quarta-feira, 1 de novembro de 2017

MOVIMENTOS CONTRA O DIAGNÓSTICO EM SAÚDE MENTAL APLICADO À EDUCAÇÃO ESPECIAL ESCOLAR E NÃO ESCOLAR...

A Psicopatologia é o ramo da Psicologia Clínica que estuda a saúde mental, seus desvios (criativos ou não), as perturbações afetivas e cognitivas da pessoas que são ser-no-mundo (junto ao outro), propondo palavreados, reflexões, classificações, poéticas, descrições, compreensões, subversões etc. Preocupa-se, de modo tradicional ou subversivo, com o normal e o patológico, vistos ora de modos separados, ora indissociados, ora...

Hillman (2010) descreve três tipos de raciocínios produzidos contra o diagnóstico em Saúde Mental (Psicodiagnóstico), e que eu aqui-agora, é uma reflexão que pode ser muito útil para a Educação Especial Escolar e Não-Escolar assim como para outros ramos do conhecimento e do exercício profissional que recorrem de um modo ou de outro a diagnóstico, como a própria Psicologia Clínica que muito se fez nessa área e ainda  se faz, a assim chamada Psicopedagogia, o Serviço Social, a Terapia Ocupacional, obviamente a Medicina (Psiquiatria), a Psicanálise, a Psicomotricidade, a Arteterapia etc. Para fazer isso fui ao livro de Hillman (2010).

Há então três tipos de raciocínios contra os diagnósticos, especialmente da esfera da Saúde Mental clássica, produzidos por seus críticos: 1) nominalismo; 2) Niilismo; 3) Transcendência. 

a) NOMINALISMO: aqui, a pessoa em geral, seja o paciente, aluno, professor, pais, psicólogos, médicos etc., é contra quaisquer palavreados diagnósticos. Tais termos nomeiam o outro e com isso  produz muitos preconceitos, estigmas e discriminações. O o termo passa a nomear a pessoa, que nesse processo (vivido na sua carne) terá um outro nome próprio (ou identidade - uma pior, diminuída), deixando de ser si mesmo (ou o que isso é possível). A pessoa será um rótulo; a classificação vira um rótulo. Uma nomeação rotular ao ser dito (e escrito) traz um conteúdo, que ao ser dito, o entorno atua concordando/ aprovando - exemplo: uma criança é diagnosticada com Deficiência Intelectual (ou o que seja isso), e todos à sua volta a abordam assim, como um ser unicamente deficiente intelectual, oferecem para ela algo menor do que suas possibilidades (não responde às suas potencialidades e nem o que já sabe), que isso nem são investigados por pessoas "responsáveis" (?) que estão ao seu entorno;

b) NIILISMO: a nomeação é percebida/ sentida/ agida como algo idiota, sem sentido, algo vazio. Pessoas nessa esfera, niilistas quanto ao diagnóstico na Educação Especial, são contra quaisquer palavras criadas - diagnóstico de um único ou poucos termos, ou mesmo uma pequena descrição clínica. Essas pessoas quem a "certeza" (?) de que um diagnóstico nada presta, nada serve (a não ser humilhar ao outro): "as pessoas desocupadas criam tais termos sem necessidade, numa sociedade que tem coisas piores e que não dá conta, então fica inventando rotular o outro... Pra que? Isso não leva a nada, e por vivermos num vazio e idiotice, criar rótulo é algo perverso". Criar termos específicos na esfera da Educação Especial é uma grande "bobagem". Quanta inutilidade os cientistas ficar criando do nada e do vazio existencial, ficar classificando um mundo inclassificável. A ordem é: "abaixo as classificações", elas são nada - mesmo que vivamos numa sociedade que produza classificações, mesmo que isso componha nosso cotidiano ordinário. Sim, mas sem dúvida, na Saúde Mental (que tem forte impacto na Educação Especial), e isso precisa ser jogado fora, pegar esses textos e queimá-los, por exemplo. Tudo é um vazio e esses diagnósticos são assim, inúteis. Mesmo que haja classificações na nossa sociedade, elas existem - para o bem, para o mal e esses discursos pra lá, despreze-os, desconsidere-os;

c) TRANSCENDÊNCIA: se refere à noção de que o ser humano é essencialmente bom e perfeito, e que não existe nessa bondade e perfeição maravilhosa nada de adoentado; a doença está fora do sujeito - na essência ele é bom, a sociedade que é corrompe, e será ela que demandará ser diagnosticada, rotulada. A clinica (o sofrimento diagnosticado) não pertence ao reino humano, pertence ao reino externo.

Em síntese: Os que acusam o diagnóstico de apenas ser nominalismo, o fazem dizendo que são palavras e ou termos inventados, que de tão poderosos numa determinada cultura e sociedade, que se transformam em estigma, preconceitos, discriminações; se transformam em rótulos; impregnam a personalidade da pessoas substituindo (ou tomando) seu nome, sua personalidade/ identidade. O niilismo aparece para dizer que o diagnósticos são palavras vazias, não levam a coisa alguma de sentido útil, a não ser humilhar ao outro. Na transcendência encontramos críticos aos diagnósticos que são muito, mas muito inferiores aos seres humanos, esses sim são superiores, tão perfeitos e bondosos que tal ação diagnóstica não chegando nem perto dessa humanidade, tende acabar com ela; o sofrimento é produzido pela sociedade, ela sim deve ser rotulada, pois o homem na sua perfeição não precisa de rótulos.  

Ao mesmo tempo Hillman (2010) diz que a Psicopatologia compõe a alma, sendo-lhe um modo de vida, algo de sua expressão. Saúde e doença compõe o mesmo mosaico de ser do ser humano.

Agora eu desejo levantar poucas questões, em espaço-tempo tão efêmero como é o facebook: É "preciso" produzir classificações? Porque classificamos? Como funciona nossa sociedade classificatória? Quem são classificados ou não? O que são os inclassificáveis? Como reconhecer que há doença mental sem classificar? Como subverter classificações? O que é e como é a pesquisa e produção de um diagnóstico descritivo e compreensivo, como uma das possíveis propostas de subversão/ oposição às classificações diagnósticas?

FONTE: HILLMAN, James. Re-vendo a Psicologia. Petrópolis: Vozes, 2010.


NOTA NÃO SÓLIDA E NEM DEFINITIVA, APENAS PARA PROVOCAR E PRODUZIR REFLEXÕES
Eu acrescentaria dois tipos de raciocínios contra o diagnóstico: o tipo de raciocínio advindo dos diagnósticos classificatórios que leva sempre e unicamente à MEDICALIZAÇÃO, seja uma prescrição unicamente desnecessária/ inadequada de [I] remédios (psicofármacos) visando resolver a questão o mais rápido possível como é a proposta de autoajuda ou mesmo acalmar e submeter corpos indóceis ao status quo estabelecido, assim como fazer prescrições de [II] novos/ alternativos comportamentos (e cognições) através de ensino planejado / executado/ avaliado sistematicamente, como estímulo de liberação de recompensas (para as respostas adequadas) para que ocorram mudanças positivas cotidianas, produzindo ansiedade patológica no sujeito - um medo em decepcionar-se e ao outro, o medo de ser um fracassado; raciocínio contra o diagnóstico que leva ao SADOMASOQUISMO (numa psicossocial), pois o sujeito é maléfico e perverso, mesmo na sua origem (ele é perverso na sua estrutura) ele é mal/ mau, e as classificações em Saúde Mental existem para isso, para anunciar essas maleficidades e as consequências de humilhação; o discurso nomeadores podem servir para que alguém tome as devidas providências contra essas anomalias consideradas como verdades únicas e universais e que estão fixadas; o profissional que rotula é um sádico e ao mesmo tempo sofre por fazer isso, afinal ele deseja o "bem" (?) do outro, e esse clima maléfico contamina ao paciente, não necessariamente nessa mesma ordem, mas ele se sentindo mal, mas feliz por ter um rótulo, alguém se "preocupar" (?) com ele. Os remédios indicados e propostas de mudanças comportamentais (e subjetivas) são considerados experimentalmente ineficazes, logo todo esse processo é ao mesmo tempo sádico e masoquista. NOTA: Não é algo definitivo e eu fiz isso de modo imediato durante uma aula nossa de Introdução à Educação Especial. * Hiran Pinel, autor...