sábado, 29 de outubro de 2016

TV Canal Futura. Programa "Em Família". Tema: "Asilo & Idosos".
Lá pelas tantas, uma filha é mostrada como modelo, então, de modo ousado, revela que ela e a mãe (que está no asilo) sempre tiveram péssima relação, pois "minha mãe sempre me sufocou". A filha fala com muita emoção e verdade pessoal, ela não está vingativa.
A apresentadora finge que não escutou, e ameniza a fala da entrevistada - relativiza.
Muda de cena.
Estamos no asilo e a mãe dela lê um livro que é mostrado a capa: "Insustentável Leveza do Ser" de Kundera. Ela diz que "amo esse livro e ele me faz suportar a distancia da minha filha". O jornalista pergunta o motivo, e ela fala que não sabe. O espectador empático já sente o motivo, pelo título do livro.
Como a mãe e a filha, somos ser da efemeridade e da solidão, cheios de conflitos, odiamos quem nos ama, e amamos quem nos odeia, vivemos sonhando com as relações interpessoais sem crises e sofrimentos. Toda relação é multicolor, nem azulzinha, nem rosinha. Não conseguimos sustentar a nossa leveza de ser, nossa fragilidade e incompletude, e engolimos o discurso de que somos sólidos e portadores de verdade única e universal. Um objeto de sentido substitui a filha e passa a ter vida, o discurso verdadeiramente amoroso da filha, substitui sua ausência junto a matriarca.
Ó Deus, eu vivo a insustentável leveza de eu ser sendo junto ao outro no mundo que não compreende que não há relação idealizada, mas a real.
[Hp; ficção; segundo minha memória hoje, eu assisti ontem o programa]