sábado, 6 de abril de 2024

"Não se deve realizar uma pesquisa fenomenológica com comportamentos ansiosos [grifo meu] ou que previamente almejam a compreensão dos fenômenos sem imergir e conhecê-los na existência, no dia a dia de uma pesquisa [...] é necessário haver tranquilidade e registro ipsis literís [grifos meus] do que se apresenta"
(Fraga e Gomes, 2023, p.67).
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FRAGA, M. A.; GOMES, V. Fenomenologia e altas habilidades/ superdotação Políticas públicas, metodologia e pesquisas. (e-book), EDUFES, v. 26. 2023. Disponível na internet
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reflexão: acordos e contrapontos
A ANSIEDADE DO PESQUISADOR DA ESFERA FENOMENOLÓGICA
Adorei a citação acima na hora que a li em um projeto de pesquisa. Não atinei quanto à autoria, primeiro li o sobrenome Fraga... Depois vi que é de Fraga e Gomes, nossos colegas. Pensei: muito bom! É um citação que pode ensinar ao cientista fenomenológico iniciante, e mesmo o já mais tarimbado, como irei refletir uma patologia é uma patologia, e ela pode pegar aos mais sábios, Albert Einstein dizia que era muito ansioso (risos). Se a frase de Fraga e Gomes, ao ser lida, entendida e compreendida, gerar "aprendizagem significativa", como dizia Carl Rogers, é um sinal de que o pesquisador tem uma ansiedade que pode ainda ser trabalhado por ele "com ele mesmo" - vamos usar um termo coach (risos), de autoajuda das mais simples; MAS, se a frase não ensinar, e nem gerar verdadeira aprendizagem, é que ela pode ter ser lida, e não ser entendida e muito menos compreendida, aí o melhor é o ser humano "aprendente" (pró)curar ajuda ou cuidado de um profissional clínico na esfera da subjetividade. A frase deles, Fraga e Gomes, "me representa" (representa-me)... Acho isso, tenho vivido esse fato sentido com meus orientandos: ansiedade. Interessante, é que tem vez que a díade relacional desvela algo, o que? Ali no setting clínico orientando-orientador, ainda que essa (relação) se estabeleça em sala de aula, podemos supor que é algo da patológica vida - doentia existência. Um existir malogrado. Uma ação profissional descontrolada, logo um profissional que presta um desserviço à comunidade, à ciência. O pesquisado aponta uma falta mínima de "estima por si', um confiança básica cortada e que sangra ali, pede ajuda, e que o orientador, numa dimensão de ofício, só pode crer que ele reestabelecera a paz com um prática educacional (existencial), e como é fenomenológico o professor, uma "aula existencial". O orientador comum, não precisa ser um clínico profissional, mas sensível fenomenologista, e então, ao se revelar assim, perceber[a até as condições somáticas que acompanham o psiquíco do seu querido aluno: suores, corpo rígido e crispado, dificuldade de relaxamento, uma angústia densa, tensa e intensa etc. Não uma angústia comum ao existir, mas a ansiosa. O aluno pode relatar, como já aconteceu comigo, de que "eu adoro estudar com o senhor, mas depois que o senhor começou a pedir-me os dados nascidos do/ no campo, para que eu os coletasse e os descreve cientificamente, parei de sentir vontade de vir as aulas e aos encontros de orientação, estou perdendo sono um dia antes... Coleto, mas nada me agrada, não presto atenção em nada e nem ao que meu irmão gosta...". Esse humano orientando, demasiada pessoa, tão efêmera e comum, fica em um estado, metaforicamente febril, que pode ceder realmente a uma febre. Um ser de uma intranquilidade, um "avoa(dor)" soturno, que não fixa a atenção, e a desatenção tem produzido registros vazios, não convincentes pela fragilidade ou pela discursividade intelectualizada de uma pessoa simples que aceita entregar parte dela ao pesquisador - não falo de prática "fake" (intencional mentira descritiva, isso seria um crime) e uma falta de ética e digno de reprovação. Descrevo essa "ansiedade psicopatólogica" do cientista, em um esfera que exige um contra-ataque, uma espécie de "soturno-contra", ou seja o método fenomenológico se opõe a essa ansiedade exagerada. Ora, nossa proposta é de uma investigação onde a empatia ou epoché ou envolvimento existencial, ou como diz o Vitor Gomes, uma "imersão" no vivido do outro, pela via sóbria do escutar, se faz urgente, uma clínica da urgência, cujo cura/cuidado é a tranquilidade. Mas, não, o que tem ocorrido, na ansiedade inoportuna, é aquilo que se descreve aquele que come sem sentir o gosto da comida: "ele engole aquilo que deseja comer, comida sem ser comida, sem ter gosto e nem nada - sem sabor sentido". Dito de outra forma: é comum o orientador ler uma descrição e perceber facilmente que ali está escrito um texto de um orientando despreparado para sentir e saborear o método fenomenológico, que é de pesquisa e de intervenção, devido a ansiedade de ser-no-mundo. Esse pesquisador "deseja escutar, tendo por parâmetro, um si mesmo". Ele chega em casa e o que recorda é "dele mesmo", e não ouve a pessoa que colabora com sua pesquisa, a voz do outro é apagada com sua voz - a própria voz não vitoriosa no modo de ser. Ele escuta o que deseja escutar. Comumente o pesquisador me diz quando eu o questiono, e ele justifica: "é que o gravador, na hora, não funcionou, não sei porque, eu fiz tudo como manda as normas do celular, e eu sempre usei, só agora deu errado". Então, ele escreve de memória. Não que esteja errado escrever de memória, é até que pode eventualmente, mas al descrever, ele distorce demais, vá pra campo outra vez, e tome tenência na vida profissional (risos). Mando, ao retornar ao campo, e quando posso, vou junto, um ser-com autenticidade. Quando fui, foi o que Fraga e Gomes descrevem: impulsividade como a atitude nascida da ansiedade patológica. Como cantava o antigo (e ex-engajado - risos) compositor e cantor Raimundo Fagner: "(...) calma violência, calma". Na impossibilidade, (pró)cure um terapeuta, e na falta de coragem e invenção de que não tem grana para pagar um clínico, vá a um massagista, naquela ou naquele ali da esquina da vida (risos), pois, tem vez que é só relaxar, mergulhar em água fria, sentir a pele levantar-se (arrepiar-se), e ela dizer-lhe; "Cara! Arrepia-se com a pessoa no e do seu campo, aquela que generosamente colabora com você, ó seu ingrato!" (risos) E, se não conseguir, bem, se ainda persistir esse quadro clínico, eu converso com o estudante de ciência, que almeja ser cientista, e lhe digo: quem sabe outro método de pesquisa pode dar conta de ti? E antes que ele fique entusiasmado, eu lhe antecipo: "mas antes é preciso perguntar se alguém te quer, se algum orientador o deseja, pois, se nem a pessoa que colabora com você (no campo) tu não consegue, bicho!" (risos) Quem te quererá sou eu, pra ver se dou conta e na minha prepotência de curador, quem sabe eu curo a minha própria dor, o ferido que feriu a si mesmo, ao te escolher, escolhendo-me. hpinel. 06 abril 2024; as 17h29min.