes, da ciência ou mesmo das artes, onde garantem (o fato ou o real) a relação realidade e arte, fantasia e arte, verdade e mentira, fato e ilusão etc., e a noção de que uma obra de arte tem muito a nos ensinar, e a gente aprender, sobre a educação escolar e não-escolar.

As citações são até populares em meios aos cinéfilos como sou, mas, nesse meio, podemos supor que algumas coisas são atribuídas, autores nos quais atribuímos, sendo frases que vão sendo ditas como na arte japonesa (e asiática) de cosplay, "cosplayers" que somos (risos).

Algumas citações são minhas, tamanho valor acadêmico dou a essa temática especialmente me Educação Especial, Ed. Inclusiva, Ed. Social, Pedagogia Hospitalar, Educação e Saúde, nas minhas práticas com o método fenomenológico de pesquisa e do fenomenológico-existencial de práticas educacionais e outras intervenções e interferências.

RESULTADOS

"A arte é a mentira é que nos permite conhecer a verdade" (Picasso). 

“A verdade só pode ser dita nas malhas da ficção” (atribuída ao psicanalista Jacques Lacan). 

”A arte cria o mundo de modo concreto, ela produz esse mundo - ou ajuda a (re0produzi-lo, a (re)criá-lo, a (re)inventá-lo, a (re)idealizá-lo. Ela (arte) é a própria realidade, pois sendo instrumento/ ferramenta/ dispositivo, ela cria o real em nome de algo ou alguém, de uma ideologia - ainda que possa ser defensável que a realidade prevaleça em meio a tantos sujeitos que lutam para mudar o real vivido pelos seus sonhos de um mundo melhor, menos explorador, mais favorável ao oprimido" (Hiran Pinel)

“Arte e realidade se complementam. Sem realidade, a arte não faz sentido, sem arte, a realidade não tem significado” - Bahman Ghobadi, diretor iraniano de cinema, de etnia curda. 

"Não existe meio mais seguro para fugir do mundo [realidade] do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele [mundo real] do que a arte" (atribuído Johann Goethe). 

"Para a psicologia fenomenológico-existencial, diferenciar realidade de fantasia é possível (e necessária), mas não está nessa diferenciação o âmago dessa ciência, ao contrário, está na sua junção e até indissociação, 'realidadefantasia" - afinal, o sujeito concreto e real se inventa, se produz, se reinventa como ser no mundo que é (sendo) com o outro. Aqui-agora, estamos a 'dizer', o real teor da vida, do existir, dos 'modos de ser sendo junto/ com ao outro no mundo' - ser concreto, ser real, ser o que se convencionou a dizer realidade, fato. A vida está aí, ela está no estar-aí, na borda da linha entre loucura e sanidade, no extremo de uma linha e do outro, nos seus meandros e labirinto, fantasia, sonho, vida encarnada real, ensangüentada, alegre, triste, cheia de narrativas prenhes de sentido concreto do ser com o outro, no mundo... É preciso escutar empaticamente ambos os aspectos, realidade/ concretude/ fato e fantasia/ ficção/ invenção/ ilusão, e uma terceira opção que é a mistura híbrida dos dois que parecem clamar por serem descritas compreensivamente, e desvelar uma realidade - "uma" e não "a" realidade. Não estamos à cata de um único real ou de uma única verdade absoluta, sólida e ou universal. A arte pode nos ajudar a cuidar do humano real e concreto, cuidar dele e com isso desvelá-lo pela descrição compreensiva do que é e do como é ser no fenômeno escolhido pelo pesquisador' (PINEL, 2005; p. 91).

"A arte não é [só] um espelho para refletir o mundo, mas [é] um martelo para forjá-lo [a arte é uma dispositivo de resistência concreta; uma ferramenta para as lutas contra ao opressor]" (atribuído a Vladimir Maiakóvski 1893-1930). 

"Quando você faz um filme, as pessoas podem interpretá-lo da maneira que quiser e ver coisas que os produtores não tinham ideia de que estavam gravando. Então, ficamos surpresos quando vemos algo, falado ou escrito, sobre os filmes que fazemos e [que - Hpinel] não teve contexto para os produtores ou com o que [outros profissionais da referida obra de arte - Hpinel] queriam fazer. E ainda assim, tem uma relevância para elas, porque as pessoas acreditam nisso, [desejavam isso, e ou usam conscientemente a arte pra produzir mais artes, poesias, literatira e até textos científicos com reflexões, inclusive para o entendimento e ou compreensão da realidade, estimulando até mudanças concretas, reais - Hpinel]".  (Jerry Buckheimer (1943-), um produtor estadunidense de filmes e séries de televisão).

"A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa. Por outro lado, o saber que ela [literatura] mobiliza nunca é inteiro ou derradeiro; a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas sabe de alguma coisa; ou melhor, que ela sabe algo das coisas – que sabe muito sobre os (...) [seres humanos]". (BARTHES, 1978, p.19).  (PINEL, 2019; p. 3) .

 

"Poetas e romancistas são nossos preciosos aliados [de nós, os cientistas], e seu testemunho deve ser altamente estimado, pois eles conhecem muitas coisas entre o céu e a terra com que nossa sabedoria escolar não poderia ainda sonhar. Nossos mestres conhecem a psique porque se abeberaram em fontes que nós, homens comuns, ainda não tornamos acessíveis à ciência" (citado pelo psicopatologista Dalgalarrondo (2008; p. 15) sendo frase de autoria de Sigmund Freud. Nesse livro ele até referenda: Sigmund Freud; in "O delírio e os sonhos na Gradiva de Jensen", 1906; mas não é do criador da Psicanálise, segundo denúncia do teledramaturgo Manoel Carlos - in https://vejario. abril. com.br/ coluna/ manoel-carlos/ perolas -; mas, sem dúvida, a frase é muito boa, por isso posto).


"Quando eu fui à campo coletar dados sobre a presença da Educação Social e Saúde entre garotos que se prostituíam no Largo do Arrouche, em São Paulo, isso entre 1998 a 2000. Eu cheguei naquele espaço (e  tempo) e fui logo sentindo na minha percepção, dde que antes de mim, os rapazes que vendiam seus encantos, e seus clientes, transitavam pisando nos astros distraídos, sem saber que a melhor coisa dessa vida, e era o luar, o caboclo do seu desejo e o violão, fazendo paráfrase de "Chão de Estrelas", de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa. Antes de mim, a poesia cotidiana passeava de mãos dadas comigo (e com todos os transeuntes) - e a partir daí fiquei atento a essa criação insubmissa e provocativa, romântica e ou de resistência dos rapazes que se prostituíam, especialmente deles. Poe exemplo: era comum falarem-me que se sentir ator, pois eles eram o desejo do outro, e pouco do desejo de si, afinal eles vendiam encantos e ilusões. Ficar nas madrugadas debaixo das marquises da grande capital, me inspirava a refletir sobre a arte de não ser si esmo, a maquiagem das sombras entre a luz e os esconderijos, etc. Eles ficavam debaixo de postes das ruas, das marquises, na parte escuras dos botecos etc. Destacava-se expressão corporal de macho: pernas arqueadas, jeans azul desbotado, cabelos despenteados, mãos enfiadas na altura da virilha  etc. Era puro teatro, mas de um teatro de tablado, da vida real, que refletia o real, a dura realidade do comércio dos desejos do cliente que fixavam em uma representação existencial da classe operária.  Era a concretude de ser-no-mundo. Isso refletia uma Pedagogia Social existencial da carne, onde um (cliente) ensina ao outro (garoto de programa ou michê) e vice-versa. O cliente, pelo menos ao meu perceber de sentido, era pela hiper masculinidade que se relembrava os trabalhadores simples e braçais, uma espécie de desvelar nossa sociedade de classes. Em cada passo que eu dava como cientista fenomenológico-existencial, vinha aos meus sentidos os significados oferecidos pela vida, vida de cada um deles, e minha própria vida, vida dos clientes - e que fique claro as diferenças entre uns e outros. As artes, as poesias e as literaturas começaram a subsidiar a ciência que eu produzia, e quanto mais ela apareceu, mais o real se mostrava, uma arte romântica e da resistência, como aquelas canções de protesto da década de 60: "esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer", outra vez um poeta, Geraldo Vandré no seu auge em "Caminhando".  Interessante, que eu ia mostrando a mim mesmo como pesquisador, que a arte se indissociada á realidade, e a realidade contém nela a arte, ainda que sonhemos que a realidade saia vencedora, mas que ainda assim, os vencedores para serem assim vitoriosos, precisam de projetos de ser (Sartre), sentidos de vida (Frankl), modos de ser de ser no mundo entre a realidade necessária e seu combustível de animação, que são sonhos feitos de tessituras oníricas, etéreas que nos fazem viver mais e melhor no campo de batalha do real. Muitas vezes, lutamos pelo real, pela via de um amor que deixamos em casa... Romântico, não? (risos) Recordo, do final do filme "Veludo Azul" (1986; de David Lych), onde o protagonista, ao ver um delicado passarinho na janela, de uma casa situada em uma cidade aprazível e pacata, mas com um submundo perverso e "sexualizado ao extremo", e ainda assim (co)movido pela balada idealizada do título do filme, "Blue Velvet" (original de 1963, de Bernie Wayne e Lee Morris), diz à namoradinha (que como o protagonista, foi violentada), bem como, para nós, o público desse filme Cult: "Esse mundo muito é estranho, muito, não é?" Recordo-me que respondo: "sim, é" (Hiran Pinel, 2001; p. 4).

"As artes, as poesias e a literatura em geral, especialmente a obra de arte mais completa que existe, o cinema, estão prenhes de fenômenos capazes que provocar e evocar ao cientista (e ou ao pesquisador) a adentrar na fantasia/ ficção, "envolver-se existencialmente" com "isso-aí", e desse "espaço-tempo" penetrante e penetrado, "distanciar-se reflexivamente", sempre nesses dois movimentos interligados, descrevendo compreensivamente "o que é" e "o como é" ser com o outro, no mundo. Esses dois movimentos, em uno, costuma trazer significativas contribuições para aquilo que denominamos realidade - a realidade vivida. Isso nos comprova que não existe arte sem o real - e a arte, quase sempre, contribui com a ciência, quer seja uma arte oficial (um filme de cinema premiado, uma música de sucesso popular etc., por exemplo) ou quer uma "arte do cotidiano do sujeito comum", quando ele se expressa de modo poético, literário, cinemático, desenhando, dançando, cantando, representando como um ator e ou uma atriz, imaginando viagens místicas, romanceando sua vida, dirigindo sua vida que beira a direção de uma série yaoi de televisão tailandesa (...)"  [Hiran Pinel, 2004; p. 7].

'(...) amo esses 'fanservices' (feitos antes das séries, nas e durante as séries, e depois delas) e 'fanmeetings' (onde tem 'fanservices') dos atores Singto Prachaya e Krist Perawat de Sotus e Sotus S The Series, e de Puín (Phuwin) e Pond de "Upon Fish in the sky" (Pescando Peixe no Céu, da GMM-TV). Na minha opinião se trata de um outro teatro, outra perspectiva de interpretação, que para alguns é o real, mas não é. A realidade aí acontece em um simbólico e metafórico palco. Nada de ilusão, e ao mesmo tempo, tudo de ilusão - parece ser o discurso (e ação) dos fanmeetings e fansevices, onde as fãs costumam desejar dar a direção, mas eles é que farão uma interpretação insubmissa, quase sempre. Mas onde está o real? Isso é importante? Eu retruco que não, pois isso não é vital aqui-agora nessa reflexão sobre uma série romântica da TV tailandesa. Realidade e ficção se misturam e dão um tom sobre o tom, uma outra ficção, outra realidade." (Hiran Pinel)

 

REFERÊNCIAS

PINEL, Hiran. Arte e ciência: aplicações em pesquisas na esfera da Pedagogia, Educação e Saúde e Psicologia. Do autor.

SARTRE, Jean-Paul. Ser e Nada. Ed. Autêntica.

FRANKL, Viktor E. Sentido da vida, diário de um psicólogo em campo de concentração. Ed. Vozes

BARTHES, Roland. A aula. Ed. Cultrix.

MOURA, Menderson Rezende de.; PINEL, Hiran. Ser Leonardo: Educação Especial, cegueira e cinema. Ed. der autoren. Venda no sitio: Clube de Autores.

PINEL, Hiran et al. Cinema, Educação & Inclusão. Venda no sítio: Clube de autores.