terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sobre Sorge ou Cuidado...

JOVEM, CUIDE DO IDOSO, PARA AMANHÃ (JÁ ESTANDO VELHO) TER OUTRO JOVEM CUIDANDO DE VOCÊ - KKK 

Estranho o filme "Gerontofilia" (2013; direção de Bruce LaBruce). Ao final desse provocante filme, encontramos todo o sentido da vida, e no caso, é o de Cuidar para manter acesa a luz da vida, até ela se apagar, e recomeçarmos sempre-Sorge (Cuidado). 


Imagens de um filme provocador, que não nos deixa intactos... Uma outra estética da relação, além da beleza oficial...


aborda os modos como a sociedade capitalista aborda os idosos, e de como ações individuais de um jovem essa situação, no micro cotidiano, pode produzir alguma perspectiva... Um santo, por isso cuidadoso...








Um belo jovem (ator: Pier-Gabriel Lajoie, muito bem no papel) tem desejos em cuidar de pessoas idosas - cuidar em todos os sentidos kkk. Gerontofilia significa: filiação/ligação/interesse pelos idosos. O começo do filme é ótimo kkk Ele vai atravessar uma rua, e um idoso faz essa orientação, espécie de agente de trânsito do Canadá (acho)... No começo, sem conhecer a história, morremos de rir do modo como ele deseja o idoso, e o modo como o outro olha assustado para ele - um desejo pode assustar se não podemos corresponder a ele, não temos como saciá-lo kkk. O jovem é um sujeito sem rugas kkk e sem rusgas, e com estranhas motivações dentro da nossa cultura e sociedade - os jovens da nossa sociedade não gostam dos velhos e vice-versa. 

Os caminhos o levam trabalhar em um asilo (de idosos) - a mãe dele é uma desleixada, que clama pelo cuidado filiarl. Lá ele passa a cuidar com afinco de um idoso específico (interpretado pelo premiadíssimo Sir Walter Borden) - isso mesmo, seu foco é apenas nesse idoso que é negro, aparentemente abandonado (e é), enrugado etc. E descreve essa complexidade, esse temor, essa entrega desvairada, esse afeto que se encerra em nosso peito varonil (e juvenil), que gradualmente se mostra saudável, apesar de ameaçador - tem gente que me disse odiar esse filme, por isso eu o assisti. Adorei - minha vingança aos críticos e preconceituosos. 

O filme, de certo modo, denuncia o modo como os idosos são abordados em asilos, pois são pessimamente tratados, também são infantilizados pelos outros, pela própria família e pelo Estado - e até pela ciência (pouco pesquisado), arte e literatura (pouco tema produzido) etc. O final dessa película é ótimo demais, muito. Senão vejamos: O idoso que ele cuida, morre. Vão ao velório 5 pessoas contando com o organista... kkk Ele vai pra casa, e no outro dia sai para mais um dia de labuta. Ao atravessar uma rua (em tempos de neve), é ajudado por aquele idoso do começo da película, aquele que faz o sinal de trânsito, ele orienta os transeuntes - tipo trabalho do Estado oferecido aos idosos empobrecidos. 

Ele se apresenta finalmente ao velho orientador de transeuntes: "- Meu nome é Lake!" E prossegue: "quando vou vê-lo outra vez?", e escuta a resposta dizendo o dia correto. O idoso fica desconfiado, mas sorri - "é mais um pra cuidar de mim", parece estar pensando. Ele segue o caminho com a sua paixão em cuidar do outro em finitude, do outro em decadência física. 

Ele caminha de cabeça erguida, pois aquele idoso que ele cuidou, pode ter sido tão belo e generoso quanto ele, tão envolvido existencialmente com os decaídos. Eu penso que o filme quer dizer isso: Jovem, cuide do idoso, para um dia, já velho, ser cuidado por aquele que você já foi kkk

Tem coisas de natureza sexual no filme a dizer - que é o foco dele kkk-, mas evitarei aqui-agora, não quero brigas, e elas (as brigas) não resolvem nada, amor não se resolve assim kkk Estranho e provocador essa obra de arte: "Eu já disse isto"? kkk

NOTA: Não gostei do título no Brasil, pois recordou meus tempos de estudos em Psicopatologia na universidade onde fiz Psicologia, e na área clínica. O professor (e os livros da época), o saudoso e estudioso Luiz Carlos Brant (professor maravilhoso) tratava tal palavra como doença mental, o ato de um jovem gostar de um idoso era algo doentio por si só. O termo mesmo não significa patologia, mas uma demanda pessoal de um jovem ou adulto (ou outro) em afiliar-se (gostar, cuidar) ao idoso com alegria, prazer e necessidade individual (e até grupal). Claro que em excesso as coisas podem ser preocupantes, algo que se aproxima ao fundamentalismo, mas no filme não, nessa obra de arte não tem nada de doença psicológica, sendo algo saudável, e é. Mas nossa sociedade fica em pânico... Calma violência, calma... kkk O título em português? Cuidando do outro... Ou: Cuidando. Ou: Sorge. Ou: Diferenças e aproximações. Ou... tem tantas possibilidades para nomear essa obra de arte... O tema do filme é cuidar - no sentido de um jovem inventar modos de ser-sendo junto ao outro no mundo do cuidado (cuidar do outro como parte de si), acho...
Foto de Hiran Pinel.