sábado, 15 de julho de 2017

Análise
Filme: "Quatro e Meia da Madrugada" (Título original: 4:30; Singapura; 2005; direção de Royston Tan; título possível no Brasil: Solidão a dois).

EFEITOS DA AUSÊNCIA PATERNA...

A história é a seguinte: Xiao Wu é um jovem adolescente que reside em Singapura, cuja mãe trabalha em Pequim e lhe telefona de vez em vez. Do pai real nada sabemos. O apartamento é decorado de forma minimalista, é um menino relativamente pobre - prédio sem elevador, velho e acabado, cozinha velha, um único banheiro (que facilitará o desenvolvimento do enredo) etc. No apartamento chega um inquilino sul-coreano chamado Jung. Logo de cara temos a barreira da linguagem, então o filme opta pelo silêncio e expressões corporais. Wu, toda 4:30 da manhã é acordado pelo despertador, e vai até ao quarto alugado donde dorme o alcoólico Jung, que nem sente o contado do outro, e vasculha a vida desse estrangeiro - internet, objetos em geral, roupas, cigarros (Jung é fumante inveterado) - tudo. Ele se fotografa junto a Jung que dorme, e nem se sente e muito menos sente o outro. Outra coisa que Wu faz é manter um estranho diário em um livro - que é a parte mais linda e delicada do filme. Por exemplo: em uma cena Wo arranca com uma tesoura parte dos pentelhos (da púbis, é claro) de Jung, e os prega no livro. Wu vai ao médico e inventa q tem tosse, e lhe é prescrito xarope (leia-se: álcool) e ele se embebeda. O menino deseja conhecer esse outro (e a si mesmo), quer ser amado por ele, e mais, projeta nesse outro o pai que não tem. Tanto é verdade, que na escola, atendendo às determinações da professora, escreve redação que tem que ter 300 palavras. Ele fala do estrangeiro como se pai dele fosse, descreve uma idealização e revela as dificuldades com esse pai. A professora o pune pela redação ter só 150 palavras. Por que vc não fez com 300 palavras como determinei? Responde: "É porque eu só conheço pouco dele, só conheço isso", o que não impede dele ser punido - fica do lado de fora, encostado na porta da sua sala de aula, isso lá deve ser humilhação. Wu gosta de cantar canções tristes e as grava uma pra Jung - músicas que fala da solidão, abandono, adeus, e uma certa pegajosidade do não me abandone, por favor. Na única cena de toque físico-corporal, Wu abraça os braços de Jung, e lhe "pede" (simbolicamente) carinho e amor, vamos dizer, paternos, mesmo que aja um tom muito sutil e complexo do desejo libidinal, e aqui precisaríamos aprofundar em Sigmund Freud. Jung não se autoriza e ao mesmo tempo está fragilizado pelo rompimento com uma mulher, talvez namorada - são dois seres frágeis, ambíguos, sozinhos mesmo estando junto em um mesmo espaço, no tempo - aqui recordo de Heidegger e de Sartre, e das psicólogas Yolanda Cintrão Forghieri e Monique Augras. Depois desse roçar de peles humanas, o inquilino desaparece e vai embora, talvez amedrontado pelo outro, e o apartamento fica mais vazio, frio, tal qual os dois homens vazios e carentes. Wu imagina sendo abraçado pelo estrangeiro - cuidado por ele, e cuidando desse estranho outro. Ao final, o rapazote Wu brinca com uma minúscula aranha fazendo-a tocar em seu corpo (mãos), chega em casa, fecha as janelas e numa delas pega um pincel com tinta cor preta (luto) e deixa sua mágoa (marca): eis um menino sozinho, triste e que carece da presença paterna, que está escondido e apagado, por isso ele se entrega às aprendizagens dessa experiência para ver e sentir se sai do caos afetivo e emocional em que viver. O que será de Wu daqui há algum tempo? Qual o impacto dessa experiência com o outro, que tem algo de si? O que será do jovens no futuro, frente aos abandonos e rejeições afetivas de suas figuras paternas? Olhem pra mim, vocês se verão KKK e me enxergarão melhor no próximo "verão capixaba" kkk

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