ESBOÇOS DE UMA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO EXISTENCIAL,
TRex.
Hiran Pinel, autor.
NOTA: vou corrigindo, ampliando e modificando o texto
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RESUMO: apresento um esboço ("paper" científico) de uma teorização que estou criando desde 1998, que contemporaneamente denomino de Teorização da Representação Existencial - TRex. É um dos modos de analisar fenomenológico-existencial, dados científicos, preferencialmente presentes em pesquisas fenomenolóficas, desvelados em descrições do vivida, narrativas de experiências de vida, auto-biografias etc.
Também são dados de pesquisa para a T-Rex., quando procuramos em instrumentos como obras de arte, literaturas e poesias etc., visando além do real de uma arte - produção de apreciações, e a correlação que há entre arte e vida real, assim como o real traz em seu interior as artes, poíeticas, poiésis, roteiros e romances, danças, fotos etc.
INTRODUÇÃO
O objetivo aqui-agora é o que descrever o que é e como é uma teorização que estou criando desde 1998, que contemporaneamente denomino de Teorização da Representação Existencial - TRex.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em 1998, fazendo doutorado em Psicologia pelo
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, estimulado por um
professor em particular, mas que nunca fiz disciplina com ele, a pensar em algo
inédito, e ele dizia que é assim que se faz um cientista das Ciências Humanas e
Sociais. Estava impactado com Moscovici e sua teoria das representações
sociais.
Como eu "me achava" (risos...) o
"fenomenologista existencial", ou seja, lá o que isso significava
(textos da professora Yolanda Contrão Forghieiri era a "obra-mor" na
minha cabeceira no Hotel onde ficava e no apto do meu colega Carlos Eduardo
Ferraço), comecei a pensar-sentir-e-agir uma teorização de uma representação
que denominei de TRex: Representação Existencial contra o macro de Moscovici,
focando no meu interesse, o ser em si, ainda que indispensável colocá-lo no
mundo, ser-no-mundo. Daí eu comecei a idealizar e a criar o que eu denomino de
REPRESENTAÇÃO EXISTENCIAL-TRex.
Esse termo tem sido modificado por mim à medida que eu
trabalho com o tema como uma das metas das minhas investigações cientificas
"fenomenológico-existenciais".
A primeira questão era o termo representação, algo
TAMBÉM ligado ao teatro ou aos artifícios, fazer de conta que é ainda que não
seja. Queria manter esse termo.
Paralelamente comecei a fazer um curso livre (dentro
da USP) chamado O Ator oferecido por uns alunos da Escola de Comunicação. Não
era um curso que objetivava formar atores, mas interrogar: O “que é” e “como é”
ator? Pelo menos esse era meu foco intencional. Meu interesse, então - sempre o
cientista tem focos (des)velados por novas interrogações, era (e é) o “ator
social”, mas de um tipo de ator que o profissional porta em si. Li algo, que
não sei se é verdade, mas se não o for, não deixa de sê-lo pelas
possibilidades. Eis o causo: o ator tailandês ficou famoso mundialmente como
personagem BL (leia-se: Boys Love ou gays). Ele forma um casal (“couple” – os fãs
amam falar termos em inglês, mesmo tendo palavras na nossa língua que pode dar
conta, mas sem o chame – risos) com o ator Pond.
Então, confiando de que Phuwin “não” está representando
fora das telas [*], ele teria descrito que a namorada [**] o abandonou devido
traição dela. Ele teria chorado as minguas do abandono e da rejeição com Pond,
e em determinado momento o abraçou, chorando. Repetindo: estou descrevendo
verdade que parece mentira, e mentira - que parece verdade. Prossegue discurso
do blog de uma fã, onde Phuwin fala para as câmeras [***]: - Chorando nos
braços do meu amigo Pond, e logo vejo encharcada a caminha branca que ele usava.
Isso me trouxe mais à minha consciência, e interroguei-me: Porque estou
chorando, se estou aqui-agora nos braços do meu namorado e amante? Nunca
escondi isso dela, e nem no mundo. Levantei-me do colo de Pond, exuguei as lágrimas
com minha camiseta branca. Ele olhando pra mim, dei um beijinho na bochecha dele
(e ele ficou vermelho) e lhe disse, “obrigado”. Queria dizer-se: obrigado, meu
namorado, mas não queria lhe dar esse prazer (risos).
Pois, então, repetindo, verdade ou mentira, e na T-Rex
isso importa, mas é muito pouco, precisamos ir além para chegar à carne humana.
Phuwin tem a Rex de que realmente tem um outro amor, sem tonalidades sexuais
(isso que ele quereria descrever-se) – e há esse outro, e essa outridade ganha
mais sangue do encarnado quando é dito em público – numa simbólica praça pública.
A namorada deve ter escutado (se for verdade – risos... a T-Rex lida com o efêmero,
sutil, encarnado) o recado, ele me traiu antes, e com foi com Pond, e eu
pensaria: melhor assim, não foi como uma mulher.
A T-Rex descreve o encarnado, mas do ser-no-mundo.
Phuwin, como ator é uma pequena peça de uma outra peça, como diz Chico Buarque;
“uma outra peça chamada doces ardis”. Phuwin, para nós os fãs, é um gerente de si,
ele gesta a si mesmo – e deve ser isso numa dimensão profissional, mas na
poderosa indústria do entretenimento tailandês (parte da indústria do turismo) ele
é um pequeno parafuso que sustenta essa joça toda. Mas, conhecemos ídolos que
hoje nem sabemos dele, e que parecia ser dono de tudo – e nunca foi. Nunca
fomos. O ator (ele é artista completo: canta, compõe, é instrumentista, dança -
não tanto quanto seu colega Pond que parece iludir-se mais... risos – isso é
tema pra outro artigo) ...
A T-Rex vai à cata da carne no cotidiano da pedagogia
hospitalar, por exemplo, com o finco, dentre outros, de ampliar a compreensão
do outro, atendendo suas necessidades existenciais de “ser mais” na “amorosidade”
(Paulo Freire) como alguém no mundo, frente a explicita finitude da vida
(quando há o câncer gravíssimo, por exemplo). Phuwin fala de si, desfala, mente
e prega a verdade – Phuwin, no colo do amigo (e colega), descobre-se em uma
outra dimensão de ser amado, uma perspectiva freiriana de “esperançar”. Phuwin
faz escolhas na vida encarnada, e o faz de um leque de opções, e não obstante
terá que se responsabilizar-se por isso, e não responsabilizar-se, uma boa subversão,
ainda assim é ser responsável por si, pela namorada, pelo namorado Pond (amigo
amante), pelas fãs (ele se expõe em praça pública), pelos outros, pelas
famílias (famílias das suas fãs e de seus fãs), e tem responsabilidade de não
decepcionar um fã dele, um velho fã, no sentido de ter mais de 73 anos de
idade, e brasileiro – eu. A T-Rex descreve essa sintonia entre eu e o mundo, um
“entre” que amplia do sentido da carne da relação, entre Phuwin e Pond é que a
carne é trêmula, parafraseando título de filme de Pedro Almodóvar, entre Phuwin
e Pond temos eu, as fãs, a namorada que o abandonou, os dois, e o mundo. E
mais, a indústria tailandesa do entretenimento fica atenta se essa ação será
benéfica pra ela, senão, Phuwin e cortado – e tudo começa com outros e outros –
o ator é descartado nesse neoliberalinso consumista e altamente competitivo.
Para produzir uma análise “fenomenológico-existencial” de Phuwin é preciso considerá-lo
ser-no-mundo considerando a concretude a sociedade, da cultura e da história, seus
simbolismos no ser, que é ser nele e dele e indissociado a ele (mundo). Isso
amplia a compreensão da nossa própria humanidade, nos mantém civilizados e nos
humaniza pela fragilidade... No caso Phuwin, a T-Rex pode ajudar na formação do
ator [****]
Retomemos...
Eu estudava, no momento, o ator social que era o rapaz
que se prostituía em um tempo muito marcado pela pandemia do HIV-Aids. Tinha constatado
na carne (na pesquisa de rua) de que o prostituto era um outro para o cliente,
um ator. Ele "escutava" (observava) atentamente o cliente consumidor
de seus encantos, e percebia o desejo dele, logo ele passava atuar para
garantir e responder às vontades desse outro, e receber a recompensa: o outro,
o orgasmo; o prostituto, a grana (e quem sabe o orgasmo também). Haviam garotos
de programa que diante de um cliente chega a inventar uma narrativa a começar
mudando o nome.. E tem mais "coisas" nessa esfera, como o garoto
preferir ficar debaixo de marquises nas sombras noturnas que molda-lhe outro
ser, do agrado de si, mas acima de tudo, do outro.
Bem, estou explicando algo, que na TRex é oposto a
essa representação teatral.
Retomando fazia esse curso de 3 dias O Ator, e tomei
contato com "o método", e gostei de Lee Strasberg. Isso levou-me ao
termo representação como algo encarnado, mas muito além de Strasberg, mas o
humano, como algo dele, ser carne. A representação passa a ser algo da
experiência vivida, por isso existencial.
A TRex se interessa em estudar a representação
encarnada no existir de uma pessoa que experiencia algo de sentido, seja pela
presença ou ausência. Meu foco era a Classe Hospitalar para alunos-pacientes
internados em hospitais. Qual a Rex de médicos, por exemplo? Um médico que
conversei, usando o termo Rex (a pessoa que colabora com minha pesquisa escuta
os termos que uso e posso dialogar sobre eles, não temo isso, ao contrário) não
sabia da existência de Classe Hospitalar no seu hospital, e quando eu lhe disse,
aquela informação foi transformada em aprendizagem significativa, um termo que
o levou a uma experiência vivida, pois começou a confabular possibilidades,
descobrir seu desinteresse além de sua área de especialização (oncologia
infantil e juvenil), Fomos visitar o espaço físico específico da Classe
Hospitalar, e ele recordou que tinha passado por perto etc. Logo após ele já
refletiu que há pacientes dele, que ao visitá-lo no leito, havia uma
"mulher" ensinando conteúdos escolares, e que ali, naquela cama,
transformava-se em uma parte da escola.
Bem, essa é a minha primeira tentativa em dizer como
surgiu minha ideia de uma teorização de "representação existencial",
ou TRex.
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Escrevi na época:
A teoria da Representação Existencial TRex., não elimina a representação legal ou política, ou a social, apenas traz a pessoa singular tendo sua REx., algo de grande significado sentido, que pode ajudá-lo no seu ato de pensar-agir-sentir no micro encarnado, tendo em si, o macro. Entretanto, esse plural está no singular, e o singular é o universal, afinal o ser-api é ser-no-mundo. O grande diferencial aqui-e-agora é o sentido de encarnado ou carne que não é explicitado na Representação Social de Moscovici. Nosso interesse é pela experiência vivida, a da carne, uma cognição (co)movida pela carne do afeto e do corpo. Na TRex o teatro não é artificial, mas algo encarnado 24 horas, mas sem sair de si, mas sendo si mesmo, sendo as possibilidades de “si-ser-no-mundo”, logo diferenciado do ator profissional de Lee Strasberg, que sai de si e é um outro e com o tempo retorna e toma o seu “ser-como-dele-próprio”, e assim na TRex não há esse desgaste, simplesmente somos encarnados e demandamos sentir a nós mesmos diante de certos temas, que podem ser experienciados como experiências vividas (Pinel, 1999; p. 3).
***
A noção de "representação existencial" é um
conceito rico e complexo, que se insere nas discussões filosóficas, pedagógicas
e psicológicas sobre o sentido-sentido da experiência vivida, tão humana. Em um
contexto fenomenológico, essa representação não se limita a uma mera cópia da
realidade externa, mas sim a uma construção ativa e singular do sujeito como
ser-no-mundo, construído em processo de sempre ‘tornar-se”, por suas vivências,
valores, perspectivas, projetos de ser. Os temas potentes são: a subjetividade
e a subjetivação – intersubjetividade, interexperiência, interhumano;
intencionalidade; escolha e responsabilidade; corpo e mundo; tempo-espaço –
tempo e história; sociedade e cultura; linguagem e símbolos etc. O singular tem
em si o universal, e no universal há o singular. A sua representação é
encarnada (Merleau-Ponty, 1999) por isso existencial, que está presentemente
preocupado com o outro e consigo mesmo. Ao representar minha existência, eu o
faço ao modo encarnado, um ator social que ao ser, é ele mesmo, ele é si e o
outro (Pinel, 1998; p. 9).
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CONCLUSÃO
Esse texto é bem de um tipo de "paper" no
seu sentido estrito: um textos rascunho escrito em uma folha velha que embrulha
pão. Falta muito a dizer sobre esse termo, preciso de mais pesquisas. Já
publiquei um artigo com dois orientandos meus de estágio em pesquisa
(fenomenológico-existencial), dentre outros, mas ainda assim, a TRex está
sempre se interrogando: O que é e como é TRex? Por aí vou configurando o termo.
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NOTAS
[*] Como provar isso, numa dimensão de uma T-Rex, de
que o ator Phuwin é aquilo e ou aquilo’outro, já que (a T-Rex] descreve uma imposição,
a de que o “corpo encarnado” é? Tudo é imbricado e híbrido, o sim e o não, a
verdade e a mentira – ainda que seja urgente identificar o real, e o real pode
ser a mentira, mas, sem dúvida, para nossa lucidez, tem a realidade, a boniteza
e a feiúra, alto e baixo, Gordo e Magro, Batman e Robin, Ennis Del Mar e Jack
Twist, Phuwin e Pon etc.
[**] No caso Phuwin é heterossexual, e não seus
personagens... Será? Essa questão cabe na T-Rex. O fato (?) é que Phuwin é heterossexual,
ele o disse, as fãs odeiam isso – elas desejam a ilusão dos dois juntos... Esse
tema, é de ponta para um outro artigo: O que fazem as mulheres amarem uma série
de TV (ou webserie) que conta histórias hiper idealizadas e romântica de dois
caras se pegando e namorando? Vai muito além das mulheres apoiarem a causa gay,
muito além? Já escrevi Papers (rascunhos mesmos) sobre o tema.
[***] No caso de Phuwin o “fenômeno” dele ser em
ser-no-mundo se amplia em teatros e representações, onde suas carnes estão trêmulas
com são as nossas. A fama dele é explícita, a nossa também, mas numa dimensão bem
menor.
[****] O Psicodrama de Moreno, mais as teorias do ator,
como as de Lee Strasberg na formação. o teatro do oprimido e de arena, etc. Já
escrevi sobre a formação fenomenológico-existencial encarnada do ator e da
atriz – ainda que haja mais vertentes nessa esfera. Na minha perspectiva o ator
precisa perder-se entre o si mesmo e o personagem, e não só durante as filmagens,
mas mesmo no seu recando do lar, afastado das fãs, por exemplo, com um senão, ele
precisa dar intencionalidade ao distanciamento reflexivo, quando ele volta retorna
ao que se denomina real, rompendo vínculos, para manter em algum ponto do real
indispensável: se ele faz o papel de assassino, está (ou deveria estar) claro de
que ele não pode assassinar concreta e ou simbolicamente ninguém, mas ao mesmo
tempo mesclar, com o prazer (de ser no ofício ator) de que realmente é um
assassino de uma outra cena, fora daquela dali – a assim chamada vida real.
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Hiran Pinel, professor titular
Universidade Federal do Espírito Santo, Ufes
Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE
26/12/2020, revisto e ampliado...
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OBSERVAÇÃO 1: ao citar esse "paper científico" fazer citação dando autoria, afinal, (risos) não dói a mão - e é ético científico.
OBSERVAÇÃO 2: Tenho muitos textos de T-Rex, gradualmente irei publicando. Esse ideia começou em 1998 quando li Representação Social de Moscovici - desde lá tenho escrito papers (científicos), só que papers no sentido literal do termo: escrever em um papel velho que embrulhava pães, escritos livres, mas sempre pautado pela ciência fenomenológico-existencia em texto que escapolem ao modelo artigo científico - mas só isso, foge ao modelo, mas é ciência. Cheguei escrever comparando e diferenciando ambas teorizações. Há produções em modelos artigos científicos em revistas científicas.