sábado, 16 de abril de 2016

TIPOS DE POLÍTICAS DE ESTADO E PROCESSO DE SUBJETIVIDADE...
Uma mãe não tem condições de cuidar do seu filho e o entrega a uma escola internato que treina meninos abandonados e rejeitados a serem artistas populares na China. O menino Douzi tem um dedo a mais na mão e não é aceito pelo instrutor da escola, a mãe corta com facão o referido dedo, e joga o garoto na porta da escola, lá ele conhece Shitou.
O filme narra a vida desses de dois meninos que chegam a ser maiores estrelas do país, começando em 1924, passando pela participação de China entre os Senhores da Guerra, ocupação japonesa, vitória comunista, revolução cultural em 1975, seu fim em 1977 e o impacto desses momento históricos na produção da subjetividade.
La dentro, junto com Shitou, ele é treinado a ser ator e cantor com finalidade de um dia ser estrela da Ópera de Pequim, isso em um único papel, o feminino, de concubina, por sua aparência física de mulher. Recordando: mulheres não participavam da Ópera. Na ópera, seu papel de amante exige um rei, e esse será seu parceiro o menino rústico Shitou, machão, rústico. A peça na época já era um clássicos das óperas, e há muito não é representada de modo adequado, pois faltavam artistas de gabarito. A peça se chama "Adeus Minha Concubina", que tem o mesmo título do filme de 1993, direção de Chen Kaige, produção chinesa.
Eles ficam famosos na China com essa única ópera, riquíssimos e populares, mais do que os políticos, e isso incomodava. Eles desvelam aos espectadores o modo como os diversos tipos políticos de Estados interferem e intervêm na produção da subjetividade - na vida privada, no cotidiano, ser forte, ser frágil, ser homem, ser mulher etc. Isso traz consequências, por isso tem ainda o vício, quase nacional, de ópio, bem como a dureza da desintoxicação - é um inferno. Tem mais: aos modos de ser alcaguete e "dedo-duro", delações, era época disso. Delatar era a regra imposta pelo Estado - todos delatavam todos e todas, ricos e pobres - criava-se um clima paranoico. Tratava-se de um clima subjetivo (e objetivo) de delação intensa no governo de Mao Tsé Tung. Os dois atores, de fatos, eram burgueses, alienados, por isso delatar era obrigação (estamos no comunismo, recordam?), o filho deles os delata, pois a estética artística dos pais adotivos (atores) era burguesa. Shitou delata a prostituta Juxian, já que prostituir é coisa da burguesia. Todos são expostos publicamente em praça, como num jogo de interesses do Estado mandar recado ao povo: "se famosos são delatados, quem são vocês para não o serem?" kkk
Ao final, misturado no personagem, Douzi se apaixona pelo rei, e tudo isso lhe pira o cabeçote kkk. Naquele novo painel político da "Camarilha dos Quatro" e em um novo governo que se instaurava, a concubina (Douzi), no seu papel de passiva, com seu drama de existir rejeitada e trocada por uma "simples" prostituta, não aguenta mais, e faz o que na ópera lhe indicou sempre.
O rei (Shitou) a tudo assiste passivo, em desespero e angústia. Mas viver como sabemos, não é lá essas coisas e ao final, ele pode ter aprendido isso.

o treino de ser mulher, ser ator/ atriz de uma única ópera na Ópera de Pequim... 

um homem rústico, futuro rei na ópera

no auge, na glória dos dois. O estrelato.

a prostituta interpõe entre os dois com uma ética estética inigualáveis...