domingo, 24 de setembro de 2017

Agora fico a olhar o apartamento de frente ao meu. Fico de soslaio. A moça parece escutar uma canção, pois dança sozinha com um copo de bebida nas mãos, deve ser whisky, cuja palavra ao ser pronunciada, os lábios parecem ao final abrir-se em um leve sorriso, um botão em flor. Ela fica dançando e está quase pelada - linda como poucas. De repente ela para, e será ela que ficará reflexiva na janela - isso por um tempão. Vira de costas e encostada na parede vai sentando no chão. Fico olhando horas e horas, a mesma cena - janela aberta, luz acesa - e ninguém para de fato eu enxergar. Será que ela está ainda sentada? Será que pensa em que? Uma pessoa a abandonou ou ela sempre foi sozinha? Eu penso que é uma menina só, e eu também sou só, e minha solidão é maior, pois fico olhando, olhando fixamente - como se desejasse reter nas pupilas o que um dia esquecerei. Menina e menino tão sós, nunca fomos abandonados e nem rejeitados, somos sós, uma alegria de ser na solitude nessa noite tão molhada.

[Hp; ficção]