sábado, 27 de fevereiro de 2016

PROFESSOR & EDUCADOR SOCIAL: PERDÃO E PALAVRAS NO FILME "O FILHO" DOS DARDENNE.
O perdão pode servir para autorizar ao outro a recriar-se, inventar-se novo, diferenciar-se do que foi. O perdão aqui, não implica em "perdoar romanticamente" o crime, mas a pessoa frente a esse mundo, impregnado e prenhe do outro (de si) - essa experiência pode indicar que a pessoa pode mudar, pode ter esse desejo. Vamos falar do valor e subjetividade perdão presente em um filme francês e belga.

No filme "O Filho" (França/ Bélgica, Le Fils, 2002, Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne), há uma belíssima narrativa: Um pai está sendo professor de carpintaria de um jovem, que no passado, assassinou seu filho (daquele pai) - um pai/professor viúvo, vamos dizer, desamparado, revoltado. O ato de perdoar traz consequências para si-mesmo-pai, inclusive o surgimento do auto perdão, e o outro que se perdoa, e se permite se alguém melhor. Há aí algo de provoca(dor): O jovem assassino, enquanto aprende ser carpinteiro, não sabe disso, disso "do pai saber de tudo que ele fez no seu passado de crime" - isso o adolescente (des)conhece. Bem, é aí que está a densidade, tensidade e intensidade do lindo filme: O pai, então propõe esclarecer, dizer a palavra, ampliando sua função de professor (de carpintaria) e de educador social (toca na ferida), possibilitando o alívio de ambos, e as transform(ações). Trata-se de um educador ferido que fala dessa sangria, que ensina acerca da dor, e que naquele setting psicopedagógico, carece também de ser outras possibilidades. 

Finalmente eu me interrogo: Há uma palavra que ao ser dita mude algo, alguém, o outro, o mundo? Essa pode ser uma questão perturba(dor)a aos professores e às professoras, educadores sociais (e em geral), psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, pedagogos etc.

NOTAS:
* Hiran Pinel, autor; do porjeto: "cinema, fenomenologia & educação inclusiva".
** Texto que dedico ao professor doutor José Sérgio Fonseca Carvalho, que hoje, 25/02/2016, recordou-me do filme, em uma avaliação de doutorado do qual éramos banca.