sexta-feira, 8 de agosto de 2025

 

ESBOÇOS DE UMA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO EXISTENCIAL, TRex.

Hiran Pinel, autor.

NOTA: vou corrigindo, ampliando e modificando o texto

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RESUMO: apresento um esboço ("paper" científico) de uma teorização que estou criando desde 1998, que contemporaneamente denomino de Teorização da Representação Existencial - TRex. É um dos modos de analisar fenomenológico-existencial, dados científicos, preferencialmente presentes em pesquisas fenomenolóficas, desvelados em descrições do vivida, narrativas de experiências de vida, auto-biografias etc. 

Também são dados de pesquisa para a T-Rex., quando procuramos em instrumentos como obras de arte, literaturas e poesias etc., visando além do real de uma arte - produção de apreciações, e a correlação que há entre arte e vida real, assim como o real traz em seu interior as artes, poíeticas, poiésis, roteiros e romances, danças, fotos etc.

INTRODUÇÃO

O objetivo aqui-agora é o que descrever o que é e como é uma teorização que estou criando desde 1998, que contemporaneamente denomino de Teorização da Representação Existencial - TRex.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 1998, fazendo doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, estimulado por um professor em particular, mas que nunca fiz disciplina com ele, a pensar em algo inédito, e ele dizia que é assim que se faz um cientista das Ciências Humanas e Sociais. Estava impactado com Moscovici e sua teoria das representações sociais. 

Como eu "me achava" (risos...) o "fenomenologista existencial", ou seja, lá o que isso significava (textos da professora Yolanda Contrão Forghieiri era a "obra-mor" na minha cabeceira no Hotel onde ficava e no apto do meu colega Carlos Eduardo Ferraço), comecei a pensar-sentir-e-agir uma teorização de uma representação que denominei de TRex: Representação Existencial contra o macro de Moscovici, focando no meu interesse, o ser em si, ainda que indispensável colocá-lo no mundo, ser-no-mundo. Daí eu comecei a idealizar e a criar o que eu denomino de REPRESENTAÇÃO EXISTENCIAL-TRex.

Esse termo tem sido modificado por mim à medida que eu trabalho com o tema como uma das metas das minhas investigações cientificas "fenomenológico-existenciais".

A primeira questão era o termo representação, algo TAMBÉM ligado ao teatro ou aos artifícios, fazer de conta que é ainda que não seja. Queria manter esse termo. 

Paralelamente comecei a fazer um curso livre (dentro da USP) chamado O Ator oferecido por uns alunos da Escola de Comunicação. Não era um curso que objetivava formar atores, mas interrogar: O “que é” e “como é” ator? Pelo menos esse era meu foco intencional. Meu interesse, então - sempre o cientista tem focos (des)velados por novas interrogações, era (e é) o “ator social”, mas de um tipo de ator que o profissional porta em si. Li algo, que não sei se é verdade, mas se não o for, não deixa de sê-lo pelas possibilidades. Eis o causo: o ator tailandês ficou famoso mundialmente como personagem BL (leia-se: Boys Love ou gays). Ele forma um casal (“couple” – os fãs amam falar termos em inglês, mesmo tendo palavras na nossa língua que pode dar conta, mas sem o chame – risos) com o ator Pond.

Então, confiando de que Phuwin “não” está representando fora das telas [*], ele teria descrito que a namorada [**] o abandonou devido traição dela. Ele teria chorado as minguas do abandono e da rejeição com Pond, e em determinado momento o abraçou, chorando. Repetindo: estou descrevendo verdade que parece mentira, e mentira - que parece verdade. Prossegue discurso do blog de uma fã, onde Phuwin fala para as câmeras [***]: - Chorando nos braços do meu amigo Pond, e logo vejo encharcada a caminha branca que ele usava. Isso me trouxe mais à minha consciência, e interroguei-me: Porque estou chorando, se estou aqui-agora nos braços do meu namorado e amante? Nunca escondi isso dela, e nem no mundo. Levantei-me do colo de Pond, exuguei as lágrimas com minha camiseta branca. Ele olhando pra mim, dei um beijinho na bochecha dele (e ele ficou vermelho) e lhe disse, “obrigado”. Queria dizer-se: obrigado, meu namorado, mas não queria lhe dar esse prazer (risos).

Pois, então, repetindo, verdade ou mentira, e na T-Rex isso importa, mas é muito pouco, precisamos ir além para chegar à carne humana. Phuwin tem a Rex de que realmente tem um outro amor, sem tonalidades sexuais (isso que ele quereria descrever-se) – e há esse outro, e essa outridade ganha mais sangue do encarnado quando é dito em público – numa simbólica praça pública. A namorada deve ter escutado (se for verdade – risos... a T-Rex lida com o efêmero, sutil, encarnado) o recado, ele me traiu antes, e com foi com Pond, e eu pensaria: melhor assim, não foi como uma mulher.

A T-Rex descreve o encarnado, mas do ser-no-mundo. Phuwin, como ator é uma pequena peça de uma outra peça, como diz Chico Buarque; “uma outra peça chamada doces ardis”.   Phuwin, para nós os fãs, é um gerente de si, ele gesta a si mesmo – e deve ser isso numa dimensão profissional, mas na poderosa indústria do entretenimento tailandês (parte da indústria do turismo) ele é um pequeno parafuso que sustenta essa joça toda. Mas, conhecemos ídolos que hoje nem sabemos dele, e que parecia ser dono de tudo – e nunca foi. Nunca fomos. O ator (ele é artista completo: canta, compõe, é instrumentista, dança - não tanto quanto seu colega Pond que parece iludir-se mais... risos – isso é tema pra outro artigo) ...

A T-Rex vai à cata da carne no cotidiano da pedagogia hospitalar, por exemplo, com o finco, dentre outros, de ampliar a compreensão do outro, atendendo suas necessidades existenciais de “ser mais” na “amorosidade” (Paulo Freire) como alguém no mundo, frente a explicita finitude da vida (quando há o câncer gravíssimo, por exemplo). Phuwin fala de si, desfala, mente e prega a verdade – Phuwin, no colo do amigo (e colega), descobre-se em uma outra dimensão de ser amado, uma perspectiva freiriana de “esperançar”. Phuwin faz escolhas na vida encarnada, e o faz de um leque de opções, e não obstante terá que se responsabilizar-se por isso, e não responsabilizar-se, uma boa subversão, ainda assim é ser responsável por si, pela namorada, pelo namorado Pond (amigo amante), pelas fãs (ele se expõe em praça pública), pelos outros, pelas famílias (famílias das suas fãs e de seus fãs), e tem responsabilidade de não decepcionar um fã dele, um velho fã, no sentido de ter mais de 73 anos de idade, e brasileiro – eu. A T-Rex descreve essa sintonia entre eu e o mundo, um “entre” que amplia do sentido da carne da relação, entre Phuwin e Pond é que a carne é trêmula, parafraseando título de filme de Pedro Almodóvar, entre Phuwin e Pond temos eu, as fãs, a namorada que o abandonou, os dois, e o mundo. E mais, a indústria tailandesa do entretenimento fica atenta se essa ação será benéfica pra ela, senão, Phuwin e cortado – e tudo começa com outros e outros – o ator é descartado nesse neoliberalinso consumista e altamente competitivo. Para produzir uma análise “fenomenológico-existencial” de Phuwin é preciso considerá-lo ser-no-mundo considerando a concretude a sociedade, da cultura e da história, seus simbolismos no ser, que é ser nele e dele e indissociado a ele (mundo). Isso amplia a compreensão da nossa própria humanidade, nos mantém civilizados e nos humaniza pela fragilidade... No caso Phuwin, a T-Rex pode ajudar na formação do ator [****]

Retomemos...

Eu estudava, no momento, o ator social que era o rapaz que se prostituía em um tempo muito marcado pela pandemia do HIV-Aids. Tinha constatado na carne (na pesquisa de rua) de que o prostituto era um outro para o cliente, um ator. Ele "escutava" (observava) atentamente o cliente consumidor de seus encantos, e percebia o desejo dele, logo ele passava atuar para garantir e responder às vontades desse outro, e receber a recompensa: o outro, o orgasmo; o prostituto, a grana (e quem sabe o orgasmo também). Haviam garotos de programa que diante de um cliente chega a inventar uma narrativa a começar mudando o nome.. E tem mais "coisas" nessa esfera, como o garoto preferir ficar debaixo de marquises nas sombras noturnas que molda-lhe outro ser, do agrado de si, mas acima de tudo, do outro.

Bem, estou explicando algo, que na TRex é oposto a essa representação teatral. 

Retomando fazia esse curso de 3 dias O Ator, e tomei contato com "o método", e gostei de Lee Strasberg. Isso levou-me ao termo representação como algo encarnado, mas muito além de Strasberg, mas o humano, como algo dele, ser carne. A representação passa a ser algo da experiência vivida, por isso existencial.

A TRex se interessa em estudar a representação encarnada no existir de uma pessoa que experiencia algo de sentido, seja pela presença ou ausência. Meu foco era a Classe Hospitalar para alunos-pacientes internados em hospitais. Qual a Rex de médicos, por exemplo? Um médico que conversei, usando o termo Rex (a pessoa que colabora com minha pesquisa escuta os termos que uso e posso dialogar sobre eles, não temo isso, ao contrário) não sabia da existência de Classe Hospitalar no seu hospital, e quando eu lhe disse, aquela informação foi transformada em aprendizagem significativa, um termo que o levou a uma experiência vivida, pois começou a confabular possibilidades, descobrir seu desinteresse além de sua área de especialização (oncologia infantil e juvenil), Fomos visitar o espaço físico específico da Classe Hospitalar, e ele recordou que tinha passado por perto etc. Logo após ele já refletiu que há pacientes dele, que ao visitá-lo no leito, havia uma "mulher" ensinando conteúdos escolares, e que ali, naquela cama, transformava-se em uma parte da escola.

Bem, essa é a minha primeira tentativa em dizer como surgiu minha ideia de uma teorização de "representação existencial", ou TRex.

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Escrevi na época:

A teoria da Representação Existencial TRex., não elimina a representação legal ou política, ou a social, apenas traz a pessoa singular tendo sua REx., algo de grande significado sentido, que pode ajudá-lo no seu ato de pensar-agir-sentir no micro encarnado, tendo em si, o macro. Entretanto, esse plural está no singular, e o singular é o universal, afinal o ser-api é ser-no-mundo. O grande diferencial aqui-e-agora é o sentido de encarnado ou carne que não é explicitado na Representação Social de Moscovici. Nosso interesse é pela experiência vivida, a da carne, uma cognição (co)movida pela carne do afeto e do corpo. Na TRex o teatro não é artificial, mas algo encarnado 24 horas, mas sem sair de si, mas sendo si mesmo, sendo as possibilidades de “si-ser-no-mundo”, logo diferenciado do ator profissional de Lee Strasberg, que sai de si e é um outro e com o tempo retorna e toma o seu “ser-como-dele-próprio”, e assim na TRex não há esse desgaste, simplesmente somos encarnados e demandamos sentir a nós mesmos diante de certos temas, que podem ser experienciados como experiências vividas (Pinel, 1999; p. 3).

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A noção de "representação existencial" é um conceito rico e complexo, que se insere nas discussões filosóficas, pedagógicas e psicológicas sobre o sentido-sentido da experiência vivida, tão humana. Em um contexto fenomenológico, essa representação não se limita a uma mera cópia da realidade externa, mas sim a uma construção ativa e singular do sujeito como ser-no-mundo, construído em processo de sempre ‘tornar-se”, por suas vivências, valores, perspectivas, projetos de ser. Os temas potentes são: a subjetividade e a subjetivação – intersubjetividade, interexperiência, interhumano; intencionalidade; escolha e responsabilidade; corpo e mundo; tempo-espaço – tempo e história; sociedade e cultura; linguagem e símbolos etc. O singular tem em si o universal, e no universal há o singular. A sua representação é encarnada (Merleau-Ponty, 1999) por isso existencial, que está presentemente preocupado com o outro e consigo mesmo. Ao representar minha existência, eu o faço ao modo encarnado, um ator social que ao ser, é ele mesmo, ele é si e o outro (Pinel, 1998; p. 9).

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CONCLUSÃO

Esse texto é bem de um tipo de "paper" no seu sentido estrito: um textos rascunho escrito em uma folha velha que embrulha pão. Falta muito a dizer sobre esse termo, preciso de mais pesquisas. Já publiquei um artigo com dois orientandos meus de estágio em pesquisa (fenomenológico-existencial), dentre outros, mas ainda assim, a TRex está sempre se interrogando: O que é e como é TRex? Por aí vou configurando o termo.

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NOTAS

[*] Como provar isso, numa dimensão de uma T-Rex, de que o ator Phuwin é aquilo e ou aquilo’outro, já que (a T-Rex] descreve uma imposição, a de que o “corpo encarnado” é? Tudo é imbricado e híbrido, o sim e o não, a verdade e a mentira – ainda que seja urgente identificar o real, e o real pode ser a mentira, mas, sem dúvida, para nossa lucidez, tem a realidade, a boniteza e a feiúra, alto e baixo, Gordo e Magro, Batman e Robin, Ennis Del Mar e Jack Twist, Phuwin e Pon etc.

[**] No caso Phuwin é heterossexual, e não seus personagens... Será? Essa questão cabe na T-Rex. O fato (?) é que Phuwin é heterossexual, ele o disse, as fãs odeiam isso – elas desejam a ilusão dos dois juntos... Esse tema, é de ponta para um outro artigo: O que fazem as mulheres amarem uma série de TV (ou webserie) que conta histórias hiper idealizadas e romântica de dois caras se pegando e namorando? Vai muito além das mulheres apoiarem a causa gay, muito além? Já escrevi Papers (rascunhos mesmos) sobre o tema.

[***] No caso de Phuwin o “fenômeno” dele ser em ser-no-mundo se amplia em teatros e representações, onde suas carnes estão trêmulas com são as nossas. A fama dele é explícita, a nossa também, mas numa dimensão bem menor.

[****] O Psicodrama de Moreno, mais as teorias do ator, como as de Lee Strasberg na formação. o teatro do oprimido e de arena, etc. Já escrevi sobre a formação fenomenológico-existencial encarnada do ator e da atriz – ainda que haja mais vertentes nessa esfera. Na minha perspectiva o ator precisa perder-se entre o si mesmo e o personagem, e não só durante as filmagens, mas mesmo no seu recando do lar, afastado das fãs, por exemplo, com um senão, ele precisa dar intencionalidade ao distanciamento reflexivo, quando ele volta retorna ao que se denomina real, rompendo vínculos, para manter em algum ponto do real indispensável: se ele faz o papel de assassino, está (ou deveria estar) claro de que ele não pode assassinar concreta e ou simbolicamente ninguém, mas ao mesmo tempo mesclar, com o prazer (de ser no ofício ator) de que realmente é um assassino de uma outra cena, fora daquela dali – a assim chamada vida real.

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Hiran Pinel, professor titular

Universidade Federal do Espírito Santo, Ufes

Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE

26/12/2020, revisto e ampliado... 

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     OBSERVAÇÃO 1: ao citar esse "paper científico" fazer citação dando autoria, afinal, (risos) não dói a mão - e é ético científico.

    OBSERVAÇÃO 2: Tenho muitos textos de T-Rex, gradualmente irei publicando. Esse ideia começou em 1998 quando li Representação Social de Moscovici - desde lá tenho escrito papers (científicos), só que papers no sentido literal do termo: escrever em um papel velho que embrulhava pães, escritos livres, mas sempre pautado pela ciência fenomenológico-existencia em texto que escapolem ao modelo artigo científico - mas só isso, foge ao modelo, mas é ciência. Cheguei escrever comparando e diferenciando ambas teorizações. Há produções em modelos artigos científicos em revistas científicas.