quarta-feira, 18 de julho de 2018

EU, TU E ELE: NÓS ABANDONADOS...
 
Ele está no parapeito da varanda de um prédio, e ao fundo aparece Bangkok iluminada pelas luzes artificiais e a lua amiudada, mas potente. Singto está sorrindo, com um par de óculos escuros. Fiquei seduzido pela imagem, e não sabia o motivo para isso... Eu a copiei e a joguei no word, e eu fui ampliando gradativamente aquela fotografia até à sua saturação, como o inverso do filme "Blow Up, Depois Daquele Beijo", pois gradualmente pouco enxergava. Fui ficando atento aos sinais clínicos do existir ser no mundo no rosto do ator Singto. O meu sorriso foi ficando amarelo, e pude notar debaixo das minhas lentes um pouco de água do suor, mas que eu traduzi como lágrimas. Olhando com maior atenção fenomenológica para a imagem, percebo na lente a presença do seu colega o ator Krist, com olhos abertos, com cara de choro, prestes a empurrar o colega e amigo. Angustiado, fui ampliando a imagem, ampliando, ampliando - até que tudo se tornasse pontos esmaecidos, vazios. Pontos humanos, dispersos. Pontos agora parecendo coisas e objetos de tão desfocados que ficaram - e eu fui autor disso. Pareceu-me que tudo está perdido naquele espaço e nesse meu tempo, e alguém está à cata de algum lenço para enxugar o drama. O abandono está até para os deuses como Singto e Krist, imagine pra mim? (kkk)... 

[Hiran Pinel, ficção].