quarta-feira, 15 de março de 2017


Os 30 melhores filme do "mundo" segundo minha percepção... Comentando os 10 primeiros lugares. Eis o 3o lugar:

3- "Um doce olhar/ Mel/ Bal/ Honey" (Turquia; direção de Semih Kaplanoglu). 



O pequeno Yusuf vive com os pais numa região remota da Turquia. Quando o pai, que é apicultor, sai em viagem preocupado que está com o sumiço das abelhas (do doce), e ele não volta mais, o menino começa a descobrir o quão é duro viver, uma arte do sutil e algo árduo. O pai morreu colhendo mel, doce, o melhor da vida se perdeu - seu doce. Uma das cenas mais pungentes é quando o menino, que não consegue aprender a ler, decora o texto escutando o coleguinha ler em voz alta. Ele decora, e está ansioso para ler o mesmo texto na sala de aula, atendendo ao pedido do professor e com isso ganhar elogios e até recompensas (tipo um prêmio, uma estrelinha - pelo que me recordo). Mas o professor motivado, pede que ele lê outro texto. Yusuf gagueja, se fragiliza e nos vemos nele, nos tempos em que estudávamos e desejávamos aprender, mas não conseguíamos. Era uma sensação de humilhação, pois a maioria aprendia. Uma arte assim, cheia de significados. O pai pra Yusuf era uma figura vital, que lhe dava alimento, e se trata a narrativa sobre a presença do pai, e o quanto ela nos faz falta. Viúva, colhedora de chá, a mãe do garoto tenta cuidar dele. O fracasso na escola é evidenciado mais e mais depois da perda paterna - o pedagogo (ou será psicólogo?) fala em dislexia. Sentindo-se inferior e desamparado, o menino é sensível e ativo fora da escola... Um dia o professor lhe dá o prêmio que todos os coleguinhas dele ganharam, mesmo ele não merecendo. Com a pulga atrás da orelha, o mestre pode ter se interrogado: O que e como é Yusuf? O professor, de surpresa, vai visitar a mãe. Ele chega como que pisando em ovos, delicado e silenciosamente. A medida que se aproxima ao real, naquela casa empobrecida, mas digna, ele escuta o menino lendo o Corão, em voz alta e interpretando o que lê. Acho que o professor deve ter mudado a questão: O que e como é ser professor de Yusuf? Fim. Adoro finais assim: no intimismo, Yusuf se desvela aprendente através do seu doce olhar, agora com um doce próprio, mas cujo começo foi através do doce de mel que o pai lhe doou. Uau... O filme me parece configurar uma estética islâmica, bem religiosa, assim como é "Marcelino, Pão e Vinho" (1955, de Ladislao Vajda) de uma outra estética, a cristã - ambas obras primas, de real valor cinematográfico.