segunda-feira, 1 de junho de 2015

QUE LUZ ESTRANHA!
Apreciação do filme tailandês "Doença Tropical" (2004)

Parte I
Assisti esse filme em 2006 ou 2007 em São Paulo - Prêmio Juri Cannes -, e meu amigo de lá mandou-me hoje o dvd - já o recebi, depois de anos... Agradeço. Pus-me à serviço da memória... A cena dos dois amigos - Keng e Tong - dentro do cinema, na película "Tropical Malady" (TAILÂNDIA; 2004; direção de Apichatpong Weerasethakul ou Joe) é perfeita e prenhe de sentidos, um cruzando as pernas sobre a mão do outro; outra cena imperdível é quando um lambe a mão e dedos do outro (e vice-versa) e um caminha adentro pela floresta tropical, pedindo "um" (pró)cure-me - que será a 2a parte dessa obra de arte; o macaco mandando mensagens sobre o medo e a tristeza, é outra cena - tantas, tantas. Um dormindo no colo do outro. Por si só merece uma produção científica, como o tema "cri(ação) educativa da amizade" - o que e como é isso? Tem uma cena que me emocionei: quando a cantora lhe dedica uma canção, e ele canta junto - ele dando um colar a ela, é um ato de respeito ao artista de bar. Sentidos, sensações que implicam rumo/norte/direção do ser em ser sendo (junto ao outro no mundo), uma entrega, uma periculosidade, o homem animalesco que demanda ser humano, os sons da mata, a procura de significados pra poder viver e entregar-se ao amor, que sempre é um mistério como é a mata virgem. Irei rever.

Hiran Pinel

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Parte II
Sensações instintivas de amizade retroiluminadas pela floresta - a luz que dela se reinventa, "uma luz estranha" [1]. O amor como uma enfermidade dos trópicos quando do abandono e rejeição, isso no filme "Tropical Malady" (TAILÂNDIA; 2004; direção de Apichatpong Weerasethakul ou Joe). Depois da cena do "cheira-lambe mãos-e-dedos", o personagem Tong abandona o amigo Keng, sorrindo ele vai floresta adentro, donde se desvelará primitivo, faísca, foragido. Será nesse primitivismo que Tong se fará o espelho a Keng, dispositivo que lhe dirá: ainda te amo, mas é preciso partir pra outra, sob a forma de animal. Tong não deseja sair quando o amor acaba, mas abandoná-lo quando ele ainda existe, e declarar os percalços que irá criar no abandono - ele mesmo sofrerá também, mas em um outro tipo, estranho tipo, pelo menos pra nós. Trata-se do primitivismo como modo de se transformar, e fazer a travessia pra novos amores. Acostumamos com o mesmo amor, o repetido, o de todo dia, o cotidiano - por isso não suportamos esse filme, nos sentidos constrangidos, desesperados - nós mesmos os abandonados. Ó Tong não nos faça isso, eu lhe peço, chupe nossos dedos, mas não nos abandone... Ó deus das florestas, não o deixe adentrar, e se o fizer, que o mate, mas de outro ele não será [kkk].