terça-feira, 21 de março de 2017


João me levou (2012) a Alto Jequitibá (MG) onde fiquei internado (1963/4) para fazer o antigo curso de admissão ao ginásio - na época uma escola cara. Fiquei meio temeroso ao chegar na cidade - vamos dizer, era um presente dele pra mim, na época meu doutorando. Sempre fiz amizades com meus orientandos - seja para o bem, seja para o mau kkk Era o Colégio Evangélico, era presbiteriano e recebia pessoas de todas a religiões - eu era católico. Cheguei e fui entrando ao internato, agora extinto. Era o mesmo prédio, nada tinha mudado - achei incrível isso. Como não mudar? Era a mesma fria, autoritária, árdua e sutil arquitetura, cheia de puxadinhos que marcou minha subjetividade, na objetividade do mundo. Era um mapa intransitável, tal qual eu era. Eu detectei até o lugar onde dormia - era um dormitório longo, agora me pareceu curto, grosso. Cada parede, a pintura, o local donde se tocava um som pra chamar os alunos, dependendo do evento - batia-se numa barra de ferro. As escadas eram as mesmas. Enquanto eu andava pelo prédio eu escuta antigos sons dos meus colegas: orgasmos, estudos, gritos, papos etc. Vi o imenso campo, e então escutei seus jogos de futebol onde eu era sempre o goleiro, e eles me odiavam, jogando bola pesada pra mim, e que as vezes me machucava. Escutava arrogâncias e poucas simplicidades de alguns professores que iam lá dentro - a escola era fora do prédio, muita onipotência. Pra mim não havia saída - era ficar ou ficar... (kkk) Mas logo no começo eu conquistei a admiração (ad+mirar) de um colega meu chamado Eduardo M., de Manhumirim, MG - uma mata (kkk), e como se dizia, "graças a Deus". Eu ia sempre nos finais de semana com ele, de ônibus, para aquela cidade, perto desta. Ele tinha muitos conflitos com o pai, e uma vez... Não vou contar... Bem, retornando ao prédio, eu senti cada memória vinda como um nascimento forçado de alguém que sempre se sentiu sem um lar - eu e ele éramos sem lar, mas não sabíamos. Paredes, espaços vazios, o refeitório, o salão onde algumas vezes eu toquei piano convidado pra algum evento. Pedi pra entrar num banheiro, o mesmo que um dia eu entrei com o Edu - ele era meu cuida(dor). Conversávamos muito, e éramos colegas de cama - uma cama depois da outra (kkk). Éramos adolescentes. Mas cada parede, cada ambiente levou-me a ele, a amizade, aos cuidados dele comigo - a minha patológica carecia afetiva. Uma amizade burilada pela hombridade e respeito. Eu era muito respeitado e sempre fiz por onde. Um dia soube que Edu se suicidou, e não expressei sentimentos explícitos, apenas fiquei calado. Mas nesse dia de visita, na cena do banheiro, demorei um pouco e me autorizei a sofrer e a chorar um tantinho assim. Ao sair, o João reclamou da demora (kkk)... Bem, no futuro, se ainda estiver vivo, e lá eu for de novo, recordarei do Eduardo e... do João e de todos incrustados na minha pele, alma, mente... A vida é amizade, e será ela que nos moverá sempre para alguém, algo - mundo...

[Hp; autoficção - kkk]