quinta-feira, 26 de outubro de 2023

enquanto isso na clínica e na educação escolar e não escolar...

A PSICOLOGIA (E A PEDAGOGIA) EXISTENCIAL: ESCRITOS SOBRE O TEMA

Hiran Pinel, autor

Hiran Pinel, selecionou, organizou

SUMÁRIO DO TEXTO:

1. YALOM E OS TERMOS CIENTÍFICOS

2. MEU CONTRAPONTO  DE MEDIAÇÃO COM A PSICOLOGIA EXISTENCIAL DE YALOM

3. QUANDO A CIÊNCIA QUE RECORRE MATERIAIS DE ARTES, LITERATURA E POESIAS

4. A ESCRITA CIENTÍFICA EXISTENCIAL SEGUNDO HALL E LINDZEY (1987)

5. SUBJETIVIDADE NA OBJETIVIDADE DO MUNDO: SER-NO-MUNDO

6. SER CIENTISTA QUE TRABALHA COM O MÉTODO FENOMENOLÓGICO: APLICANDO-O À EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA E À PEDAGOGIA HOSPITALAR

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1. YALOM E OS TERMOS CIÊNTÍFICOS

Hiran Pinel, selecionou e organizou

"Senti ainda outra dificuldade com a abordagem existencial, ela era mais uma teoria filosófica do que um sistema psicoterapêutico, embora houvesse exceções. Frequentemente não se encontrava uma concretude na orientação filosófica, que precisava se complementada pelo conhecimento aplicado do processo de tratamento.  

Yalom expressou uma preocupação semelhante: 

" ... filósofos existenciais profissionais ultrapassam até* (...) [outros teóricos de psicologia clínica]  no uso de uma linguagem obscura e enrolada ... [ele usa o termo filósofo para pensadores da psicoterapia] Nunca entendi a razão dessa linguagem impenetrável e com a aparência de profunda. Os próprios conceitos existenciais básicos não são complexos e não precisam ser decodificados e meticulosamente  analisados [no sentido de dar uma aparência profunda, pois o simples é penetrante, é complexo]. Muito mais do que isso, eles precisam ser revelados." (Yalom, 1980, p. 16)"

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FONTE DO TEXTO ACIMA: In: HYCNER, Richard. De pessoa a pessoa; psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus, 1995.

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NOTA DE RODAPÉ (NO TEXTO, COM ASTERISCO QUE INSERI)

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2. MEU CONTRAPONTO  DE MEDIAÇÃO COM A PSICOLOGIA EXISTENCIAL DE YALOM

Hiran Pinel, autor

VERSÃO DE YALOM: Para ler esse "contraponto de mediação", é preciso ler o texto anterior quando Hycner cita Yalom que faz críticos a psicoterapeutas que complicam a terapia recorrendo a termos obscuros, terminologia impenetrável, onde o autor dá uma aparência de profunda, e não é.

* VERSÃO DO "MEU" CONTRAPONTO DE MEDIAÇÃO: Yalom cita os psicanalistas, preferi suprimir, pois discordo de eles são não clínicos, ao contrários, criaram uma própria ciência, discutida ou não, mas uma ciência, que como todas elas, há elogios e críticas. Não são "só eles", os psicanalistas, que escrevem de modo complicado (?), confuso (???), por sinal, eu adoro ler muitos psicanalistas e não os acho simples, mas científicos - são profundos e tratam com delicadeza o ser humano.

Eu defendo que "TODOS os pensadores da psicoterapia" (ou da terapia existencial ou da clínica fenomenológico-existencial), e aí eu me incluo, aplicando à Educação Especial e Inclusiva e Saúde (e à Pedagogia Hospitalar), e que devemos recorrer sim à Filosofia, o devemos fazê-lo (ou deveríamos fazê-lo), dos diversos modos de ser "profundos" (ser rigoroso científico e sensível) na existência de uma pessoa considerada sempre como ser-no-mundo.

O autor Yalom, acho que se refere àqueles pesquisadores que não estão tão focados na Clínica Existencial, e (estão) mais na Filosofia, entretanto, o livro, por exemplo, tem título referente a Psicoterapia - vamos dizer que eu engano ao leitor, que comprou o livro pra ler sobre clínica, e é mais filosofia. Nesse sentido de mediação sensível, defendo que a filosofia deve sim vir no texto, até um capítulo só pra ela, considerando-a como (co)movedora da "minha" pesquisa, no caso, clínica. O pesquisador da clínica deve produzir um texto preocupado, por ex., com a formação de um profissional de saúde mental, e a clínica é aquilo que alguém no seu ofício faz junto e com um outro que sofre. MAS, isso o leva a se respaldar em pensadores filosóficos, ou sociológicos, ou antropológicos (filosóficos, por ex.) e ou. O clínico existencial abre-se aos filósofos dessa esfera.

A afirmativa de Yalom é complexa, pois. Ela pode ser também crítica, mas eu acho que o que ele "quer dizer": "não se preocupem, uma escrita meticulosa, rigorosa, clara e sensível, fundamentada também filosófica e psicologicamente, por si só, já é profunda e complexa". Mas, eu acrescentaria: "deixe claro a filosofia subjacente, e o que você desvia dela, afinal uma filosofia não é assumida clínica, e quando se ancora na saúde, ela deixa um pouco de ser "ela mesma" (Filosofia).

Yalom não fala de textos simplórios e de autoajuda, assim espero [risos...]. Mas, sabemos que Yalom, como Rogers, escreve o cotidiano profissional de clínico, usando um texto simples, refinado, rigoroso - e isso é profundo, pois não abandona a filosofia, nunca, pois ir fundo na pessoa exige Cuidado, rigor. Pessoalmente adoro ler textos clínicos com terminologias "complexas" (?), que me mexe com a "minha cuca" (me provoca de modo me tornar curioso), que mexe comigo, que me obriga pesquisar, ir mais fundo do que o autor... Todo ser humano merece e precisa de alguém que o considere profundamente. Textos "complexos" (?) me permitem ir além, pesquisar. Uma terminologia complexa nos impõe sempre a dialogar com mais delicadeza e detalhes, fazer mais interpretações sustentadas, no caso, pela Filosofia. Uma terminologia provoca-nos a utilizá-las nas relações com colegas acadêmicos e clínicos mesmos, gerando uma "linguagem científica específica" que produza efeitos benéficos na clínica, nos cuidados de qualidade que oferecemos a um outro, aquele que tem dor, desprazer, tristeza, sentimentos abandônicos etc..

Um clínico bem-sucedido, e que é um cientista rigoroso, será sempre "profundo", pois vai fundo na alma, mente e corpo do outro na (pró)cura de cuidar. 

O clínico e a clínica que há em todos os lugares e tempos, ele (e ela) é da outridade/ alteridade. 


Hiran Pinel, autor, 2023.

3. QUANDO A CIÊNCIA QUE RECORRE MATERIAIS DE ARTES, LITERATURA E POESIAS

Hiran Pinel, autor

DICAS PARA O PESQUISADOR QUE ASSOCIA ARTE COM CIÊNCIA, POR EX: ESTUDA UM FILME COM O FINCO DE COMPREENDER A REALIDADE.

O QUE GRANDES NOMES PENSAM A RESPEITO, TODOS ELES DEFENDEM QUE REALIDADE E FICÇÃO (AQUI NO SENTIDO DAS ARTES, LITERATURA E POESIA) SE INDISSOCIAM.

"A arte é a mentira é que nos permite conhecer a verdade" (Picasso). “A verdade só pode ser dita nas malhas da ficção” (atribuída ao psicanalista Jacques Lacan). “Arte e realidade se complementam. Sem realidade, a arte não faz sentido, sem arte, a realidade não tem significado” - Bahman Ghobadi, diretor iraniano de cinema, de etnia curda. "Não existe meio mais seguro para fugir do mundo [realidade] do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele [mundo real] do que a arte" (atribuído Johann Goethe). "A arte não é [só] um espelho para refletir o mundo, mas [é] um martelo para forjá-lo [a arte é uma dispositivo de resistência concreta; uma ferramenta para as lutas contra ao opressor]" (atribuído a Vladimir Maiakóvski 1893-1930). "A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa. Por outro lado, o saber que ela [literatura] mobiliza nunca é inteiro ou derradeiro; a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas sabe de alguma coisa; ou melhor, que ela sabe algo das coisas – que sabe muito sobre os homens". (BARTHES, 1978, p.19).  (PINEL, 2019; p. 3) .

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Referência: PINEL, Hiran. Arte e ciência: aplicações em pesquisas nas esferas da educação especial e saúde, bem como pedagogia hospitalar. Vitória, ES: ppge,ufes, 2023. 

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OBSERVAÇÃO: eu que digo que atribuo a esses autores, os textos. Falo de atribuição, só isso. Barthes talvez seja a exceção que podem citar direto, mas investiguem.

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4. A ESCRITA CIENTÍFICA EXISTENCIAL SEGUNDO HALL E LINDZEY (1987)

Hiran Pinel, selecionou e organizou

"O leitor poderá notar neste trecho um estilo de escrever que é característico da análise fenomenológica. A terminologia técnica está [quase] ausente, exceto pelas palabras Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt, mas estas só parecem técnicas aos leitores de lingua (...) [portuguesa] porque elas são palavras estrangeiras. Nota-se também o uso de um vocabulário evocativo, quase poético. Tais imagens parecem muito distantes do vocabulário sóbrio, comum e mesmo esmerado, comumente empregado na exposição científica. É preciso ter em mente que o existencialismo sempre manteve fortes laços com a literatura e que um dos seus antepassados, Nietzsche, foi tanto poeta quanto filósofo. De fato, a literatura sempre foi e terá de ser existencial, pois ela lida como ser-no-mundo. A literatura é psicologia com a diferença de que a literatura é ficção, enquanto a psicologia é ou deveria ser factual. A diferença é entretanto trivial" (HALL e LINDZEY, 1987; p. 89).

"Boss insiste que o que a ciência considera ser um respeitável vocabulário científico é uma usurpação da palavra "científico". É preciso usar as palavras que melhor descrevem os fenômenos, e não ser limitado por uma tradição autoritária. Novas perspectivas científicas [como a ciência fenomenológica-existencial da época do livro Hall e Lindzey] comumente exigem um vocabulário completamente novo, assim, não é surpreendente que muitos escritos existenciais soem estranhos e esotéricos para aqueles que foram criados com a visão de mundo científica do século XIX. Como acontece com as novas formas de música e de arte, a dissonância criada pelo vocabulário existencial será gradualmente reduzida e desaparecerá" (HALL e LINDSEY,1987; p. 89)...

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Referência

HALL, Calvin S.; LINDSEY, Gardner. Teorias da personalidade. Volume 2. São Paulo: EPU, 1987.

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5. SUBJETIVIDADE NA OBJETIVIDADE DO MUNDO: SER-NO-MUNDO

Hiran Pinel, autor.

"Em termos didáticos a Psicologia se interessa pela [1] SUBJETIVIDADE, que tem em si um complexo mosaico de vidas, focando na singularidade, mas de uma ligada a pluralidade de ser, afinal ser-no-mundo. A subjetividade tem quatro tópicos que a compõe, e todas elas vividas como indissociadas e com diversos dinamismos dialéticos, quais sejam: 

as (vidas) [1.1] afetivas (os desejos, as emoções e os sentimentos, o amor e ódio, a alegria e a tristeza, o prazer, o desprazer e dor etc.) 

as [1.2] cognitivas (pensar, o raciocínio, resolver problemas escolares e os da vida vicária, prestar atenção e memorizar, ser racional etc.), 

as [1.3] corporais (imagem corporal de si, e o modo de perceber o "outro-corpo-de-eu", dores física e impacto na psicologia de "ser no mundo", sintonia orgânica, esquema corpora e imagem mental do nosso corpo, o corpo vivido/ percebido, representado, efeitos de remédios em "mim-corporal", consciência do corpo no mundo e com o outros, formas de movimentar-se com o corpo dolorido, ansioso, distressado, harmonia corporal etc.) e a vida "eu-tu-nós-mundo", e,,, 

as (vidas ) [1.4] sociais, culturais e históricas" (PINEL, 2010; p. 12). 

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NOTA: em citando, favor referendar

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6. SER CIENTISTA QUE TRABALHA COM O MÉTODO FENOMENOLÓGICO: APLICANDO-O À EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA E À PEDAGOGIA HOSPITALAR

Hiran Pinel

A Psicologia Fenomenológico-existencial e o método fenomenológico de investigação têm uma potência muito forte na Educação Especial inclusiva e na saúde, e na Pedagogia Hospitalar. Por sinal, a inclusão pode ser compreendida como um termo humanista existencial, ele mesmo, valorizando o ser humano como ser-no-mundo, jogado no mundo sem sua anuência, e agora ele trata de cuidar de si e do outro, como "modo de (ser) si". Também se faz presente na sala de aula quando (co)movida pelos cuidados cognitivos, corporais e afetivos oferecidos ao outro, aluno comum ou especial. Ainda se faz presente quando nos referimos ao que acontece nas salas de atendimentos especiais-educacionais, e aos atendimentos educacionais em ambientes hospitalares e domiciliares para e com o aluno-paciente com doenças crônicas dentre outras, que lhe produziu alguma deficiência, um desgaste emocional e físico, um chorar de dor, uma alegria de estar sem dor na sala de aula hospitalar, ou estar doente mas junto com seus familiares e amigos etc. Esse impacto do método fenomenológico (na pesquisa e na intervenção educacional), como se não bastasse a sua potente força nas pesquisas onde o humanismo existencial nos joga na cara nossa fragilidade e finitude, e nossa alegria e prazer em viver, está também diretamente relacionado ao processo nacional (e até internacional) de "humanização hospitalar" e da "inclusão" escolar (e não escolar)> Tais processos comparecem mediados pelo foco dado a um ser humano livre em todos os sentidos, que passa o seu existir escolhendo e se responsabilizando por isso, e se angustia diante do seu "ser-para-a-morte", e que muitas vezes se releva aberto a aprender e crescer, apesar dos pesares. A morte, consequência natural do final concreto do respirar, complexamente desvela a força de uma prática educacional fundada em uma "Pedagogia inclusiva Existencial", do respirar na vida é real, e há vida no humano projeto de ser, que tem tessituras e tecidos dos sonhos, dos devaneios, das ilusões, do viajar em si, nos outros; nas nossas fantasia - as transcendências do cotidiano banal e agressivo etc. Não podemos morrer se ela ainda não chegou, nossa meta deve ser uma opção pela vida, enquanto ela estiver. Enquanto a finitude física não chega, a vida ganha força. A vida, então, aqui-agora, não responde aos desejos do senhor Ceifa(dor). Nesse sentido da vida, a escola e a sala de aula é vida que insiste em respirar a alegria de estar aqui-e-agora entregue ao "experienciar", sem impedir o "outro lado" de ser do ser humano, o seu "ser-para-a-morte", mas em ser-com [...] A inclusão escolar, ela mesma, clama por uma postura fenomenológica. A educação especial especial em toda sua amplitude, também clama pelo humanismo-existencial a ela aplicada. Na saúde, esses movimento existenciais tem se mostrado potentes na vida, e no impacto da morte no doente (do-ente) e ao seu entorno, como a família, os amigos, o staff da saúde etc. Nesse sentido processual de viver a vida sempre inconclusa e incompleta, a professora (e a educadora e ou) pode ser orientada, em um tipo de "formação existencial da docente" a criar/ inventar/ produzir uma "ação/ prática educacional" de seu "ser-no-mundo" do ofício do magistério, revelando a potência do seu labor. Essa formação pode ensiná-la a se "envolver existencialmente" com o estudante-paciente na escolaridade, e ao mesmo tempo produzir um "distanciamento reflexivo", momento que ela se interrogará: O "que é" e o "como é" o sentido desse meu vivido com o aprendente/ aluno/ estudante/ educando/ orientando? O "que é" e "como é" ser professora hospitalar? "Como é" trazer o "mundo lá fora" (a comunidade real/ concreta do aluno) para ser "sentida-pensada-agida" no concreto de um hospital quando mostra ao sofredor "sua escola da comunidade, está aqui dentro da instituição, na classe hospitalar, vamos lá? "Como é" que o aluno, com gravíssimos problemas de saúde, pode viver uma relação com a professora geradora de mais aprendizagens de conteúdos escolares (e não escolares), pois, um segundo antes de morrer, o discente tem direito à educação e à escolaridade (PINEL 2004; p. 9-10) 

[Hiran Pinel, autor]