terça-feira, 4 de abril de 2017



Uma mulher me ama, ontem ela me disse
Por fora ela sorria, mas... por dentro ela chorava
No mundo ela existe e te ama, mas você não quer saber
reclama da solidão enfadonha, mas o coração dela está aberto
Cotidianamente ela segue sua imagem, uma sombra
Eu já expressei que ela está sorrindo, mas chorando?
Os dias passam e eu penso no que ela me falou
Já eu, já envelhecido como carvalho, penso no que eu perdi
O que eu posso fazer para revê-la e a mim?
Eu não consegui me aproximar dela, e me distanciei
e ela pedia tão pouco, tão bela, tão doce, tão beijo
e eu ficava seduzido por um outro - um "eu mesmo de mim"
Devagarzinho ela foi saindo pros outros lados
seus olhos foram encontrando outros sentidos
Hoje eu me olhando no espelho não consegui me enxergar,
mas um reflexo daqueles restos, rugas de mim apareceu
Vi um rosto cansado, frágil, marcado e com um lábio amargo
e como a poesia, interroguei-me numa espécie de empreitada:
- Onde foi parar a minha face, aquela delicadamente humana?

[Hiran Pinel, autor - ficção]