segunda-feira, 9 de julho de 2018

POSSÍVEIS MOTIVAÇÕES PARA AS MENINAS "SHIPAREM" CASAL DE GAROTOS/ RAPAZES NA ESCOLA, NA TAILÂNDIA E ADJACÊNCIAS?

Hiran Pinel, autor.

Falarei agora da série thai "Bang Rak Soi 9/1", do Episódio 12; logo no começo do episódio, aos 5 minutos mais ou menos.

A personagem (uma menina dos seus 12 anos de idade) diz que "shipa" (seca, fica fascinada) dois garotos, e que eles, na escola, são o "casal imaginário" dela e de suas amigas. Pode ser um casal hétero, mas no caso, trata-se de um casal de dois homens, que são héteros e que são "imaginados" (por elas) como gays.

Ela explica que quando há garotos lindos na escola, e se eles não podem "ser delas" (posse), elas decidem que os dois não podem ser de ninguém. Então o casal é estimulado a passar a representar que têm um caso, um envolvimento amoroso, geralmente romântico, no sentido de não ter sexo envolvido. Elas convencem os rapazes a fazer essa representação, eles tiram retratos juntinhos, dando selinhos, de mãos dadas - isso porque ao mesmo tempo que se dizem gays, sabem que de fato estão representando, que estão, de certo modo, apoiando às causas LGBT's, e ao mesmo tempo são "secados" (de estranho modo) pelas meninas, além de ganharem presentes, ficarem populares etc.

As fãs, vamos dizer assim, fantasiam que o "casal" é namorado um do outro, que são noivos (elas podem comprar aliança pra eles usarem - e a usam) e até casados. Mas sempre o casal reproduz, via interpretação (mentirinha) o casal hétero - um é marido, outra esposa, e representam comportamentos culturalmente definidos para ambos os personagens. E mais, as meninas (agora fãs desse casal) decidem quem é o marido e quem é a esposa/ mulher... Mais ainda: as meninas se sentem também provocadas, e elas começam a escrever o que se denomina de "novel" (pequenas narrativas, roteiros) ou mangá (no caso: mangá yaoí) sempre fundamentadas (inspiradas) naquele "casal imaginário", e acabam publicando no Facebook ou blog, por exemplo. Há casos inclusive que tal "novel" chega a fazer sucesso e até comprada pela TV...

Por um modo complexo, esse "casalzinho de mentira" passa ser objeto de desejo dessas meninas. O gostar delas é provocador aos dois rapazes (casal) e eles podem adorar essa situação - não são gays de fato, tem um amigo mais chegado, têm prestígio com as garotas, ficam populares, os outros garotos acham isso divertido e passam a estimar o "casal". Outro aspecto: quando mais eles "não podem se envolver com as meninas" (afinal são representados como gays), mais eles estudam, focam na escola, esportes etc - e deixam o amor para depois (kkk). As mães pensam nisso como algo lúdico, como acontece na cena desse episódio - a mãe acha natural, mesmo reconhecendo que os gays verdadeiros são humilhados... Por outra via, o casal pode com isso conquistar as meninas do seu desejo - é um modo eles irem se posicionando, conquistando, seduzindo essa ou aquela - eles dialogam, confirmam, desmentem, fantasiam a cabeça dela, e a própria cabela se hibridiza... É algo complexo mesmo. É assim, isso de "casal imaginário" um fenômeno cultural, daquela área da Ásia...

Antes disso, antes desse evento, talvez o surgimento dos "mangás yaoí" (Japão), acho que na década de 80 (talvez), esses tipos de revistas de histórias em quadrinhos (HQ), vieram facilitar a construção desse "imaginário social" acerca das possibilidades de um casal de dois rapazes ou como dizemos no Brasil, "casal gay", mas com rapazes que podem ou não ser homossexuais. Mas vamos recordar que esse "casal" é um teatro, uma representação, um "casal falso/ não real ou de uma outra dimensão de real"...

Eu estou vivendo e aprendendo: pensei em várias coisas acerca desse gostar das meninas pelo "casal" de séries yaoí, e até escrevi um "ensaio científico" sobre esse tema, publicado aqui no meu blogspot. Mesmo tendo essa resposta, eu continuo a pensar que tem mais motivos, desejos por detrás disso tudo...

NOTA: Shipar = pode significar algo como torcer para que sua fantasia se concretize - vc torce, fala nisso, socializa etc. A menina (no caso deste post) torce pra que os dois garotos fiquem juntos, que se namorem - se decepcionam com a separação (se houver). Há "shipar" personagens de TV, de cinema, duplas de cantores etc - por ex. Entretanto, podemos falar em "shipar" um "casal na realidade vivida" ("casal real/ verdadeiro") - torcer para que esse casal, amigo nosso, fique junto, e a menina passa a torcer por ele ("casal real), passa a fazer algo para que esse imaginário ocorra, ou que os dois fiquem em harmonia. Há no Brasil grupos de meninas que participam desse ritual ou movimento, e elas descritas comumente como alegres, inteligentes e muito saudáveis, gosto muito de conversar com elas no Facebook, opondo a outras pessoas que gostam de psicopatologizar o vivido do outro, humilhar e rejeitar