domingo, 5 de julho de 2015

"Enfermidade Tropical", filme tailandês, de Joe.
Pequena apreciação.

Filme:
"Tropical Malady" (TAILÂNDIA; 2004; direção de Apichatpong Weerasethakul ou Joe; título original: สัตว์ประหลาด).

Resumo objetivo:
A vida é feliz e o amor é simples para os jovens Keng (Banlop Lomnoi) e Tong (Sakda Kaewbuadee). Keng é um soldado e Tong trabalha no campo. O tempo passa, ritmado pelas noites na cidade, pelos jogos de futebol e pelas agradáveis reuniões na casa da família de Tong. Um dia, quando as vacas da região começam a ser decapitadas por um animal selvagem, Tong desaparece. A lenda diz que um homem pode se transformar em animal selvagem. Keng parte então sozinho para o coração da floresta tropical, onde o mito muitas vezes se torna realidade.

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Apreciação:
O AMOR FEBRIL COMO UM MAL DOS TRÓPICOS...
Sensações instintivas de amizade retroiluminadas pela floresta - a luz que dela se reinventa, "uma luz estranha". O amor como uma enfermidade dos trópicos, quando do abandono e rejeição afetivos. 


O filme geralmente é reconhecido como tendo duas partes. Eu pessoalmente o vejo uma única unidade - apesar de considerá-la complexa. Entretanto, sem dúvida, a primeira parte mostra os dois protagonistas - Keng e Tong - estando juntos, muita amizade, e um forte desejo sexual entre eles. Keng não se controla diante de Tong, e isso dá um tom bem sensual ao filme. Nesses momentos é que vemos Tong tendo dificuldades de saber (não sabe ler e nem escrever, por exemplo), por isso ele ignora. Depois entra na parte (de um corpo único) donde vemos Tong sabendo tomar decisões, ou seja, nunca somos totalmente ignorantes. Ele parte para uma decisão de dor no desenvolvimento (e aprendizagem) amoroso - irá abandonar, ameaçar, provocar ferozmente Keng.

Antes da tomada de decisão, há uma cultuada cena que os fãs brasileiros chamam de cena do "cheira-lambe-mãos-e-dedos" e então o personagem Tong abandona o amigo Keng. Sorrindo, Keng ele vai floresta adentro, donde se desvelará primitivo, faísca, foragido - suor das febres, uma febre antes não saciada de ambas as partes. Um animal ferido e que fere.

Será nesse primitivismo, que Tong se fará o espelho a Keng - seu guia - pois vai atrás de Keng. Nesse dispositivo é que Tong lhe dirá: "ainda te amo", mas é preciso partir pra outra, sob a forma de animal - outra enfermidade chamada amor nos trópicos, uma febre incessante, suores noturnos. O filme pode tocar os brasileiros por esse sentido de que o amor febril (paixão), ele é algo dos trópicos, no sentido das terras calorentas.

Tong não deseja sair quando o amor acabar, mas abandoná-lo quando ele ainda existe - e tem a febre do"cheira-lambe-mãos-e-dedos". Ele quer dizer que o melhor do amor é a memória - é nela que guardamos sua tensão, sua densidade e sua intensidade. No mais, ele irá declarar os percalços que criará no abandono - ele mesmo sofrerá também, mas em um outro tipo, estranho tipo, pelo menos pra nós - a febre que o amor deixará para sempre no corpo, na alma, na mente. Trata-se do primitivismo como modo de se transformar, e fazer a travessia pra novos amores - sem esquecer os outros, novas clínicas entre rejeições e abandonos. Tong primitivo observa a tudo Keng, que procura cuidadosamente uma reaproximação.

Acostumamos com o mesmo amor, o repetido, o de todo dia, o cotidiano - por isso não suportamos esse filme, nos sentidos constrangidos, desesperados - nós mesmos os abandonados - negando a enfermidade do amor. Em Cannes ele foi vaiado com força e muitos espectadores abandonaram durante a projeção, mas ganhou o prestigiado prêmio do juri, que o tornou famoso e Cult em todo mundo. O filme, por motivos antagônicos, nos ensina que o amor cotidiano tem um clima de tranquilidade, de paz, e parece que desejamos o inferno, o ódio, o clamor aos céus... kkk Preferimos a paixão do que o amor, mas é o amor que irá nos fazer dormir sem pesadelos.


Uma oração:
Ó Tong! Ó Keng! Não nos faça isso! Eu vos peço, não nos rejeite! Queremos a paz - o amor -, mas também a guerra - a paixão. Somos civilizados, mas desejamos a violência. Chupe nossos dedos, nossos corpos, mas não nos abandone! Sugue-nos! Ó santificado Tong, ó Keng! Precisamos da saúde, e não da febre da loucura. Ó deus das florestas, não deixe nosso amor adentrar na seara árida do deserto em fogo, mas se o fizermos, que o mate - o outro abandonador -, e que esse outro, do outro na seja - que seja apenas de nós! Ó santo egoísmo! Então, que o ciúme se fará febre - enfermidade tropical -, e será ela que irá nos reanimar, nos tornar moços! Mas sempre sonharemos com uma inventada homeostase, para que morramos em paz, e crentes que o amor é melhor do que a paixão. Amém!

na (pró)cura de sinais, rastros.

cena do cinema

no cinema: sensualidade

no cinema

cena cultuada 

inesquecível cena da cantora que homenageia Keng, e Tong vai receber o prêmio e homenageia o amigo.

procurando amor

Cena cultuada

poster

no cinema



Filme premiado em Cannes, ganhando o importante e respeitado "Prêmio do Júri" - um juri, por sinal, liderado pelo renomado cineasta Quentin Tarantino.